Uma página para a educação
Por Gabriel Perissé Em: 17/12/2009, às 10H48
Gabriel Perissé
"Saber" é o título escolhido pelaFolha de S.Paulo para a página semanal que destinará à educação. A página estreou na segunda-feira (9/11). Além da educação, pretende abordar temas ligados "à expansão do conhecimento em diferentes fases da vida e faixas etárias", como noticiou um dia antes.
A primeira matéria, dedicada aos "7 mitos na educação", recai no equívoco de olhar isoladamente várias soluções para a educação, definindo sua "verdade" ou sua "mentira", sem admitir (ou até, o que é mais astuto, fingindo admitir) que o problema educacional é realmente complexo, sistêmico, e requer, portanto, visão abrangente.
O "mito" número 1, tal como é formulado – "Só pagar melhor o professor já melhora o aprendizado" –, enfatiza o advérbio "só", a fim de desmontar as reivindicações salariais da categoria. Referindo-se a "pesquisas" que, em geral, são realizadas por economistas do estilo de Naércio Menezes Filho e Gustavo Ioschpe, a jornalista que assina a matéria, Fabiana Rewald, tira a importância do problema e, por tabela, descarta a solução.
Aliás, salário deixa de ser problema. O fato de a média salarial docente no Brasil ser de R$ 850,00 não comove os economistas, que, supõe-se, bem entendem a diferença que alguns reais fazem no bolso... Não comove os economistas e, pelo visto, nem os jornalistas.
O "mito" número 5 – "Gastar mais com educação é suficiente para aumentar o aprendizado dos alunos" – volta a praticar o reducionismo. A expressão "é suficiente" permite relativizar a necessidade de mais investimento.
Amargo saber
Os outros "mitos" vão desenhando, por contraste, uma outra linha de soluções. O "mito" número 2 questiona "facilidades" como piscina, teatro e recursos tecnológicos avançados. Para quê? O "mito" número 3 põe em xeque os "cursos de reciclagem": são teóricos demais. O "mito" número 6 insinua que os problemas familiares não são tão decisivos assim e que as escolas (ou seja, os professores) deveriam dar conta do recado perfeitamente.
O amargo "Saber" reserva dois "mitos" para a progressão continuada e os sistemas de ensino apostilados. No caso do "mito" número 3, a conclusão é que não há grande diferença entre os resultados de aprendizagem no regime de progressão continuada ou no seriado. Tanto faz!
Mas o último "mito", o de número 7, é diferente: "Sistemas de ensino apostilados tolhem a autonomia do professor." É este, enfim, o principal mito a desmontar urgentemente. Apoiada nos estudos de Paula Louzano, a matéria defende, no fundo, que os municípios adotem métodos como os propostos pelo COC, Anglo, Objetivo, Positivo... Uma vez que os professores não sabem ensinar, tornem-se "aplicadores" de receitas já definidas. Para que livros didáticos? Para que projetos pedagógicos? Mitos... mitos...