Tributo ao boi dilacerado
Por Miguel Carqueija Em: 03/08/2012, às 13H21
(Miguel Carqueija)
Um poema escrito há mais de trinta anos, que permanecia inédito
TRIBUTO AO BOI DILACERADO
Não resta a menor dúvida: o inferno existe.
Se outras provas não houvessem, ó boi, restaria esta:
o que contigo fazem no litoral de Santa Catarina.
Eis a prova de que há pessoas que merecem o inferno.
Corre, chifra, muge: faze o que és capaz.
Resiste e luta, não te deixes abater.
Porque agora, ó boi, é matar ou morrer.
Contra ti se levantam os servos de Satanás.
Teu sangue na areia catarinense clama por Justiça.
Teus olhos vazados, teus membros serrados, teu corpo macerado, não são segredo aos Céus:
estás ao ar livre, ó Boi, mas nada poderia te ocultar a Deus.
Ele te vê e sabe o que sofreste.
Teus algozes, esses não perdem por esperar.
Teríamos nós, ainda, orgulho de ser brasileiros?
(Rio de Janeiro, 23 de junho de 1981)