Um país chamado Brasil
Por Cunha e Silva Filho Em: 23/09/2021, às 23H29
NOTA PRÉVIA:
Vou republicar, leitor, mais alguns antigos artigos a fim de que possa verificar o quanto o passado tem a nos ensinar politicamente, mesmo levando-se em conta que este nosso país teima em não se corrigir : a mesma esculhambação política, os mesmos descalabros, as mesmas práticas iníquas, o mesmo clientelismo, nepotismo ( o último dos quais é o do clã do Anticristo (aproveito o epíteto que um escritor brasileiro, em artigo à Folha de São Paulo, deu ao atual presidente brasileiro).
Os descalabros dos governos pouco mudaram, tanto no passado quanto na atual fase do domínio desse Anticristo acompanhado de seus seguidores, anjos mefistofélicos: aduladores servis, mentirosos useiros e vezeiros de fake news aprendidas com o Anticristo yankee Trump, indivíduos que se comportam como o fez o atual Ministro da Saúde, fazendo gesto obsceno, dentro de um carro da comitiva presidencial em Nova York, para manifestantes brasileiros contrários ao governo bolsonarista. Isso não é compostura digna de um ministro de Estado.
Um país chamado Brasil
Cunha a e Silva Filho
Abro a Folha de São Paulo que eu mesmo, me deslocando de casa, fui comprar na banca em frente do Shopping da Tijuca. O jornaleiro, calado, me entregou o exemplar do jornal, me dando um troco. Saí da banca neste domingo bem próximo do Natal. Na ida e na volta, alguns pensamentos íntimos, portanto, inconfessáveis.. Pensei na vida e ao mesmo tempo me lembrei logo há quanto tempo passou a bater o meu coração. Senti cansaço, de mistura com um pouco de tédio e amargura. Se fosse um poeta romântico, talvez me assaltasse o sentimento do spleen...
Os anos passam. As pessoas que encontrei no caminho de ida e de volta pra comprar o jornal quiçá jamais verei de novo. Sinto-me um solitário habitante de uma ilha cercada de humanos, ou dos “esqueletos humanos” borgianos, por todos os lados. “Oh, humanidade”, como gosto de repetir esta frase que já se me tornou quase um bordão, apanhada em Melville! Não vou dizer o título da obra do autor norte-americano que li no tempo de universitário porque não quero dar mole (brincadeira minha) aos pesquisadores caçadores de frases de escritores famosos a serem usadas em epígrafes de seus ensaios, poesia ou ficção. Quero que se deem ao trabalho insano de fazer como eu fiz com respeito a uma epígrafe de Shakespeare que ninguém soube me informar (nem uma doutora em literatura inglesa de uma grande universidade conseguiu localizar os versos que aparecem como epígrafe em Da Costa e Silva(1885-1950), no livro Verônica, de 1927.
Foi uma luta homérica encontrá-la. Quase que me dera vontade de ler toda a obra do bardo inglês (Não a li ainda por inteiro, confesso meu desleixo imperdoável) de Straford-upon-Avon, cuja data natalícia, por sinal - li em O Globo do dia 14 passado, - , vai ser comemorada em 2014. Serão homenagens justíssimas as que lhe serão rendidas pelos 450 anos do nascimento do velho conhecedor da alma humana. A reportagem tem um título que lhe resume a importância de escritor universal : “Moderno aos 450 anos depois”. Mas, mudemos de assunto, que isso é apenas uma digressão à Machado de Assis (1839-1908), ou quem, sabe, à Sterne (1713-1768).
Um cidadão brasileiro não pode ficar alheio aos erros e desacertos cometidos por governos, sobretudo pelo que aí está. Até agora, não consigo compreender por que , no exterior , há tanta gente louvando o lulismo e ainda afirmando que o governo do Sr. Lula é de esquerda. Que diabo de esquerda é esta que não com sigo vislumbrar até usando de uma lupa? Esquerda que privatiza, que mantém um Congresso cheio de maracutaias?
Gostaria de que esses sociólogos, filósofos e cientistas políticos estrangeiros, bem postos em universidades, sobretudo do Velho Mundo, viessem acompanhar o dia-a-dia do brasileiro a fim de que tomassem conhecimento nas fontes originais dos grandes males que ainda atolam o país em lamaçais de vária natureza semântica. É certo que alguns passos no setor social tiveram ganhos, e mesmo acho que os programas sociais tipo Bolsa-Família tenham melhorado a vida das faixas mais humildes da sociedade. Mas, acautele-se para o seguinte: o governo investe maciçamente em publicidade e esta tem efeito inequívoco sobre espíritos desavisados ou ignorantes da massa da população.
Entretanto, um país não se constrói só de melhorias sociais. “Nem só do pão vive o homem”. É preciso que seja íntegro, dê exemplo de probidade de gerenciamento público e de dignidade no trato com o setor privado, não permitindo que com este uma simbiose de ilicitudes coexista.
Não é possível que se mantenha um Congresso onde campeia o descaso com a população brasileira que assiste diariamente a notícias que nos envergonham como nação. O mal é tão amplo, tão profundo que atinge praticamente todos os três poderes, a tal ponto que o brasileiro médio desacredita em tudo que se associe aos governos federal, estaduais e municipais. As eleições estão às nossas portas e é chegada a hora de mudarmos o nosso comportamento de eleitores, repensarmos no bem do país e retirarmos da Câmara Federal e do Senado os políticos de fachada, os maus políticos, com perfis de mensaleiros, que ali estão unicamente para tirar vantagens de um povo que não lê, não tem visão política nem compromisso com o seu próprio país.
Veja, por exemplo, o que há poucos dias ocorreu com a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro no tocante à pauta de aumento de salários do governador, dos deputados. Como se sabe, são os deputados que determinam o próprio aumento de seus salários e mordomias apoiados em não sei quê lei ou estatuto interno, privilégio este que deveria ser de imediato extirpado de todas as casas legislativas e em todos os níveis de representação popular). Acontece que, quando o governador tem seu salário aumentado, toda a cúpula do governo, numa reação em cadeia, é também beneficiada com aumentos e estes não são migalhas daquelas que são dadas para os barnabés, os médicos, os professores, os funcionários em geral de hierarquia inferior.
O Brasil, como se pode ver, pouco mudou em diversos setores. A modernização aqui trouxe proveitos, sim, ninguém pode negar. Contudo manteve e até acirrou vícios políticos nefastos: corrupção em elevado grau, oligarquia, clientelismo, fisiologismo, votos comprados e o pior de tudo da vida pública: a impunidade aos que, no poder, cometem desídias, malversações, peculato.
O país é contraditório em seus ganhos e perdas. Tem uma natureza barroca nas suas formas de vida e de comportamento, e, além disso, oferece uma enigma a ser decifrado pelos estudiosos e analistas. Nele cabem tantas definições seculares, que vão do ufanismo ingênuo do Conde Afonso Celso, até definições de há muito conhecidas de seu povo e do seu destino: “País do Futuro (de Stefan Zweig), terra do “homem cordial, ” expressão cunhada e só entendida ao pé da letra quando não foi esta a intenção real que lhe deu o historiador e crítico Sérgio Buarque de Holanda. País do samba, país do carnaval, país da corrupção, da malandragem de cima e de baixo, país macunaímico (em alusão ao romance modernista Macunaíma, de Mário de Andrade) terra dos bruzundangas (em alusão à obra de Lima Barreto Os bruzundangas) país do futebol e de suas torcidas fanáticas até ao extremo de se tornarem criminosas. País exuberante, desde as suas riquezas naturais até as curvas sensuais depreendidas pela arquitetura de Oscar Niemayer.
Nos contrastes e confrontos, o Brasil mantém ainda um alto índice de analfabetos funcionais e um elevadíssimo índice de criminalidade, de violência de vária natureza, entre familiares, entre estranhos, protagonizada em assaltos, estupros, excesso de velocidade nas estradas e nas ruas da cidade motivado por usos de álcool, drogas e irresponsabilidade de motoristas. País em que adolescentes criminosos matam a sangue frio crianças, jovens, adultos e idosos e, o que é mais gravoso, ficam impunes protegidos que são pela lei da menoridade penal.
De resto, a impunidade da nação brasileira tem um alcance tão tentacular que não pune os crimes de colarinho branco, sobretudo de políticos estelionatários e vendilhões. Arranjaram um meio de prender os corruptos de alto coturno através da prisão semi-aberta e de mordomias mantidas intramuros prisionais quando os presos que vêm da pobreza chafurdam em prisões que mais são campos de concentração nazista, Um ilustre Ministro do Supremo Tribunal Federal, estarrecido, confessou que nossas prisões são uma vergonha para a nação.
Na saúde estamos longe de termos um tratamento humano, pois nos faltam hospitais, médicos, infraestrutura nos que já existem e, por isso, os hospitais brasileiros, - insista-se – os públicos em geral, são uma espécie de antecâmara da morte por falta de meios de tratamento em tempo devido e em leitos em quantidade necessária. Enquanto isso, a cúpula do poder em Brasília tem jatinhos da FAB para atender a presidente do Senado e a outros detentores de altos cargos federais com finalidades fúteis como casamentos de amigos correligionários ou, como noticiou a imprensa televisiva, para fazer implante de cabelo do Renan Calheiros.
Ora, leitor, o gasto faraônico com esses políticos é um escarro no rosto dos cidadão brasileiro, sobretudo dos despossuídos de saúde, transporte e educação de qualidade. Oh, como gostaria de que que os brasileiros atentassem para essa ciranda de descalabros produzidos pela República do Planalto e se mobilizassem fraternalmente para alijar de uma vez por todas toda essa corja de parasitas do Erário Público!
É por isso que tanto inveja – saudável inveja! - me causa saber que em alguns países tenham nascido figuras tais como um Gandhi, um Lincoln, um Benjamin Franklin, um Churchill, um Franklin Delano Roosevelt, um Martin Luther King, um Mandela e alguns poucos outros homens eminentes que têm uma nobre missão a cumprir com o seu povo e o bem-estar das suas nações.