Rogel Samuel
Daqueles belos seres a volta ansiamos, Pra que suas belas rosas nunca morram. Pois quando cair do tempo o Outono Guardemos sua beleza de memória.
Manuel Bandeira parecia cansado, quando o vi. Festejo solitariamente 42 anos de poesia. O primeiro poema foi publicado no dia 8 de fevereiro de l959, em O jornal, de Manaus. Não um poema que envergonhe muito, mas com os lugares-comuns da poética, poetizando e repetindo o já lido. Mas poesia é o que [ainda] não existe...
Mas Tu, que só a teus tão belos olhos amas, Apenas te alimenta o próprio engano. E onde abundância existe colhes fome. Pois Tu, do mundo agora o ornamento,
Por isso, festejo silenciosamente 42 [na época] anos de poesia. Não triste, porém. Afinal, escrevi. Publiquei. Andei em antologias. A Poesia, como a riqueza, não tem quem a quer? Há poetas que morrem sem a ver. Outros escrevem obras-primas.
Em ti sepultas teu contentamento. E da natureza egoísta que há contigo Piedade não tens do mundo e nem lamentas, Nem colhes do chão do canto o que te é devido. Que faz o poeta menor? "Relê as folhas que já foram lidas". Variação do já feito e lido. A musicalidade de Casimiro lembra Manuel Bandeira. "Hoje, amanhã e sempre...". Conheci-o bem velho. Morava em frente à FNFi. Fomos visitá-lo. Batemos à porta. Ele abriu. "Que vocês querem?", pergunta, com a voz nasal. Contamos quem somos etc. "Estou doente, não dá" - pede licença, fecha a porta. Creio que estava só. Havia um tapete oriental na parede, um vento gelado saía, vento de coisa velha, mofo. O vento gelado da morte. Vestia pijama de listas. Parecia cansado. "Hoje, amanhã e sempre / teu nome será para nós, Manuel / Bandeira". Manuel era próximo da morte.
Diz Shakespeare,
From fairest creatures we desire increase, That thereby beauty’s rose might never die, But as the riper should by time decease, His tender heir might bear his memory: But thou, contracted to thine own bright eyes, Feed’st thy light’s flame with self-substantial fuel, Making a famine where abundance lies, Thyself thy foe, to thy sweet self too cruel Thou that art now the world’s fresh ornament And only herald to the gaudy spring, Within thine own bud buriest thy content And, tender churl, mak’st waste in niggarding. Pity the world, or else this glutton be, To eat the world’s due, by the grave and thee.