Um soneto de Shakespeare

Um soneto de Shakespeare


Rogel Samuel



Ele começa por belas criaturas cujas formosuras de juventude queremos que nunca morram, que nunca cheguem ao outono, ou que, quando cairem as flores, guardemos na memória a sua bela herança de beleza.

Depois, pergunta clássica: por que te guardas, ó jovem, para quê? para quem? por que a ninguém amas, por que a adversidade já que és o ornamento do mundo? Guardas tua beleza para a tua própria velhice? Cantor ou cantora da primavera, egoísta, esperas pelo túmulo para colher os louros que te foram servidos...

Traduzimos:



SHAKESPEARE



Daquelas belas criaturas retorno ansiamos,
A que suas belezas nunca morram
E quando cair do tempo o Outono
Guardemos na memória sua herança.

E Tu, que só teus belos olhos amas,
Te alimentas apenas de tua própria chama
E produzes fome onde abundância existe
Por que teu suave ser é tão adverso?

Pois és do mundo agora o ornamento
És o único cantor da primavera
E recusas em ti o teu contentamento

Egoísta da natureza que há contigo
Do mundo não tens piedade, nem lamentas
Se colher no chão do túmulo o que te foi servido

(trad. Rogel Samuel)