Cunha e Silva Filho


                      O maior episódio de imoralidade da política brasileira, conhecido como Mensalão veio a público após a declaração do deputado do PTB, Roberto  Jefferson, de que era um fato materializado, concreto, do qual ele mesmo fazia parte. 
                    Consistia num  esquema de deslavada corrupção entre o comando do PT e setores privados, bancos e empresas, ligados ao governo federal através de contratos de licitação, prestação de serviços, corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro, implicando dinheiro público, empréstimos falsos, propinas, cheques, dinheiro em espécie pago a corrompidos, escondido até em bolsos de paletós e até mesmo em cuecas de deputados federais. 
                   Isso tudo para conseguir maioria de votos de partidos coligados às lideranças do governo federal, os chamados partidos da base política do governo, cuja meta principal era a aprovação de projetos do governo.. Na época de sua eclosão, jornais de grande porte , como a Folha de São Paulo, Jornal do Brasil e revistas de grande circulação nacional, como Veja , analisavam esmiuçadamente, como se fossem capítulos de um folhetim rocambolesco, todo o desenrolar desse período sombrio da política nacional. Foi nessa época que jornalistas brilhantes, como Fausto Wolff, entre, outros, desancaram os principais protagonistas dessa cena lamentável da recente história brasileira.
                 O curioso é que, até hoje, já com a história do Mensalão sendo objeto nuclear de julgamento no Supremo Tribunal Federal, os conhecidos envolvidos nas acusações já foram defendidos pelos seus respectivos advogados diante da Corte máxima da Justiça Brasileira e, todos eles, os advogados, são uníssonos em declararem serem os réus “inocentes’(sic!).
               Ora, ninguém sobrou como culpado? É estranho para os leigos em assuntos de defesa em julgamentos. Todos os réus, dos principais protagonistas às avessas (José Dirceu, et caterva, aos coadjuvantes e subalternos, nenhuma culpa tiveram com o episódio fatídico do Mensalão – episódio atualmente negado por muita gente que até parece com a história da negação da existência do Holocausto.
              Afinal, me pergunto, quem vai ser condenado e, se condenado, que punições irá receber o sentenciado? O que me intriga também é uma dúvida: quem foi o chefe –mor do Mensalão? Um dos advogados já se pronunciou diretamente sobre essa delicada questão. E daí? Onde se buscarão as evidências da acusação, sobretudo contra alguém que, se candidato fosse novamente à Presidência da Republica, estaria vitorioso. Como entender, então, a psicologia de  um povo como o nosso, povo, em geral, muito individualista, muito dividido em suas castas sociais que mais parecem os indianos.
Todos os acusados aí estão, aguardando a sua sentença. E depois das sentenças, o que irá acontecer a eles? Serão presos, sem brechas e sem condicionamentos jurídicos de “bom comportamento”, de direito à diminuição de penas, de prisão domiciliar, de direito a uma “condicional?” Ou será que o Mensalão era mesmo um fantasma criado pela oposição? Vai ver que muita gente acredita na inexistência desse fato histórico. Não há pessoas que, até hoje, desconfiam que a descida do hoem à lua foi uma invenção um truque da NASA para dar mais poderes políticos e científicos aos americanos?
              Como é opinião geral entre os brasileiros de que ricos ou arrivistas não vão para a cadeia, sobretudo se forem pessoas que exerceram altos cargos na República, não fica tão difícil prever qual o destino que se reservará a todos os acusados. Depois que o Direito como ciência tanto se desenvolveu no mundo ocidental, não há questões intricadas concernentes a crimes de colarinho branco que não possam ser resolvidas favoravelmente pela própria Justiça, desde que se instituiu o expediente legal de “o acusado pode recorrer.” Destarte, o tempo e os homens, bons e maus, íntegros ou improbos, passam, morrem, são esquecidos, entram, pelo lado da podridão moral, para a História, e a vida no planeta Terra prosseguirá no meio do crime e da impunidade.
            Enquanto isso, lá no STF, vão soar as vozes da condenação ou da inocência naquele dilema típico dos tribunais ingleses no julgamento dos acusados: “guilty or not guilty?” O auditório, em silêncio, a tudo isso assiste com vontade de gritar verdades que, por educação, medo das conseqüências, ou se falando, reafirmando as “mentiras convencionais da nossa civilização.”
           Lá fora, n as cidades, sobretudo metrópoles, sofrem os oprimidos que, por um simples furto de uma sabonete, são pegos por cuidadosos vigilantes do patrimônio privado. Às vezes, espancados antes de serem entregues à força policial. São logo lançados no cárcere dos distritos, sem a presença poderosa dos advogados brilhantes e talentosos, alguns eloquentes, advogados do elitismo público ou privado do establishment em nosso país. Esta é a melhor imagem que se possa ter da nossa Justiça, vendada mas justa. Que distância entre as medidas e os pesos!