Último ramo de flores

[Chagas Botelho] 

No círculo de estudos bíblicos, ela era a mais linda. Tinha rosto oleoso, cheio de espinhas, ainda assim, belo. Ao se dirigir a alguém, semicerrava os olhos. Achava aquilo uma perturbação amorosa.

Susana, professora de catecismo do Colégio das Irmãs, a escolheu como oradora da turma da Primeira Comunhão. No púlpito, de áurea iluminada, lembrava a imagem sacra da Virgem Maria.

Encerrada a cerimônia litúrgica, os familiares lhe fizeram uma comemoração surpresa, convidando a todos. Menos pomposa do que tinha sido a festa de quinze anos, ocorrida há dois anos.

Puseram sobre a mesa, pãezinhos de leite, guaraná e suco de bacuri. Sorridente, ela distribuía pãezinhos e copos transbordantes aos presentes.

Enquanto esvaziava a bandeja, “mas ela não gosta de mim/ e vive me dizendo não”, animava o delicioso momento dos recém-comungados.

Retirou do tabuleiro de metal o derradeiro pãozinho e me ofertou como sendo o último ramo de flores. O gosto da massa desceu misturado ao gosto da hóstia.