Uma trégua para a Terra
Em: 02/06/2009, às 14H17
Uma trégua para a Terra
Cunha e Silva filho
Somos parte de um todo universal que se move e faz mover suas peças, empregando este termo na multiplicidade de seu potencial metafórico. A falta de uma dessas peças acarreta mudanças, carências e até saudade. Ninguém morre sozinho. Nenhuma morte, mesmo a do mais insignificante indivíduo, nos deixa indiferente.
O mesmo raciocínio se pode estender ao que nos cerca, a fatos, acontecimentos, desastres naturais ou provocados pelo homem universal.
Na história da humanidade há acontecimentos em excesso, ou melhor, por ser dinâmica a vida, aqueles formam uma linha contínua, com poucas interrupções.. Contudo, urge separar acontecimentos que nos trazem o mal, o sofrimentos ,de outros que nos trazem alegria,e, sobretudo, a estabilidade daquele estado de vida que relativamente chamamos de paz. Só existe paz quando cessa o sofrimento.Como a humanidade resulta de uma sequência quase ininterrupta de sofrimentos de toda espécie, a paz somente surge como uma lacuna, um gap no meio das convulsões naturais, ou construídas pela incompetência e os desacertos dos homens. Homo homini lupus. Me inclino a afirmar que o entendimento definitivo entre os indivíduos é uma meta inalcançável. Não existe dialética que resista aos tempos dessa ambígua e trepidante modernidade.
Um desses acontecimentos persistentes na história do Homem são as guerras, as revoluções, os motins, as sublevações. Consideremos, neste artigo, a sua forma mais violenta, a guerra, e, para ilustrar um momento atual, esse início de conflito ideológico entre a Coréia do Norte e a Coréia do Sul. Conflito que se pode irradiar pelos aliados desses dois países cindidos por regimes de governo diametralmente antagônicos. De um lado, o comunismo travestido na sua forma socialista-nacionalista fundamentada no sistema ideológico denominado juche – arcabouço teórico formulado pelo pai de King-jong-il, atual ditador norte-coreano. De outro lado, uma Coréia do Sul com um governo semipresidencialista, apoiado pelos EUA. e com economia voltada para o mercado aberto ao capitalismo.
Acima das divergências político-ideológicas, há um fato indefensável: se os Estados Unidos têm direito a dispor do mais avançado arsenal bélico mundial, por que outros países menores não podem ter a sua própria defesa contra os supostos inimigos mais poderosos, os EUA, aliado da Coréia do Sul?
Por que testes nucleares não podem ser usados por países menores? Por que só grandes potências teriam direito de dissuasão em relação aos pequenos e às vezes indefesos países?
Para o embaixador Arnaldo Carrillo que, não fossem as atuais tensões entre as duas Coréias, iria agora inaugurar a nossa embaixada, a primeira da América Latina em solo norte-coreano, o grande medo dos norte-coreanos é perder o controle do regime ali instalado. Daí a razão também de temerem a ajuda bélica americana aos sul-coreanos.
A ONU - não é difícil perceber -, pensa pelo figurino americano. O que não é correto, ou melhor, justo, é aquele organismo mundial logo querer garrotear um país, boicotando-lhe as possibilidades de estabelecer relações financeiras, comerciais ou culturais com outros países do mundo.
O Conselho de Segurança das Nações Unidas de forma alguma pode agir apenas como porta-voz dos Estados Unidos. Sua função, antes, seria a de procurar, primeiramente, avaliar os conflitos nascentes entre países e, de forma neutra e imparcial, tomar as medidas que se fizerem necessárias. Nunca, porém, ser mero apêndice subserviente aos interesses hegemônicos e geopolíticos norte-americanos.
Isolar um país, ainda que por motivações ideológicas, não é uma postura de um organismo da envergadura da ONU, cujo objetivo precípuo deveria ser o de defender qualquer país de potências que se impuseram aos povos mais fracos pela prática contumaz e anti-democrática do uso da força e da quebra da soberania das nações, ainda mais atualmente quando países como os EUA dispõem de outras formas poderosas de guerrear, servidos que são de aeronaves não-tripuladas capazes de atingir alvos intercontinentais, como se fossem “brinquedos eletrônicos” manipulados por militares de verdade, treinados para agirem com frieza, prontos a apertar botões com capacidade letal em escala planetária. É tempo de reler Bertrand Russell (1872-1970).