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 UM MONUMENTO DA LITERATURA: A SOCIEDADE DO ANEL

 

 

Miguel Carqueija

 

 

         “O Senhor dos Anéis”, volume I – A Sociedade do Anel

 

         Editora Martins Fontes, S.Paulo-SP, segunda edição, 2002

 

         The lord of the rings, part I – The Fellowship of the Ring

 

           (por J.R.R. Tolkien)  

 

         Tradução de Lenita Maria Rímoli Esteves e Altamiro Pisetta

 

         Revisão técnica e consultoria: Ronald Edward Kyrmse

 

         Coordenação: Luís Carlos Borges

 

 

 

         O grande alavancador da literatura de fantasia — a “Alta Fantasia”, a fantasia heróica — foi o britânico J.R.R. Tolkien (1892-1973) que prefigurou os tempos modernos, que trouxeram filmes de grande sucesso de público e crítica e livros-tijolos com ótimas vendagens.

         “O Senhor dos Anéis” é uma trilogia monumental, precedida do volume “O Hobbit”, trazendo o mundo da Terra Média, de uma complexidade como poucos autores ousaram. Não faltam mapas detalhados, runas e palavras de idiomas imaginários.

         “A Sociedade do Anel”, romance de mais de 400 páginas que conta o início da Guerra do Anel, é de per si um livro sensacional. Escrito num estilo aliciante, sóbrio e detalhista, envolve os leitores da primeira à última página. Tudo gira em torno da emblemática peleja entre o bem e o mal, com todas as exigências de luta tão inconciliável.

        

         “Três Anéis para os Reis-Elfos sob este céu,  

            Sete para os Senhores-Anões em seus rochosos corredores,

           Nove para os Homens Mortais, fadados ao eterno sono,

           Um para o Senhor do Escuro em seu escuro trono

           na terra de Mordor onde as sombras se deitam.

           Um Anel para a todos governar, Um Anel para encontrá-los,

           Um Anel para a todos trazer e na escuridão aprisioná-los

           na terra de Mordor onde as sombras se deitam.” 

 

         Esta estranha poesia define bem a situação descrita no livro, que partindo de acontecimentos pretéritos vai tecendo uma trama engenhosa e minuciosa, com grande número de personagens muito bem elaborados e numa interação genialmente desenvolvida.

         Num passado remoto foram forjados vinte anéis mágicos. O principal, forjado para controlar os outros e propiciar o poder supremo a quem o possuísse, perde-se durante uma guerra e acabou nas mãos de um ser pequeno e abjeto, o Smeágol, também conhecido como Gollum. Bilbo, o aventureiro e escritor hobbit, apossa-se do anel e é procurado por um poderoso mago humano, Gandalf, o Cinzento. Este convence Bilbo a entregar o anel, que deverá ser destruído no fogo vulcânico de uma distante montanha; caso contrário Sauron, o Senhor do Escuro, ansioso por dominar o mundo, poderá reavê-lo. Bilbo passa o anel a seu sobrinho Frodo, que assume a missão de levá-lo para a Montanha do Fogo.       

         Ao longo de quase todo o livro perpassa a constante ameaça da “Sombra” que se espraia pelo mundo: o desenrolar do poder do misterioso Sauron, o “Olho” que de Mordor procura vigiar e abarcar tudo.

         Os personagens são de uma riqueza exemplar. Gandalf é antológico; é o mago ético que enxerga a necessidade e a prioridade das ações e que busca, com os recursos de que dispõe, catalisar as forças do bem para conter o mal que a todos ameaça tragar. Bilbo, o aventureiro de passado misterioso e pesada herança, que abandona abruptamente o Condado (reduto do povo hobbit) deixando a missão do anel com Frodo; Legolas, o elfo; Gimli, o anão; os guerreiros humanos Aragorn e Boromir; o fiel Sam, que acompanha Frodo em qualquer perigo. Os outros dois hobbits, Pippin e Merry. O repulsivo Gollum, com sua pegajosa conversa em torno do “precioso” (o anel), que ele deseja reaver. A elfa Galadriel, com sua grandiosidade. O estranho Tom Bombadil, personagem antiqüíssimo e poderoso. Saruman, o mago que, cooptado pela ambição de possuir o anel, trai Gandalf.

         A história é, de fato, extraordinária e inesquecível, de uma riqueza que desafia qualquer análise.  

         Algumas frases pinçadas do livro podem dar uma pálida idéia da profundidade encontrada no enredo:

 

         “Então todos escutaram, enquanto Elrond, com sua voz clara, falava de Sauron e dos Anéis do Poder, e de sua forjadura na Segunda Era do mundo, há muito tempo. Uma parte da história era conhecida por alguns ali, mas a história completa ninguém conhecia, e muitas faces se voltavam para Elrond com medo e surpresa, enquanto ele contava sobre os ourives élficos de Eregion, e de sua amizade com Moria, e de sua avidez de conhecimento, através da qual Sauron os seduziu”.

 

         Percebe-se que “A Sociedade do Anel” é parte de uma grandiosa saga que desvenda um notável universo ficcional que gerou filmes categorizados e atraiu uma legião de fãs. É um dos grandes livros do século XX e de leitura obrigatória para os apreciadores de literatura fantástica.