[Maria do Rosário Pedreira]

Sou às vezes demasiado emotiva em relação aos autores que publico – particularmente àqueles de quem me torno amiga e cúmplice ao longo do tempo. Com o valter hugo mãe, sinto, por exemplo, uma espécie de parentesco, como se ele fosse um irmão mais novo que me orgulhava de levar às festas porque fazia sempre brilharetes de encher o coração pelo lado da beleza. Alguns saberão que o valter me fez uma declaração de amor (enfim, à minha poesia) num 14 de Fevereiro de há três anos, que publicou depois, creio eu, no Pnet Literatura; mas o que nos une é mais antigo do que esse texto. No dia em que ele me disse que tinha de deixar a editora em que eu estava – por razões de que não é bonito fazer alarde na blogosfera –, percebi-o e disse-lho, mas chorei uma noite inteira com as saudades que ia ter dos seus manuscritos numa viagem de comboio Madrid-Lisboa (se tivesse conseguido dormir naquelas camas estreitas, teria sido menos doloroso). E hoje, sempre que leio ou o ouço ler um dos seus textos, a verdade é que sinto um novelo no coração, como se me tivessem arrancado um bocadinho da minha família. Foi assim nas Correntes d’Escritas deste ano, quando ele nos brindou com uma hilariante descrição das confusões que se têm gerado à volta do seu nome (uma delas envolvia duas cadeiras num palco, uma para o valter hugo e outra para a mãe); e foi-o também no lançamento do livro do Eduardo Pitta, há alguns dias, no qual ele leu um texto tão bonito que me vieram as lágrimas aos olhos. Porém, longe ou perto de mim, desejo acima de tudo que continue a escrever.