NOTA AOS MEUS ESTIMADOS LEITORES:

O TEXTO ABAIXO FARÁ PARTE DO MEU LIVRO

"LINGUA(GEM), EDUCAÇÃO, ENSINO E PERFIS"

UM RELACIONAMENTO NEM SEMPRE FÁCIL

Cunha e Silva Filho

Na história do ensino em nosso país - e creio que, em escala mundial, notadamente no Ocidente, o relacionamento entre mestres e aluno nem sempre foi tranquilo, sedo muitos os exemplos de incompreensões e sobretudo de injustiças que de parte a parte toldaram a passagem da inexperiência para a experiência. A transmissão do saber, da informação e da reflexão crítica, infelizmente, repito, não se realizou de forma pacífica e aglutinadora.

Retrocedendo no tempo, passo a mencionar adiante alguns poucos relatos paradigmáticos de situações pessoais por mim presenciadas ou de que tive notícias desde os bancos ginasianos até à universidade, omitindo obviamente nome e dados precisos a fim de manter o seu direito à privacidade.

Vejamos, então, alguns deles que resistiram ao esquecimento, como a história daquele adolescente ginasiano tímido e aplicado, quando sofreu a primeira decepção e constrangimento de um professor de português didaticamente despreparado e indelicado, o qual, dirigindo-se ao aluno, perante a turma toda, dissera que o tímido aluno, filho de professor, não poderia ignorar um ponto qualquer de gramatica que estava sendo estudado. Essa postura do professor de português ferira a autoestima do aluno por muito tempo até ao ponto em que o aluno decidira se tornar um grande estudioso da língua portuguesa muito elogiado por todos os outros professores durante o curso ginasial e, depois, no curso científico.

Uma outra situação anômala foi a de um professor de latim que, no final dos anos cinquenta, em célebre colégio piauiense da capital ,, fora agredido por um aluno certamente por alguma problema relacionado ou a problemas de disciplina. Ou o caso daquela aluna na universidade que, sentada ao meu lado, criticava, ironicamente, a pronúncia de uma palavra em inglês proferida em aula por um grande linguista brasileiro. Ora. Quanta pretensão e arrogância dessa aluna que criticava justamente um estudioso da língua inglesa e nela escrevia como se fosse um scholar nativo. Eu não resisti e defendi o meu professor com veemência.

Outro exemplo foi um o abaixo-assinado contra uma eminente professora de língua e literatura inglesa, que nos dava num semestre aulas de composição inglesa. Alegavam os mentores do abaixo-assinado “incompetência “ (sic!) da professora logo contra uma mestra dedicada que, poucos anos depois, para a minha alegria, vim a saber que a referida professora, prosseguindo seus estudos acadêmicos, tinha realizado com brilho pesquisa de pós-doutorado na Inglaterra. Através da imprensa, ainda fiquei sabendo que se tornara um exímia conhecedora e tradutora de James Joyce() O mundo dá, sim, muitas voltas...

Mais um exemplo de situação esdrúxula, no campo pedagógico do ensino-aprendizagem foi aquele comentário jocoso que, de boca em boca, se espalhara entre os estudantes de português-inglês de uma universidade pública, dizia respeito a uma suposta pronúncia errada do advérbio inglês “perhaps” (“talvez”), usada pela professora titular de língua e literatura inglesa. Triste e estulta ignorância discente! .A pronúncia era correta sim, e empregada pelo que há de melhor do king’s English londrino! Tais supostos erros cometidos por estudantes metidos a sabichões se multiplicariam ad nauseam.

Das injustiças cometidas por alunos ou de professores contra alunos ou até de professores contra professores pode-se tirar uma ilação que, a meu juízo, vale para todos os casos tanto ao nível médio quanto ao nível superior. Há limites que de uma ou outra parte devem ser autoimpostos, e aí entra o bom-senso e, máxime, uma norma ética que deve ser resguardada a todo custo.

Em princípio, todo educador deve respeitar a dignidade pessoal do do educando, não o expondo a constrangimentos em publico , assim como o discente devem por se turno, ter a consciência de que a figura do mestre é soberana e, ao lidar com as críticas, o aluo deve se acautelar e assumir uma postura ética e um compromisso de não prejudicar ou constranger a imagem de um educador sob pema de incorrer no risco de cometer leviandades imperdoáveis. , com consequências traumáticas para a saúde moral, física e muitas vezes financeira do docente.

Andam erradas as instituições privadas que, por medo de perderem alunos, concedem demasiada tolerância e poder, permitindo que eles se arvorem em juízes implacáveis de professores. Quantas vezes esse tipo de expediente avaliativo é usado par que alunos imaturos e por vezes de má fé tripudiem sobre a competência dos mestres! Que as faculdades privadas revejam suas formas de avaliar seus professores.

Os professores em tempo de de aceleradas mudanças desencadeadas por novos padrões de comportamento de uma sociedade cada vez mais permissiva, assistem a um processo de esvaziamento da sua imagem, outrora respeitada e admirada pelo alunado, quando sadios hábitos eram solidamente transmitidos pelos nossos antepassados no domínio da educação familiar, independentemente do nível social do aluno.

Alunos e professores devem, urgentemente, procurar novas formas de interação que sejam pautadas no respeito recíproco, numa parceria franca, amiga, renovada, mas sem confundir seus papéis. Ou seja, essa interação, no seu bojo, não pode extrapolar suas fronteiras de atuação, sabendo onde uma acaba e outra começa, não permitindo que os dois agentes envolvidos usurpem os direitos e obrigações de cada um sob pena de provocar uma ruptura entre si com as consequências desastrosas que tal desequilíbrio ir causar à vida do aluno e do professor.

Que os novos tempos utilitaristas e robotizados das relações interpessoais retomem seu antigo epicentro devolvendo a mestres e alunos o elo perdido de seus valores morais e afetivos.