Um cinema só pra mim

Elmar Carvalho

Gosto de todas as manifestações culturais e artísticas. Mas, sobretudo, como criador cultivo a literária, em diferentes gêneros, como meus poucos leitores sabem. Agora, tento concluir meu romance Histórias de Évora, cujos capítulos, que vou escrevendo semanalmente, publico em meu blog e em outros sítios internéticos. Acredito que será filho único. Como consumidor, aprecio, de forma preferencial, literatura, música e cinema.

Ontem resolvi assistir, no Teresina Shopping, ao filme Ninguém deseja a noite, classificado como drama. Temendo trânsito intenso e estacionamento lotado saí cedo. Quando me dirigi ao caixa, vi na tela do computador que todas as cadeiras (todas marcadas em verde), estavam disponíveis. Escolhi a cadeira 13, meu autoproclamado número da sorte, da última fila, ou seja, a poltrona assinalada como M13.

Dei uma volta pelo shopping, para fazer um lanche e comprar algumas coisas. Um pouco antes da hora marcada entrei na sala de exibição. Não havia ninguém. Esperei chegasse alguém de pontualidade britânica ou de relógio suíço, mas fiquei frustrado. Tive como certo que algum retardatário ainda chegaria, quando as luzes se apagassem e o filme já estivesse bem iniciado. Mas isso também não ocorreu.

De sorte que fiquei com uma sala comercial de exibição cinematográfica exclusivamente para mim. Tive o privilégio – se é que isso pode ser nomeado como privilégio – que poucos homens do Poder Político ou do poder do dinheiro tiveram. Sozinho, vendo projetada na tela a imensa solidão nevada do Polo Norte, aquele imenso e frígido deserto de gelo, curti a minha própria solidão, que não era triste e nem ao menos melancólica. E não pude deixar de lembrar estes versos, de minha própria autoria: “Judeu errante / e sem remissão / – por sobre desertos de areia e de gelo – / fugindo sempre / de si mesmo.”

Com esta marcante diferença: eu não fugia de ninguém, muito menos de mim mesmo. E a solidão da imensa sala de poltronas vazias não me foi desconfortável. Antes pelo contrário.