UM CAFÉ COM DIEGO MENDES SOUSA NO DELTA DAS AMÉRICAS
Por Diego Mendes Sousa Em: 13/08/2020, às 15H37
UM CAFÉ COM DIEGO MENDES SOUSA NO DELTA DAS AMÉRICAS
Por Rosa Virgínia Carneiro de Castro*
“A felicidade é um barco de muitos horizontes...”
(Diego Mendes Sousa)
Texto dedicado ao professor de música João Manuel Resende (Porto-Portugal), por ser um homem de muitas culturas e admirador da obra poética Gravidade das xananas, de Diego Mendes Sousa.
Um Café vindo do reino da Poesia. Em uma das mais belas paisagens, onde cantam hinos, louvores e sentimentos: O Delta do Parnaíba, o terceiro maior Delta oceânico do mundo – único Delta em mar aberto das Américas.
Vou pondo a mesa nesta edição comemorativa do quinquagésimo ano da fundação da AJEB – Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil – Coordenadoria Ceará.
A Távola Redonda recebe uma branca toalha especialmente em renda e traz desenhos em linhas de contornos dourados, são interessantes, para quem sabe vê-los.
Eu mesma me surpreendi: os caranguejos olhando de lado, os siris e os cavalos-marinhos correndo léguas, o barco a vela de Vincent van Gogh velejando ao sol do fim de tarde no Delta do Rio Parnaíba...
“Deixo-me levar pela fluidez das palavras. Sou chamado. Não procuro. Não racionalizo.” (Diego Mendes Sousa).
No centro da mesa há um grande jarro com as nobres flores do mato: as xananas. E há doze jarrinhos com a muda disponível às lembranças para quem deseja levar consigo um pouco deste cenário.
Meus olhos ainda estão na penumbra do sol... e penso nas mágicas estrelas das xananas, do nosso Poeta Diego Mendes Sousa que “quis ser o herói dos homens, a poesia foi montaria, entanto, o implacável é herdeiro do sono do amor: Só Deus, para salvaguardar nós todos (...)”.
Penso em Diego Mendes Sousa em O viajor de Altaíba e escolho uma frase, pois uno-me a ela, quase sempre!
“É a mesma dor do Amor, que de longe avista lágrimas!”.
O escritor Carlos Nejar, da Academia Brasileira de Letras, que só conheci agora, diz perfeitamente o que meus olhos viram por um instante tão brevíssimo em que estive com Diego Mendes Sousa e plasmou-se no infinito, minhas mãos não saberiam dizer, portanto transcrevo: “Diego Mendes Sousa é forasteiro de si mesmo, por ser sua fronteira ou divisa, a alma. E tenta repetir o ritmo ‘o lado do raio’. O raio da velocidade com que a luz se move entre as palavras. E uma velocidade que assusta, por ser a verdade assustadora.”.
Diego Mendes Sousa é um jovem poeta que coloca brilho e alma em meus olhos quando o leio. É um poeta de coração antigo, caminhante e Cavaleiro dos mundos imortais. Está sempre na excelência da humildade dos deuses. É um exemplo aos jovens aprendizes do Ser! Pois tem a Beleza, essa que vence o tempo e a existência das coisas...
Compreendê-lo é honrar o sagrado e as fragilidades humanas. É ouvir a música das Antíteses! Das Metáforas! Dos rios dos seus nasceres!
Penso em Tinteiros da casa e do coração desertos e trago um trecho do depoimento do seu autor: “A poesia é sempre a boa nova. Ela é a ressurreição da beleza em seu último estágio. Primeira dentre todas as artes, mergulha essencialmente em cada peça artística, seja na música, na pintura, no cinema... Bach é perfeição! Van Gogh, enigma! Pasolini, alucinação! A poesia medeia a criatividade. É porta-estandarte da loucura e do onírico, preenchendo o abismo das visões.”.
O nobre Cavaleiro do Sol chegou-me com as delícias do Café parnaibano e em mini ornamentos marítimos fui colocando as comidinhas: o beiju, o cuscuz com carne seca, roscas de trigo, batata doce, abóbora; e a garrafa de café era o farol da praia de Atalaia, toda bordada em cambraia de linho. A praia da Pedra do Sal vinha pintada nos cabos dos talheres.
A cidade encantada do poeta Diego Mendes Sousa inteira servida:
“Teus filho bravos
no embate rudo
fazem do peito
um brônzeo escudo”
(Fragmento do Hino da Parnaíba, letra do poeta R. Petit)
É Parnaíba a porta de entrada do Delta das Américas, que deságua no Oceano Atlântico e fica na divisa, entre os Estados brasileiros do Piauí e do Maranhão.
A história registra que no século XVI, ano de 1571, o português e navegador Nicolau de Resende entrou em um dos igarapés do Delta do Parnaíba quando fugia de piratas, sofreu um naufrágio, sendo salvo pelos índios. O navegador escreve uma carta a Portugal dizendo que havia descoberto um tesouro mais valioso do que perdera, referindo-se ao Delta do Parnaíba: “um grande rio que forma um arquipélago verdejante ao desembocar no Atlântico.”.
O Estado do Piauí nasce sob a estrela de Antares, em seu Brasão. A estrela está a seiscentos anos-luz daqui, no coração da Constelação de Scorpius. A bandeira da Parnaíba traz também uma estrela branca que simboliza a Vila de São João da Parnaíba, pela pureza da virgem da Graça.
E temos a estrela nas flores das xananas poetizadas sob o sol extraordinário de Diego Mendes Sousa, por amor à sua terra natal.
Lembro Olavo Bilac em Via Láctea:
“Ora (direis) ouvir estrelas (...)
E eu vos direi:
Amai para entende-las!
Pois só que ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e entender estrelas.”
E nos chega o lirismo de Diego Mendes Sousa, comemorado também em seu signo de água e regido pela Lua – Câncer! Creio que por isso ele bebe o sorriso da chuva. O Poeta que nos fala dos sentimentos universais, é um homem reservado, tímido e voltado para dentro de si mesmo e isso nos dá dimensão, ante a sua presença, de um olhar enigmático. Diego traz em seu caminho a sabedoria da água ao seguir seu curso e, certa vez, li que o caranguejo é o retrato de Câncer. O poeta segue seu rio, priorizando as imagens metafísicas e se importando com a dor do mundo. No relacionamento amoroso, casou-se em união de almas com a Musa Altair, também uma estrela de primeira grandeza.
Há grandes e célebres escritores que comentam em largas excelências as suas obras poéticas, sempre nos elogios de análises literárias e humanas.
Sua biografia é extensa e o mundo moderno o tem nas redes sociais. O poeta da caneta e do papel, que lê dicionários, esteve no Programa Leituras da TV Senado no dia 01 de setembro de 2019, com o entrevistador e jornalista Maurício Melo Júnior, onde Lêdo Ivo foi lembrado como uma oração:“A chuva te ensina a ser invariável sem se repetir.”.
Diego Mendes Sousa é funcionário público federal, advogado, bibliófilo, indigenista e ambientalista. Membro Titular do PEN Clube do Brasil. Sócio Fundador da Academia Brasileira de Direito. É um homem das letras e do trabalho. E nos diz: “Acredito muito na Literatura, porém não esqueço de calçar os pés.”.
Diego é um pesquisador e assim é organizador do Selo Item de Colecionador, projeto que conta e assina com a colaboração do escritor Fabio de Sousa Coutinho. Publicado pela Editora Penalux, em pequenas edições numeradas. Um Selo nascido para os grandes admiradores dos escritores da Academia Brasileira de Letras.
Autor de Velas náufragas, livro premiado pela União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro (UBE-RJ) como o melhor livro de poemas do ano de 2019 – Prêmio Mário Faustino – um jovem poeta piauiense, que revolucionou a poesia brasileira, morreu aos 32 anos de idade, deixando um legado literário espetacular.
Trecho do livro Velas náufragas:
CARANGUEJOS E SIRIS
Hoje sou muitos, sou vário,
sou os múltiplos, sobremaneira um,
o que vai morrer no deserto,
com andar de caranguejo, às pressas.
Talvez sem rumo, isso sempre,
Para todos os lados do meu único mundo,
meu singular mundo, rasgado por profecias
e magias, essa cabala inacabada.
É velejando o barco a vela ao sol do fim da tarde, na varanda de casa, indo aos ventos com o ninho que me olha, o límpido azul brilha e brilha e me leva a dizer das cores luminosas da poesia dieguiana: linda joia preciosa!
Peço licença para unir poemas a gemas de Opala, que são encontradas no interior do Piauí, na cidade de Pedro II. A Opala demora cerca de sessenta milhões de anos para se formar... penso em quantos anos dói o coração para elaborar poesias! Fé e brilho. Preciosidade e pureza nas Opalas e em Diego Mendes Sousa.
A campainha toca e traz Prelude Cello Suite N.1. de Bach. E penso ver Alessandra Ferri e Sting ao violão... simbolizando como este Café foi sentido. São nove horas da manhã, a neblina se foi... devo lembrar que todos podem sentar e são bem-vindos à Távola Redonda, aqui, não consta o “assento perigoso”, a cadeira que ficava à frente do Rei Artur, a qual o mago Merlin dizia: “Meu senhor Rei, só um homem neste mundo poderá se sentar ali, e este homem ainda não nasceu.”
Abro os altos e lapidados portões. Do meu lado, o Cavaleiro do Sol, que me prepara as estrelas, fontes inspiradoras, homem alado, que mora além das fronteiras das águas doces e salgadas, para além dos silêncios, e faz as honras ao nobre e jovem escritor Dom Diego Mendes Sousa, que segura em um sorriso de lua a mão da sua Musa e esposa, Altair Marinho, e os verdes olhos brilham como uma ilha cheia de equidades e de educação! A refletir, a cintilar o mundo inteiro de livros e de músicas.
Sim! Diego Mendes Sousa tem razão, também sinto assim:
“E a poesia sempre é melhor do que nós, ou mesmo maior, já que ela é círculo de girassol e de aventura.”.
Eu, que não tenho dia nem hora e vago por primaveras de estrelas, agradeço aos amigos leitores por sentarem nesta Távola Redonda e comigo verem que "a felicidade é um barco de muitos horizontes...”
13 de novembro de 2019
*Rosa Virgínia Carneiro de Castro nasceu em Fortaleza (CE). É filósofa e escritora. Sócia efetiva da Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil - AJEB/CE.
Referências
Livros de Diego Mendes Sousa
Gravidade das xananas – Editora Penalux, 2019.
Tinteiros da casa e do coração desertos – Editora Penalux, 2019.
O viajor de Altaíba – Editora Penalux, 2019.
Velas náufragas – Editora Penalux, 2019.
Internet (Google)
Wikipédia: Parnaíba/Piauí
Wikipédia: Piauí/Teresina
Wikipédia: Cavaleiros da Távola Redonda
Ensaio publicado na obra "Policromias 11 da Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil - AJEB/CE, ano de 2020, RDS editora, organizada por Giselda Medeiros e Ana Paula de Medeiros Ribeiro.