MENINOS DO BARROCÃO

 

Aos sábados, o pedido de minha mãe

para enfiar a linha pelo fino buraco da agulha.

Após, o eterno rangido da máquina Singer.

 

Aos domingos, no quintal de casa,

cada menino aguardava a vez

de ganhar seu rolete de cana cortado pelo pai.

 

Fim de tarde, sonhos alimentados

no alto das goiabeiras.

                       

Em fins de semana de sol,

todos a postos na Rural bicolor

rumo às piscinas do Piauhy Sport Club.

 

Junhos de papagaios e ventos.

Memórias impressas em nuvens.

 

 

À ESPERA DO VENTO DA NOITINHA

 

                          para dona Dulce e dona Nonata

 

velhas cadeiras de balanço.

os espaguetes desbotados denunciam

as tantas conversas e confidências que ali foram reveladas.

 

velhas cadeiras de balanço.

as tardes mormacentas, refrescadas

à sucos de cajus e cajás, prenunciam

os relâmpagos ao longe, lá pras bandas da beira do rio.

 

velhas cadeiras de balanço:

guardiãs da memória derradeira (nua e crua)

da rua Gabriel Ferreira.

 

 

RUA DO BARROCÃO

 

no quintal da minha infância

brotavam goiabas

vermelhas, brancas.

 

no terraço de minha adolescência,

entre bolas e bilas,

cresciam amizades sólidas.

           

hoje,

homem maduro,

ainda planto sonhos

e aguardo frutos.