Diego Mendes Sousa e Sólima Genuina
Diego Mendes Sousa e Sólima Genuina

Uma Rosa Numinosa

 

Por Sólima Genuina

 

            A poesia é algo íntimo que explode em busca de realização da beleza, elegância, ritmo, cadência, imprimindo sentimentos inexplorados expostos à luz de realidades. O poeta pode não saber de onde vem esse entusiasmo que se lhe expõe em sílabas, em palavras, em ritmos incandescentes, em lirismo ou em Uma Rosa numinosa. Toda rosa por si só já é uma irradiação divina no humano. E sendo numinosa torna-se o reflexo do eu saudoso que se encontra no seio místico do perfeito.

            Tive a honra de receber, autografado com o carinho e o afeto de Diego Mendes Sousa, o livro Rosa numinosa. Não entendo muito de poesias pós-modernistas onde impera a liberdade artística. Mas sou uma criança curiosa e ao pegar o livro do amigo Diego, procurei entender sua arte. Fui buscar algo transcendental para achar justificativa de sua rima escondida nas linhas, na composição de sílabas fortes no meio do verso. Apenas descobri o encantamento embutido na arte do poeta.

            O livro apresenta gestas, andilhas, alba, salmos. Por aí se constata a bravura do poeta frente à disposição que a vida apresenta. Começa com Gesta da água, onde sua infinidade de amar se revela em “Altair é a susana da minha poesia” (p.13), onde a esposa e musa representa o lírio gracioso que faz desabrochar sua arte. Adiante se define: “Eu que sempre / fui água, / a escorrer / pelo sangue das marés.” (p.15). Em Gesta do pantempo (p. 22), vemos: “No fundo, / é tédio. / O desespero / como companheiro, / a tarde desata / os seus tons / de róseo / e cinza.”. Senti a cadência e a rima aí existente entre a sílaba forte do verso. Mais adiante, na mesma gesta: “A poesia é fuga... / Um partir desorientado / a seguir o rumo / do desencontro...” (p.25). Mas acho que para Diego ela é mais um encontro consigo mesmo, com seu mundo interior. Como sabemos, na questão de métrica ou rima, o poeta contemporâneo está liberto desse rigor.

            Seguindo o livro nas Andilhas surradas temos o poema Francisco, o poeta canta: “o céu é um fantasma cruel! / miragem de desertos abertos / que calham o frio / que arde nos olhos” (cadência) “Francisco me ensinou / a não ter medo. / passageiro / urbe et orbi / ressuscitado das tempestades / no desafogo da fé.” (p.55). Não escapa ao poeta o momento do Coronavírus: “Vem / de um tempo escuro, / chega devagar e inóspito” (p.57.)

            Cheguei à Alba da alma dispersa com Efatá! – “Este grumete de Deus imaginou / que o mar fosse algo substantivo e aberto /// Naquela noite calada, na imensidão da paisagem, pensou em sua avó distante” (p.67). Na distante Floresta Amazônica, onde o poeta então se encontrava, pintou uma saudade de suas raízes, onde canta um Memorial ao morto imaginário: “Nublei os meus olhos / na alba da alma dispersa... / Imaginei-me morto.” (p.71). Em Sonata nos rasgos da praia: “Gaivotas bailam desiguais / à sombra do impossível // São afetos vagos / no céu ruído / da fértil alquimia” (p.91).

            O livro encerra com Salmos à gleba das carnaúbas. Em Rio, o poeta enaltece sua natureza: “Desde cedo / desci ao encontro das águas / do meu reino /// e o bojo do Parnaíba / a singrar / as suas miragens / e os seus fantasmas / na maior pressa” (p.109).

           Enfim, descobri a alma inquieta do poeta Diego Mendes Sousa, bem como aprendi a admirar a arte dentro do poema contemporâneo. Em Tambores define “O céu é uma pancada / ligeira... branda... mais leve... / que tem a força de Deus” (p. 111). Que beleza de oração poética!

 

Sólima Genuina é jornalista e escritora. Parnaibana e filha de Benedicto dos Santos Lima.