Uma crônica de Ulysses Bittencourt sobre certos índios da Amazônia
Por Flávio Bittencourt Em: 29/10/2011, às 05H48
[Flávio Bittencourt]
Uma crônica de Ulysses Bittencourt sobre certos índios da Amazônia
Crônica de U. B. sobre os índios mura do Baixo Rio Purus, incluída na coletânea Raiz, de 1985.
LARISSA RAMOS,
UNIVERSITÁRIA AMAZONENSE QUE CONQUISTOU,
EM 2009, NAS FILIPINAS, O TÍTULO DE
MISS TERRA:
(http://2sao.vn/p1004c1006n20100421094501062/huong-gianghh-dep-nhat-chau-a-2009.vnn)
"Praia de Jericoacoara | |
---|---|
Localização | Jijoca de Jericoacoara, Ceará, Brasil |
(TRECHO DO VERBETE 'JERICOACOARA',
DA WIKIPÉDIA,
http://pt.wikipedia.org/wiki/Praia_de_Jericoacoara,
com fotografia ali também haurida)
CRIANÇAS MURA
(AMAZÔNIA BRASILEIRA,
ATUALIDADE):
OBS. - Essa magnífica fotografia ilustra estudo intitulado "Mura", cuja autora é a antropóloga
Marta Amoroso
DE CAMISETA AMARELA, O PESQUISADOR ÍTALO-BRASILEIRO
SAVERIO ROPPA, QUE FOI SECRETÁRIO PARTICULAR DO
ANTROPÓLOGO NUNES PEREIRA [autor de livros como
Os índios Maués, Moronguetá - um decameron indígena e
Panorama da alimentação indígena: comidas, bebidas
e tóxicos da Amazônia] e era amigo dileto de
Ulysses Bittencourt (autor da crônica adiante transcrita),
quando este último ainda vivia [AMBOS RESIDIAM NO
RIO DE JANEIRO-RJ, BRASIL]
(http://www.viajeros.com/fotos/sitios-que-no-olvido-playas-de-brazil-y-america-del-sur/224379,
sendo que ao lado de Saverio aparece Genario Lins, viajante e guia turístico que, no site VIAJEROS PONTO COM, apresentou essa ótima fotografia captada em agradabilíssimo restaurante - com redes disponibilizadas aos clientes! - em Jericoacoara, Estado do Ceará, Brasil, oceanicamente estonteante cidade litorânea onde atualmente mora o casal SAVÉRIO e SUELI ROPPA)
"(...) Foram tais as desordens praticadas [PELOS ÍNDIOS MURA, NO NORTE DO BRASIL], as depredações e saques cometidos, que aqueles indígenas criaram fama de baderneiros e atrasados. Porém, tudo leva a crer que assim procediam em resposta à atitude violenta dos brancos invasores. (...)"
(ULYSSES BITTENCOURT, trecho da crônica adiante transcrita, na íntegra)
"Mulher Mura da aldeia do Jauary - Autaz fotografada por Nimuendajú
possivelmente entre 1923 e 1927"
(http://renatoathias.blogspot.com/2007_06_17_archive.html)
"EM CRÔNICA CUJO ÚLTIMO PERÍODO É VERTIGINOSO E LITERARIAMENTE CHEIO DE VIGOR, ULYSSES BITTENCOURT (1916 - 1993), ANTIGO CRONISTA DO JORNAL A CRÍTICA, DE MANAUS, DESCONSTRÓI, em ato textual, AS PRECONCEITUOSAS CONCEPÇÕES DE ÍNDIOS MURA DESORDEIROS, DE ÍNDIOS MURA BADERNEIROS E DE ÍNDIOS MURA ATRASADOS. TEVE ESSE AUTOR A FELIZ IDEIA DE COMEÇAR ESCREVENDO COMO SE FOSSE ELE PRÓPRIO UMA PESSOA QUE VIA OS MURA COM PRECONCEITO, PARA IR 'superando', AO LONGO DO ARTIGO, O REFERIDO PRECONCEITO, ATÉ QUE, FINALMENTE, TERMINA POR PRODUZIR UM DOS ETNOIDEOLOGICAMENTE MAIS FAVORÁVEIS - num formidável (e quase ufanista) mergulho de exaltação apaixonada da dignidade indígena - EXERCÍCIOS DE ADMIRAÇÃO, PRÓ-MURA, QUE JÁ SE PRODUZIRAM, PARÁGRAFO FINAL QUE SE INSCREVE, ALIÁS, ENTRE OS MOMENTOS NOTÁVEIS DA HISTÓRIA RECENTE DA LITERATURA AMAZONENSE"
(COLUNA "Recontando estórias do domínio público")
"OS ÍNDIOS MURA AINDA EXISTEM - felizmente! -, MAS HOJE SUA QUANTIDADE É MUITO INFERIOR AO NÚMERO DE INTEGRANTES QUE HAVIA QUANDO O invasor - COMO PERTINENTEMENTE ESCREVEU U. BITTENCOURT - CHEGOU, DESTRUINDO VIDAS E DEVASTANDO A NATUREZA (para os "civilizados") HOSTIL"
(IDEM)
"O ANTROPÓLOGO NUNES PEREIRA CHAMAVA OS civilizados DE sifilizados"
(IBIDEM)
HOMENAGEANDO AS MEMÓRIAS DE ULYSSES UCHÔA BITTENCOURT,
MEU PAI, E DE
MANOEL NUNES PEREIRA, DE QUEM TIVE A GRANDE HONRA E O PRIVILÉGIO
DE SER AMIGO E FREQUENTADOR DE SUA CASA, NO BAIRRO DE SANTA TERESA,
RIO, E FRATERNALMENTE ABRAÇANDO
SAVERIO ROPPA (sócio-correspondente do IGHA, Manaus) E SUA ESPOSA
SUELI ROPPA, A QUEM SE DESEJA SAÚDE E VIDA LONGA, tendo sido Saverio
(autor da apresentação
da reedição de O Sahiré e o Marabaixo, feita pela Fundação Joaquim Nabuco, Recife-PE)
o dedicado, competente e culto secretário particular,
por vários anos, do saudoso antropólogo e poeta
Nunes Pereira, E
AOS MURA, MEUS PRIMOS, uma vez que sou descendente de
Lourenço e Felicidade Mello, bisavós (LOURENÇO NICOLAU DE MELLO era o
o filho que o desbravador da região do Lago do Ayapuá,
MANOEL NICOLAU DE MELLO, teve com a
esposa mura que ele conseguiu conquistar quando chegou àquele
grande Lago Amazônico, onde se estabeleceu definitivamente, em 1852)
29.10.2011 - Há uma crônica antológica do escritor amazonense Ulysses Bittencourt a respeito dos índios mura, que foi incluída no livro Raiz (primeira coletânea publicada de crônicas de U. B.), de 1985 - O antológico artigo "Os Mura - tribo extinta" havia anteriormente sido publicado no jornal A Crítica, de Manaus. F. A. L. Bittencourt ([email protected])
"Os Mura - tribo extinta
Ulysses Bittencourt
Os grupamentos Mura caracterizavam-se pelo nomadismo e pelas estrepolias de seus componentes, cuja movimentada presença se fazia notar em vastas extensões do teritório amazonense, principalmente no rio Solimões, entre as bacias do Madeira e Purus.
Foram tais as desordens praticadas, as depredações e saques cometidos, que aqueles indígenas criaram fama de baderneiros e atrasados. Porém, tudo leva a crer que assim procediam em resposta à atitude violenta dos brancos invasores. Consta que em certa época permaneceram por algum tempo na margem do rio Negro, em frente à Vila da Barra, quando a travessia se tornou impraticável para os habitantes da futura cidade de Manaus.
O tempo e as circunstâncias os foram vencendo e os últimos remanescentes se fixaram no Lago do Ayapuá, à margem esquerda do rio Purus, no Município de Manacapuru [ATUALMENTE, O AYAPUÁ PERTENCE AO MUNICÍPIO DE BERURI, QUE HÁ DECADAS FOI EMANCIPADO DE MANACAPURU, JÁ TENDO SIDO MUNICÍPIO AUTÔNOMO. (*)]. Existe um trabalho do Prof. Agnello Bittencourt, publicado no 'Jornal do Comércio' de Manaus, em 30 de outubro de 1923, sob o título 'Os Muras do Ayapuá', contando a respeito dos membros da velha tribo naquela região, com os quais o autor conviveu durante mais de três anos, no final do século passado. Declara o articulista: 'A ocupação desses indígenas é, ali, imemorial. Quando o Capitão Manoel Nicolau de Mello, em 1851, pernetrou e explorou aquela bacia lacustre, lá encontrou os muras, que de bom grado, receberam a gente do rio Negro, conduzida por aquele intemerato pernambucano, para o trabalho extrativo da castanha e de outros produtos florestais', (assim como ma pesca do pirarucu e peixe-boi). E prossegue: 'Travaram boas relações, não constando que tivesse surgido a mais leve desavença'. À época eram cerca de duas centenas de silvícolas. O Prof. Agnello afirma que os muras do seu conhecimento tinham índole diferente dos que dominavam os rios Solimões e Madeira. Pela má fama destes últimos, os do Ayapuá não gostavam de ser chamados muras, até porque o termo continha um significado depreciativo de qualificação do que como nome próprio da tribo.
Os indígenas agrupados na propriedade do Cel. Mello, e em torno dele, diferenciavam-se dos demais do seu grupo étnico, principalmente pelos hábitos de conduta e fixação à terra. Quando muito, mudavam-se de um para outro lado do lago. Segundo informa ainda o Prof. Agnello, em 1923 restavam apenas uns trinta ou quarenta indivíduos morando em malocas, próximas das moradias dos cariuas, isto é, dos brancos, proprietários dos castanhais. Entre eles estava o velho Raimundinho, que morreu com mais de cem anos, já muito definhado e era transportado pelos parentes, para onde fossem, num aturá preso às costas dos rapazes, como se se tratasse de uma criança de colo.
Já em janeiro de 1969, quando estive, novamente, no Lago do Uauaçú, acompanhado da família, vimos uma índia de cerca de setenta anos, trabalhando ainda na agricultura, e que diziam ser a última abencerragem do local. Falava em português entremeado de palavras tupi, sendo, a princípio, um tanto difícil compreender sua algaravia. Oferecemos-lhe sabonetes perfumados, o que foi muito do seu agrado, e logo pediu-nos cachaça. Não admitiu sob nenhum pretexto que a fotográfassemos (e só o fizemos pelas costas, sem que pressentisse).
Lembro, também, de um episódio curioso, quando passamos no Ayapuá mais do que um ano ininterrupto, em 1922/23: certo dia uma índia procurou minha mãe e ofereceu-lhe ovos de galinha por preço muito inferior ao corrente. Julgando tratar-se de ignorância, minha mãe alertou-a a respeito, mas a índia, rindo com seu jeito malicioso, declarou com toda a franqueza saber do fato e assim fazer porque, além de ficar amiga, receberia melhores recompensas, o que realmente aconteceu; levou o preço pedido e mais uma infinidade de pequenas coisas...
O certo é que os grupos indígenas dos mura, numerosos quando da ocupação da Amazônia, estão extintos [O AUTOR REFERE-SE AOS MURA DA REGIÃO DO BAIXO PURUS, onde ainda há índios, em localidade denominada Terra Vermelha, porém de outra etnia autóctone]. Os descendentes, não se considerando ligados à tribo, foram-se mesclando aos portugueses e nordestinos colonizadores. Com a crise econômica do declínio do valor da borracha (pois na região há, também, seringais) foram suprimidas a sub-delegacia de polícia, do Ayapuá, as duas escolas existentes e as subvenções oficiais para os 'navios de linha' para o Lago e, com isso, os moradores dali se foram transferindo gradativamente para Manaus, onde vieram aumentar o número de bairros populares. Um dos hábitos antigos era o de mandar para a capital as filhas moças, confiadas a famílias respeitáveis, para, no serviço caseiro, aprenderem utilidades domésticas. Aprendiam a ler e escrever, tornavam-se muitas vezes amigas de toda a confiança, cuidavam das crianças, várias casaram com bom enxoval e a amizade dos patrões, aos quais poderiam sempre recorrer como fonte de conselhos e proteção. Algumas serviram como amas-de-leite e acompanharam duas ou mais gerações de uma casa.
Hoje, no Ayapuá, e quiçá em todo o Amazonas, há caboclos autênticos, descendentes às vezes imediatos de tribos destacadas, mas os mura, propriamente, constituem apenas o eco de um passado altaneiro."
(BITTENCOURT, Ulysses. Raiz [COLETÂNEA DE CRÔNICAS PUBLICADAS EM A CRÍTICA], Rio de Janeiro: Copy & Arte, 1985; diagramação e produção gráfica: Jocenir Ribeiro [A CRÔNICA TRANSCRITA CONSTA ÀS PP. 48-49])
(*) - Prefeito do Município do Aiapuá, mas que raramente ia ao Lago, foi o saudoso jornalista manauara Jovino Lemos (irmão do na época famoso repórter [DA REVISTA O CRUZEIRO] Ubiratan de Lemos), como lembrou U. Bittencourt, em outra crônica (que será brevemente aqui divulgada).
GLOSSÁRIO
maloca
maloca
ma.lo.ca
sf (araucano malocan) 1 Habitação de indígenas da América. 2 Bando de silvícolas (ÍNDIOS) do Brasil. 3 Aldeia de índios. 4 Grupo de pessoas que não inspiram confiança. 5 Gado que os vaqueiros reúnem por ocasião das vaquejadas, e conduzem para os currais. 6 Gado que costuma pascer em certos e determinados pastos nas fazendas de criação. 7 Reg (Sul) Grupo de bandidos ou salteadores. 8 Reg (Alagoas) Esconderijo feito na areia da praia. 9 gír Morada eventual de menor vadio ou de malandro. 10 Casa pobre, de favela. 11 Favela.
(DICIONÁRIO MICHAELIS online,
http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=maloca)
cariua
cariuá
ca.ri.uá
sm (tupi karaíua) Nome dado ao branco pelo mestiço ou pelo índio e que significa poderoso, conquistador.
(http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=cariuá)
aturá
aturá
a.tu.rá
sm (tupi aturá) Cesto cilíndrico que os indígenas trazem às costas, suspenso por uma embira passada à volta da cabeça, e que serve para transporte. Na Amazônia, usam-no para transportar mandioca.
(http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=aturá)
algaravia
algaravia
al.ga.ra.vi.a
sf (ár al-´arabiyya) 1 Linguagem árabe. 2 Confusão de vozes. 3 Linguagem confusa e ininteligível. Var: algravia.
(http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=algaravia)
abencerragem
abencerragem
a.ben.cer.ra.gem
adj m+f (ár Ibn-as-sarrâj, np) V abencerrage.
(http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=abencerragem)
abencerrage
a.ben.cer.ra.ge
adj m+f (ár Ibn-as-sarrâj, np) Etnol Concernente ou relativo aos abencerrages, tribo árabe que dominou em Granada, no fim do séc. XV. O último abencerrage: o derradeiro paladino ou defensor de uma idéia. É também o nome de uma obra do escritor francês Chateaubriand. Var: abencerragem.
MODELO E UNIVERSITÁRIA AMAZONENSE
CONQUISTA O TÍTULO DE MISS TERRA 2009,
NAS FILIPINAS:
LARISSA RAMOS, NASCIDA EM MANAUS,
EM 4.2.1989:
Larissa Ramos, Hoa hậu Trái đất
(http://2sao.vn/p1004c1006n20100421094501062/huong-gianghh-dep-nhat-chau-a-2009.vnn)
"Larissa [a morena de cabelos compridos, no centro da foto], com colegas do curso de Edificações do CEFET" (SERAFIM CORRÊA - cujo apelido é Sarafa -, ex-prefeito de Manaus,
http://www.blogdosarafa.com.br/?p=4659&cpage=1)
COROAÇÃO DE MISS TERRA 2009:
LARISSA RAMOS, QUE ESTUDOU NA
ESCOLA TÉCNICA, NO CENTRO DE MANAUS
(AV. SETE DE SETEMBRO)
["BRASILEIRA LARISSA RAMOS É
COROADA MISS TERRA" (nas Filipinas,
em 2009)]: