[Flávio Bittencourt]

Um cachorro na sala de aula

O professor não quis ensinar história econômica do Brasil ao cão vadio que perambulava pelo campus antigo da UFF, no Valonguinho, Centro de Niterói. 

 

 

 

 

 

  

 

 

 

 Ficheiro:Caio Prado Junior.jpg

 

 

 

 

 

 

 

 

  

CAIO DA SILVA PRADO JÚNIOR

(http://pt.wikipedia.org/wiki/Caio_Prado_J%C3%BAnior)

 

  

 

 

 

(http://baixarbonslivros.blogspot.com/2010/10/formacao-do-brasil-contemporaneo-caio.html)

 

 

 

 

MONTEIRO LOBATO PUBLICAMENTE ESCREVEU A CAIO PRADO JÚNIOR:

(http://cafehistoria.ning.com/photo/1980410:Photo:16432?context=user)

 

 

 

 

"CAIO PRADO JR.

COMEMORAÇÕES DOS CEM ANOS [EM 2007] INCLUEM DIGITALIZAÇÃO DE ACERVOS (...)"

(http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?pid=S0009-67252007000400023&script=sci_arttext)

 

  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  

 

 

 

 

  

UMA ALUNA DE CURSO SUPERIOR, MUITO APLICADA,

TALVEZ ESTEJA ESTUDANDO A CRÍTICA DA RAZÃO PURA,

DE KANT,  NO ORIGINAL [EM IDIOMA ALEMÃO]

(SÓ A FOTO DE UNIVERSITÁRIA ESTUDANDO MUITO,

MAS NÃO KANT NO ORIGINAL:

http://www.ligadonafacul.com.br/noticias/710-sindrome_de_cdf.html)

 

 

 

 

"(...) Para que se tornasse possível a entrada do cachorro numa sala de aula, ali, bastava que o segurança daquela movimentada Unidade de Ensino (*) tivesse se afastado para ir, por exemplo, ao banheiro. (...)"

 

(FLÁVIO BITTENCOURT, trecho da short true story "Quando o mestre emudeceu" [rascunhada ontem, quarta-feira de cinzas, 9.3.2011, e finalmente redigida hoje], adiante apresentada na íntegra) 

(*) - NO CAMPUS NOVO DA UFF, O DO GRAGOATÁ, OS PRÉDIOS SÃO DISTINTOS, MAS NAQUELA EDIFICAÇÃO MINISTRAVAM-SE DISCIPLINAS DE DIVERSOS CURSOS (aulas teóricas, porque os laboratórios não se situavam ali).

 

 

 

 


Datei:Kritik der reinen vernunft erstausgabe.jpg
 

REPRODUÇÃO DA PÁGINA DE ROSTO DE

CRÍTICA DA RAZÃO PURA [KRITIK DER REINEN VERNUNFT],

DO FILÓSOFO ALEMÃO IMMANUEL KANT (1724 - 1804)

(SÓ A IMAGEM: http://de.wikipedia.org/wiki/Kritik_der_reinen_Vernunft)

 

  

 

 

História Econômica do Brasil - Caio Prado Júnior

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

REPRODUÇÃO DA IMAGEM DE CAPA DE

UM LIVRO CÉLEBRE DO INFELIZMENTE JÁ

FALECIDO HISTORIADOR PROF. CAIO PRADO JÚNIOR

[1907 - 1990]

(http://www.rsraridades.com.br/sebo/historia-economica-do-brasil-caio-prado-junior-p-4995.html?cPath=23_107&osCsid=1cf230f7c9f678669bc2748b49689f2a)

 

 

 

 

EM 1979 O SHOPPING PLAZA AINDA NÃO

EXISTIA, MAS SUA LOCALIZAÇÃO

ESTÁ INDICADA NA FOTOGRAFIA-MAPA

ABAIXO REPRODUZIDA, flagrada em 

data posterior:

UFF 
(http://www.uff.br/semanadamatematica/local.html)
 

 

 

 

 

(http://didaticaplicadamatematica.blog.terra.com.br/category/sem-categoria/)

 

  

 

  

"Falta de atenção, conteúdo, desinteresse, avaliação, conteúdo, presença, etc...Qual o principal problema enfrentado atualmente pelos professores no ensino de história? Vale para todos: do ensino fundamental ao universitário.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Foto: sala de aula na época Vitoriana

Tags: Ensino, História, Professores".

(http://cafehistoria.ning.com/forum/topics/1980410:Topic:20425)

   

 

 

 

Como é a visão de um cão?
 

(http://omelhoramigodohomem.com.br/?p=389)

 

 

 

 

 

        "HOJE HÁ DOIS TEXTOS TRANSCRITOS AQUI NA 'Recontando...',

        SENDO O SEGUNDO MUITO MAIS IMPORTANTE DO QUE O PRIMEIRO,

         JÁ QUE O PRIMEIRO, INÉDITO, CONTA APENAS O causo - VERÍDICO - DE UM

         CACHORRO QUE ENTROU NUMA SALA DE AULA DA UFF, EM 1979,

         ENQUANTO O SEGUNDO, DE RUY CASTRO, ANTEPÕE O REI MOMO

         AO QUE ELE RESOLVEU DENOMINAR REI CONGO"

 

(COLUNA "Recontando estórias do domínio público")

 

 

 

 

 

 

                    EM MEMÓRIA DE

                    CAIO DA SILVA PRADO JÚNIOR (1907 - 1990),

                     ABRAÇANDO OS PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS 

                     INCUMBIDOS DE TRANSMITIR CONHECIMENTOS SOBRE

                     HISTÓRIA ECONÔMICA DO BRASIL E

                     HOMENAGEANDO O JORNALISTA, PESQUISADOR DE TRAJETÓRIAS BIOGRÁFICAS E 

                     ESCRITOR RUY CASTRO E

                     TODOS OS PROFISSIONAIS QUE TRABALHAM NO JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO

 

 

 

 

10.3.2011 - O professor universitário da área de história econômica do Brasil nutria preconceito contra o melhor amigo do homem - O cão viralata entrou e o mestre, que animadamente falava sobre ciclos econômicos da história do Brasil, calou-se: ele discriminava animais considerados irracionais. (Essa estória verdadeiramente aconteceu, no primeiro ou no segundo semestre de 1979.)  F. A. L. Bittencourt ([email protected])

 

  

 

  

QUANDO O MESTRE EMUDECEU

                                 Flávio Bittencourt

(ESPECIAL PARA O PORTAL ENTRETEXTOS)

          Certa vez, no primeiro ou no segundo semestre letivo de 1979, num dos prédios do campus da UFF [UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE], situado no Valonguinho [LOCAL DO CENTRO DE NITERÓI (Estado do Rio, Brasil)], numa aula razoavelmente enfadonha de histórica política e econômica do Brasil, o professor, que se empenhava em transmitir ideias expressas na obra mais conhecida de Caio Prado Jr., História Econômica do Brasil [FORMAÇÃO DO BRASIL CONTEMPORÂNEO É OUTRO best seller UNIVERSITÁRIO], ficou absolutamente mudo, como se tivesse acabado de receber uma notícia desconcertante. Os alunos não viam o que ele estava vendo: atrás das fileiras de carteiras, lá no fim da sala, um cachorro viralata adentrara o recinto.

          Se o professor tivesse esboçado ao menos um sorriso no rosto, olhando para a porta, todos teríamos olhado para saber o que teria acontecido, lá atrás. Mas o mestre simplemente se calou, como se estivesse tentando se lembrar de algum trecho especialmente relevante do livro do Prof. Prado Jr.

          Ocorre que o mestre tinha se calado quando um cachorro vadio entrou na sala de aula. Talvez o cão preferisse, digamos, uma boa explicação monetarista a uma estruturalista, ainda que tanto Caio Prado Jr., quanto o professor, fossem francamente marxistas.

          Imagino que o professor tenha parado de falar por preconceito não contra adeptos do pensamento e das ações dos ministros Delfim Netto ou Mário Henrique Simonsen. O professor parou de falar apenas porque um cachorro entrou na sala de aula. Parou repentinamente, com quem diz: "- Com esse animal passeando aí atrás, eu me recuso a falar!".

          Uma colega nossa, que era muito CDF ('caxias", excessivamente empenhada nos estudos), apesar de ser muito aplicada, sentava-se na última fila de carteiras, ACHO QUE PARA PODER APRENDER MAIS, LENDO MUITO. Foi ela quem anunciou, sem gritar - talvez com medo do cachorro -, que havia um bicho passeando pela sala. O professor estava sério, mas não estava exatamente compenetrado - ele expressava uma certa perplexidade -, mas ela sorria, ameaçando cair na gargalhada. Conteve-se e, como todos então fizeram, esperou para ver o que iria acontecer: ela era uma verdadeira líder ali, ainda que não fosse líder estudantil, nem pessoa vinculada a movimentos anti-Ditadura.

          Quando o cachorro saiu - da mesma forma que tinha entrado, aliás, ou seja, sem se importar com pessoa alguma além dela própria (afinal, para o ex-ministro Magri, cães são pessoas físicas, ainda que caninas, naturalmente) -, ele imediatamente continuou a falar, se não me falha a memória sobre engenhos de açúcar, senhores de engenho, mão-de-obra escrava trabalhando na lavoura, importação, exportação, excedentes materiais e financeiros, concorrência, flutuação de preços... e por aí vai.

          Para que se tornasse possível a entrada do cachorro numa sala de aula, ali, bastava que o segurança daquela movimentada Unidade de Ensino tivesse se afastado para ir, por exemplo, ao banheiro. Mas algo semelhante nunca tinha acontecido (o prédio, no Valonguinho, entre as edificações próximas ao Bar e Restaurante Natal [*] - essa é uma boa referência -, é o que fica mais longe da água da Baía de Guanabara). Nunca tinha acontecido, pelo menos com aquela turma, naquele semestre. E não seria ocioso lembrar que pessoas não costumam tentar espantar de locais de produção e transmissão de conhecimento cachorros estudiosos (EM MACAPÁ A PRONÚNCIA É 'cachórros', DE TAL FORMA QUE EU ME PERMITO ACENTUAR ESSA PALAVRA, EM TAL EXPRESSÃO: 'cachórros estudiosos', sons verbalmente articulados que ficam sincronicamente - como dizem certos linguistas - mais próximos do inusitado da circunstância de um cachorro "dando um alô" numa sala de aula em que se discutem ideias de Caio Prado Jr.).

          O cão saiu - talvez por ter percebido que aquela aula estava extraordinariamente chata - e o Professor continuou a falar. Aí fomos nós, os alunos, que não fizemos mais pergunta alguma. (9 e 10.3.2011)

 

 [*] - QUE FIM LEVOU O BAR NATAL? LEIA ALGO SOBRE ESSE MELANCÓLICO FIM EM

http://uffcom40.blogspot.com/2008_11_22_archive.html, ONDE SE PODE LER:

"(...) O Bar Natal foi fechado em 1984 para dar lugar ao Plaza Shopping. De acordo com os freqüentadores, houve duas cerimônias: uma mais descontraída, aberta a todos, e outra, mais íntima, em que seu André, seu Luís e Dona Modesta convidaram só os freqüentadores com os quais se criou uma ligação forte – muitos alunos de comunicação da UFF estiveram presentes. Os donos ainda fizeram um tributo aos assíduos participantes daquela história: eles doaram algumas peças da mobília para que cada um guardasse uma recordação dos quinze anos de imensa alegria, naquele simples bar do centro de Niterói "

(por ROVENA SAYÃO e COLIN VIEIRA, "Pauteira do Globo foi 'habituée' do Bar Natal ")

 

 

 

===

 

 

 

RUY CASTRO PUBLICOU,

NA FOLHA DE SÃO PAULO,

ONTEM (QUARTA-FEIRA DE CINZAS),

9.3.2011, PRIMEIRO CADERNO,

PÁGINA "A2", Opinião:

 

"Momo vs. Congo

 
RUY CASTRO

RIO DE JANEIRO - Andei pensando e concluí que o Carnaval é a secular luta entre o rei Momo e o rei Congo. Eles seriam uma representação: Momo, do Carnaval branco, europeu e brincalhão; Congo, do Carnaval negro, africano e mágico. Os dois como faces da mesma moeda.

Não é uma luta ao pé da letra, claro, nem os contendores têm consciência dela -porque só existem simbolicamente. O próprio Momo que vemos nos salões, recebendo do prefeito a chave da cidade, é um símbolo. O mais perto que esteve de ser real foi nos anos 50 e 60, quando o titular era o carioca Nelson Nobre, com rouge nas faces, papadas abundantes, manto de veludo, coroa de lata e quase 200 kg.

Já o rei Congo é uma abstração total, não se o visualiza. Mas sentimos sua presença -está nos morros e nos subúrbios, no fundo dos quintais e nessas escolas de samba que nada derruba, nem um incêndio, nem a chuva, nem os resmungos dos saudosistas.

Momo era o zé-pereira, o entrudo, o corso, as batalhas de confete, as fantasias de papel crepom à beira-mar, as marchinhas, o rádio, a revista de modinhas, os bailes, as prises de lança, os beijos roubados. Congo era o batuque, a umbigada, os ranchos, a sensualidade, o terreiro, a navalha, o feijão, o samba, a porta-bandeira, a calça larga, o chapéu de aba curtinha, a peruca empoada.
Momo e Congo sempre reinaram em separado, cada qual em seu espaço. O tempo é que pareceu pertencer apenas a Momo. Mas, por volta de 1970, Congo o desbancou e reinou absoluto, com o domínio das escolas no Carnaval. Só agora, com a volta dos blocos, essa supremacia começa a ser disputada.

Sou fã de Momo, mas a dívida do Carnaval para com Congo é impagável. É ele, e não Momo, que está nos quadris dessas brasileiras de todas as cores que surgem na avenida, sacodem o Brasil com seu requebrado e só existem no Carnaval". (RUY CASTRO)
 
 
 
 
 
ASSINE O JORNAL
 
FOLHA DE SÃO PAULO,
 
que é o melhor jornal do país!
 
 
 
 
 
COMPRE OS LIVROS
 
DE RUY CASTRO,
 
tantos os biográficos,
 
quanto os não-biográficos!