Cunha e Silva Filho


                        O mundo está cercado de objetos artísticos de alta ou altíssima qualidade. Digamos, por exemplo, a Arte que, se manifestando no teatro ou na ficção, dramaturgia, cinema, telenovelas e em outras formas de expressão, nos leva à catarse, ao choro, às lágrimas, a um sentimento verdadeiro da dor alheia, na práxis do nosso cotidiano insosso, a dor alheia, o sofrimento da perda inexorável de entes queridos, pouca ou quase nenhuma reação de perplexidade provoca nas pessoas estranhas. A dor alheia já não nos leva às lágrimas. É apenas uma constatação de uma realidade miserável e abandonada na anomia e indiferença das grandes cidades. Os mortos na Arte nos comovem, assim, muito mais do que na dura realidade dessa vida severina.
                       Há pouco, um jovem arquiteto, na Zona Sul do Rio de Janeiro, em bairro elegante, dirigindo seu carro em direção à residência, quase ao chegar a esta, se vê abordado por dois facínoras usando motos. O jovem arquiteto não quis entregar o que lhe pediam, se o carro, se dinheiro, se o relógio, se o que não sei mais... O arquiteto reagiu aos assaltantes malditos mas levou a pior. Armados, um deles lhe deu um ou dois tiros e os dois patifes partiram para as profundezas do inferno terreno. O arquiteto, gravemente ferido, foi levado para um hospital. Antes teve duas paradas cardíacas.  Ao chegar ao hospital, não suportou e veio a falecer.
                    É isso, leitor, o que está ocorrendo aqui no Rio de Janeiro e em outros lugares do país, sendo que, no Rio, a situação é gravíssima. A morte do arquiteto não passa de um quadro deplorável e metonímico de uma realidade que se alastra e se instaura num todo do tecido social do país. Morre-se à toa no Brasil. 
                  Quem são os culpados? Eis uma questão intrincada e até hoje insolúvel. As autoridades policiais, ao que tudo indica, já se acostumaram a mortes por assassínios de inocentes. A família reclama, dá entrevista aos canais de televisão. O morto é sepultado e fica por isso mesmo. São crimes que atingem todas as classes sociais.
                 Já é tempo de que os órgãos de segurança pública despertem .para essa situação desastrosa da qual também as próprias autoridades policiais não estão imunes. O mal circunda por toda a parte. É preciso aumentar as blitz sobretudo abordando indivíduos -, não importa se jovens ou mais maduros -, e revistá-los com rigor. A imagem de motociclistas há bom tempo já se confunde com a de bandidos. As pessoas comuns, quando percebem que motos estão se aproximando delas, já sentem um certo mal-estar, supondo que ali vem mais um assaltante, mais um criminoso, mais um meliante. Nas periferias, da mesma sorte, a polícia deveria fazer abordagens criteriosas revistando pessoas, sobretudo jovens, que estejam dirigindo esses veículos. Nos morros, principalmente, a entrada e descida de motos deve ser constantemente vigiada pelo policiamento.
                Além de estarem se associando à imagem de marginais, as motos são meios de transporte que em geral não respeitam sinais, andam a toda velocidade, pondo em risco a vida dos transeuntes. Deve haver urgentes providências no sentido de até diminuir a produção desse tipo de transporte, sobretudo nas grandes cidades. Deve haver todo rigor na concessão de carteiras de habilitação para motociclistas.
               Se algumas dessas providências que acima sugeri não forem tomadas, além de outras advindas da experiência dos órgãos de transporte municipais, estaduais e federais, mais mortes aumentarão as estatísticas oficiais de crimes hediondos que se alastram pelas ruas e estradas das grandes cidades brasileiras, sobretudo no Rio de Janeiro e São Paulo.
              Não é possível que o país esteja continuamente sofrendo perdas irreparáveis de jovens que são covardemente assassinados hoje em dia. Não é possível que a sociedade civil fique de braços cruzados e não exija de nossos governantes medidas austeras de modo a reduzir ao máximo esses crimes covardes. 
              Grandes investimentos são necessários a serem injetados na formação integral, via educação, de nossas crianças a fim de que não se tornem jovens e adultos promíscuos, homicidas e indivíduos destituídos de qualquer dignidade e amor ao próximo. São monstros que aí estão soltos esfolando incautos e indefesos . Eles têm armas, nós, não. A raiz do mal está precisamente nesta desigualdade. 
              Por conseguinte, o combate ferrenho e aguerrido ao contrabando de armas nas fronteiras não pode sofrer solução de continuidade. O Brasil é um país a caminho de maior prosperidade. Possui suas Forças Armadas, competentemente treinadas para servir em várias causas e em vários frentes em benefício da paz de seu povo.

              Essa contribuição das Forças Armadas no setor social é um dos mais importantes trunfos de que dispomos no combate contra a criminalidade em larga escala, no combate ao tráfico de drogas e principalmente na defesa das vidas de nossos cidadãos, de nossas famílias. Se a polícia estadual não está dando conta da seguranças dos brasileiros, as Forças Armadas, sobretudo o Exército, devem dar a sua contribuição indispensável na luta contra o crime.
            Que a data festiva da nossa Independência, que completa mais um ano no próximo dia 7, seja a ocasião mais do que oportuna para que toda a estrutura do Estado Brasileiro seja alertada e desenvolva ações efetivas e drásticas contra criminosos que continuamente têm ceifado as vidas de tantos jovens e adultos saudáveis e promissores. Em luto, a família brasileira.