Wílson Carvalho Gonçalves
Wílson Carvalho Gonçalves

Ramon  Vieira de Carvalho

Não havia ninguém mais apaixonado pelas Barras do Maratahoan do que o Tio Wilson. Barrense de berço, emergiu do solo barrense no dia 21 de abril de 1923. Um dos homens mais capazes de seu tempo. Um currículo invejável repleto de honrarias conquistadas pelo esforço próprio reconhecido por vários estados brasileiros. Graduou-se em Farmácia e exerceu a profissão, depois de formado pela Universidade do Rio, em sua terra natal por muitos anos. O interesse pela história corria em sua veia e dotado pelo dom da pesquisa deu cor aos primeiros relatos sobre a cidade do seu coração eternizados no seu primeiro livro, no ano de 1987, intitulado “Terra dos Governadores”. 

Deu o primeiro passo para nós, amantes da história barrense, um norte para seguir. Passou em concurso público para Auditor Fiscal da Receita Federal e obteve por muitos anos um dos maiores salários da Federação não perdendo, com isso, a simplicidade de homem do interior, mas adquirindo a sagacidade para o conhecimento, de um homem do mundo. Impressionava-me sua intimidade com o idioma inglês e seu senso de humor que jamais perdia. Quando, das visitas mensais que o fazia, sempre me indagava em inglês: 

- Where do you come from, man?  - Depois ele traduzia pra mim (De onde vindes, homem?) e eu respondia: 

- Das Barras do Maratahoan. Ele continuava: 

- Love with faith ande pride the land where you were born. (Ame com fé e orgulho a terra onde nasceste) e eu respondia: 

- Forever (para sempre)- A brincadeira virou tradicional e logo aprendi com ele o diálogo. Sempre que chegava com uma camisa contendo frases em inglês, antes mesmo do cumprimento inicial, ele já vinha com a tradução. Boas recordações. 

Wilson Carvalho Gonçalves parte deixando um legado de 98 anos de vida ilibada, honrando sua família, suas raízes, seu povo. Contribuiu com a história de nosso estado dedicando mais de dez livros que remontam biografias e o início do Piauí. Imortal da Academia de Letras, da qual fez sua segunda morada, tamanho era o seu amor por aquela casa, nunca parara de trabalhar incansavelmente como um genuíno guardião de nosso patrimônio histórico. 

Casou-se com uma prima de segundo grau e irmã de minha mãe, Tia Maria Augusta, o que o faz, para o meu orgulho, um parente próximo. A efemeridade da vida nos faz compreender que precisamos cumprir nossa missão em tempo recorde. Cem anos não são nada para quem fez tanto, para um homem que construiu história através do exemplo de correção, empenho, fé e sobretudo, do Amor. 

Ainda que a dor da partida seja grande, que o desfalque no mundo de um homem exemplar seja sentido, o teu exemplo nos reconduz a alegria de ter podido conviver com um homem que amou, em prosa e verso, o nosso PIAUÍ e, excepcionalmente, a nossa BARRAS DO MARATAHOAN.