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Luiz Filho de Oliveira

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O poeta estadunidense Counte Cullen foi um dos muitos poetas afrodescendentes que apareceram nas bancas e nas livrarias, após a eclosão do Negro Renaissance, movimento afroamericano, surgido em New York, na década de 1920, no bairro do Harlem, o gueto dos negros estadunidenses que vieram do Sul do país por causa do término da Guerra de Secessão. Não ficou tão conhecido como o seu compatriota Langston Hughes (The Weary Blues, 1926) ou mesmo como o poeta Claude MacKay (If We Must Die, 1919, e Harlem Shadows, 1922), um dos precursores desse “Renascimento Negro” do Harlem.

             O que Countee Cullen tem em comum com esses poetas e outros escritores, músicos, atores e artistas plásticos estadunidenses dessa época é a “tomada de consciência de ser negro”, advinda, principalmente, das ideias de Willian Edward Burghard Du Bois, a quem Zilá Benrd chamou o “pai do movimento”. Essa postura dos escritores afroamericanos despertou interesse dos editores brancos; com isso, a literatura afrodescendente tomou novos rumos nos Estados Unidos e, consequentemente, em outros países.

Não foi à toa que movimentos posteriores como o Indigenismo haitiano ou o Negrismo cubano (oqual nos legou um poeta do porte de Nicolas Guillén, Motivos de son, 1930) ecoaram também na Europa com a Negritude francófona em Paris (Aimé Cesaire, Leopold Sedar Senghor e Leon Damas). Ecos do Negro Renaissance também são sentidos nos poemas do brasileiro Solano Trindade (Cantares do meu povo, 1961), a quem os estudiosos apontam como o primeiro em nossas letras a assumir essa mesma postura dos escritores negros estadunidenses; a despeito, é claro, de ter havido em nosso país , no século XIX, alguns precursores dessa atitude, um deles é o poeta Luiz Gama.

O certo é que as vozes negras desses poetas todos cantam, a partir da década de 1920, quase em uníssono, tanto a assunção da negritude e da herança africana quanto as queixas de uma gente atingida pela Diáspora trágica, que foi marcada na pele de povos da África, em tantos países, sobretudo, nos das Américas. Canta-nos, Countee, o teu canto negro:

  

INCIDENT

 

Once riding in old Baltimore,

Heart-filled, head-filled with glee,

I saw a Baltimorean

Keep looking straight at me.

 

Now I was eight and very small,

And he was no whit bigger,

And so I smiled, but he poked out

His tongue and called me: “Nigger”.

 

I saw the whole of Baltimore

From May until December:

Of all the things that happened there

That’s all that I remember.

 

 (Countee Cullen)

 

 

INCIDENTE

 

Certa vez andando em Baltimore,

Tão alegre, em regozijo,

Vi um baltimoreano

Mantendo o olhar em mim, fixo.

 

Tinha oito, eu era pequeno,

E o seu tamanho era o mesmo;

Então eu sorri, mas ele

Deu-me a língua e disse: “Negro”.

 

Eu vi Baltimore toda,

Desde maio até dezembro:

De tudo o que ocorreu lá,

Isso é só o que eu lembro.

 

(Tradução de Luiz Filho de Oliveira)