ELMAR CARVALHO

 

No sábado, dia 17, eu, a Fátima, o Canindé Correia e o Vicente de Paula (Potência) fomos a Barra Grande, em demanda da Maison Fontenele, que passou por uma ampla e radical reforma, que lhe aumentou bastante o tamanho, e lhe deu uma beleza aparentemente rústica, mas na verdade com todo o conforto da modernidade. Lá, entre outros, já estavam o Jonas Filho Fontenele de Carvalho e sua mulher Dulce, irmã do De Paula, Marília, filha dos anfitriões, e Zezé Araújo, irmão da dona da Maison, além de outras pessoas, vindas de Brasília, que não conhecia.

 

A área da “Diretoria” passou por uma reforma, e agora se destina mais aos serviços gastronômicos, de modo que preferimos ficar debaixo das árvores do quintal, onde tínhamos a maciez da areia, sombra e o frescor do microclima. Como eu lamentasse a falta do cantinho dos “diretores”, o Jonas nos informou que já estava sendo providenciado um outro espaço, no local que nos indicou. Acrescentou que pretende ilustrá-lo com uma grande charge dos membros natos e fundadores da “Diretoria”.

 

O Zezé, logo ao chegarmos, contou-nos que o Porfírio Fontenele de Carvalho, ao saber que eu viria visitar o seu irmão Jonas, anunciou que pretende ainda me contar o segundo tempo de um jogo mítico de futebol, que presenciou em sua infância. A parte que ele já narrou era cheia de detalhes folclóricos e inusitados. Recordo que ele encerrou sua narrativa lendária com o relato de um forte chute para o firmamento, em que a bola foi tão para o alto e tão para longe que deixou de ser vista ao se aproximar das nuvens.

 

Diante disso, eu pensava que o jogo havia terminado, com a bola tomando o caminho do infinito, onde poderia ser atraída pela gravidade de algum astro colossal, ou mesmo sendo sugada por algum buraco negro. Fica uma grande interrogação sobre quando e onde a bola caiu, e sobre como teria terminado essa disputa tão cheia de peripécias exóticas e estapafúrdias.

 

Acaso, sem nenhuma malícia de minha parte pergunto: seria o Porfírio o nosso Barão de Münchhausen da atualidade ou o próprio Trancoso redivivo, a contar novas estórias/histórias? Foi um dia agradabilíssimo, mas que não pudemos encompridar, porque o Jonas e sua família iriam participar de uma festa de casamento da filha de um amigo, o ilustre advogado Antônio Cajubá de Britto Neto, membro de uma notável estirpe de causídicos parnaibanos.

 

No dia seguinte, em Parnaíba, antes de retornar a Teresina, fui tomar um caldo reforçado na lanchonete do senhor José dos Santos, situada na frente do Mercado de Fátima. Esse estabelecimento é frequentado por valorosa plêiade de boêmios, conversadores e contadores de “causos”; muitos dos quais eram fregueses do saudoso Dom Augusto da Munguba, proprietário do bar Recanto da Saudade, também de saudosa memória, posto que veio abaixo, um pouco depois da morte de seu dono. O Augusto não teve sucessor, infelizmente, e o bar parecia moldado para a sua personalidade ímpar de bonachão, mas bonachão que sabia impor ordem e respeito nas libações etílicas de seus fregueses.

 

Na lanchonete, depois de prévia consulta sobre seu interesse, entreguei ao Marcos, filho do proprietário, um banner, com uma bela charge do Augusto e do Dourado, que já partiram para outra dimensão do espaço-tempo. A arte, executada pelo grande artista plástico Gervásio Castro, irmão do não menos notável Fernando di Castro, ilustrava um poema de minha autoria, feito em homenagem ao Augusto e ao seu legendário e inimitável boteco.

 

O banner fora posto numa moldura digna, em sinal de meu respeito pelo chargista e pelos dois homenageados. Já na segunda-feira, por telefone, o Canindé Correia me informava que o Marcos dos Santos estava entusiasmado com o quadro, que disse ter valor histórico e artístico, e que iria afixá-lo em lugar de destaque. Com efeito, creio que ele tem razão, afinal o Dourado e o Augusto são duas figuras populares, que ficarão na memória de quantos o conheceram, e a ilustração do Gervásio tem um valor artístico inestimável.