TRAGÉDIAS  RECORRENTES  NO BRASIL 

                                         Cunha e Silva Filho

     Faz bastante tempo  que  venho  escrevendo artigos acerca de,  pelo menos,  três  assuntos  vitais que dizem respeito às condições sociais, política nacional,  política   internacional, a par de temas relacionados à crescente  violência no  país.

       No entanto,   neste artigo, volto  à baila ao debate concernente  às enchentes fluviais  no país que,  de ano  para ano,    têm se tornado, a meu ver,    mais trágicas e em proporções assombrosas  se vistas pelos danos materiais, econômicos e   humanos. As cidades  por  elas atingidas  estão situadas em  alguns  estados brasileiros  como  Bahia,   Maranhão, Minas Gerais, entre outras. Costuma-se dizer  que o  Brasil  não tem terremotos nem  vulcões,  nem  tornados  à  moda americana.  Entretanto,   tem  dessas calamidades  naturais:    grandes  inundações  secas   cíclicas,  e last but not least,   maus  políticos, corrupção deslavada e  impunidade crônica. 

        Nossos rios, só  neste  início do ano  de 2022, têm  sido assolados   por  chuvas torrenciais, verdadeiros  pequenos  dilúvios que  deixam afundadas  nas águas   casas,   praças, igrejas, monumentos históricos, no caso  de Outro Preto, em Minas Gerais,   lavouras e outros  lugares  afetados  inclementemente pelo ferocidade das águas. Cidades, assim,  alagadas,  viram  rios com correntezas  furiosas.

         A impiedade  dos acts of God    derrubam  pontes  e destroem  as  rodovias   entre cidades, atrapalhando  a  vida normal  das  populações, a atividade  econômica.  Seus habitantes     perdem seus bens   imóveis,  móveis,   e tudo  o mais   que   as pessoas,  com  anos  de sacrifícios,   conseguiram adquirir  para  usufruírem uma vida    mais tranquila.

           Terão, assim que lhes for possível    que  readquirir  tudo o que perderam  com esses desastres   sem freios. Desta maneira,  o ruim, o péssimo,   em alguns aspectos cruciais da vida social nacional , é durável  como  ouro e  prata. Tínhamos (ainda temos ou sempre teremos ?!) no  país,  o  calamitoso  “flagelo das secas” (com  a antiga  prática nefasta da  “indústria da seca”  para  regozijo de políticos   oportunistas e venais ) aliados ao flagelo das  chuvas diluvianas.

     Entretanto,   as inundações,  violentas e destruidoras,  não são apenas , segundo  já mencionei  linhas atrás, acts of God. Qualquer leigo, em  questões  climáticas, tem a noção mínima de que, se os rios  transbordam e     adentram    cidades  ribeirinhas   em alguns estados mais   castigados, é porque  esses fenômenos de chuvas  diluvianas  têm a ver  com  os complexos  problemas do meio-ambiente,  da poluição  de CO2 e sobretudo  da  depredação  incontrolável  gerada  pela ganância  dos homens maus – tipificada   no  exagero   do capitalismo   e consequente  hiperconsumismo.  quer nos países  chamados  da direita,  quer nos  da esquerda, duas  oposições ideológicas que são,  muitas vezes,  vasos  comunicantes   quando estão  em jogo os profits  and losses, quer dizer,  os verdadeiros responsáveis pelos  estragos  irreversíveis  de  que   têm  sido vítimas as sociedades em escala mundial.     

           E não falei ainda das vítimas  fatais  de todas as idades. O fato  mais   grave socialmente e, por sinal,  o mais  dramático,   é que    são os mais  humildes, ou  os  que vivem   em   extrema  miséria,  aqueles que mais  são   afetados    pelas grandes  inundações,  visto que, em geral,   vivem  em moradias  frágeis,   mal construídas e    à  beira de rios. Por outro lado, os afortunados financeiramente residem   em construções bem localizadas e  em terrenos  seguros, onde mansões ou  prédios  luxuosos exibem  a sua     solidez   como os castelos medievais  europeus ainda em  pé pela  Europa afora.

       Graças à imprensa   e à sua rapidez de divulgação   de informações nas tevês,  nos celulares,  nos computadores,    vemos,  pesarosos,   as imagens    terríveis  dessas tragédias  ocorridas anualmente.   Ficamos  indignados com  a força descomunal da Mãe-Natureza, e ao mesmo tempo  ficamos   indignados  também  com  crônicas omissões  de nosso   governantes   por medidas  mais firmes   a fim de  diminuírem  os prejuízos  provocados   pelas enchentes.  Ao nosso  país sempre faltou   gerenciamento   adequado   de prevenção contra  as forças da Mãe-Natureza.

     A tecnologia modera, máxime,  na área do planejamento  urbano-habitacional,    pode, sim,    minimizar  essas   tragédias   oriundas de  cheias  gigantescas   nas cidades  brasileiras. Não vê, leitor,  que, nos Países Baixos ( The Netherlands)  na Holanda, por exemplo,  a engenharia  de altíssimo porte,  não logrou  o milagre de conter  a gigantesca  força  do mares?

       Somos, todavia,    um  país   que sempre   se pautou   por   pseudoprovidências, colcha   de retalhos, remendos  com data  de validade, intervenções    governamentais   que  não passam de paliativos,  especialmente  no campo da fiscalização  do meio-ambiente, de um  escassez absoluta    no que tange  a permissões  de edificações   em  espaços  perigosos,  tanto nas favelas quanto   no asfalto ou  em  ruas  sem  asfalto, nas periferias  da pobreza e da miséria absoluta.  As vítimas, impotentes,   desesperadas,   chorando,   relatam,  cada qual,  os estragos  avassaladores  de grandes  prejuízos  materiais  e sobretudo  humanos.  

        De nada quase adiantam as reuniões de cúpulas de elitistas  chefes das maiores  potências com a finalidade de  minimizar  as    consequências funestas  do efeito estufa.   do  aquecimento  global do  clima da Terra. Não faltam   as vozes   prudentes de cientistas   em todo  o mundo  que   vêm avisando   anos a fio  para os perigos   do derretimento das  calotas  polares  e para      assustadora possiblidades do aumento do nível  dos oceanos e  mares. Quem avisa  amigo é.

      Um outro gravíssimo  entrave  à solução  da delicada    questão do meio-ambiente é o descompromisso  de alguns países ricos de efetivamente  diminuirem a      poluição  planetária no sentido de  se empenharem  na batalha ingente contra  o efeito-estufa,  fazendo valer   o que foi acordado pelas nações    nas  inúmeras  reuniões  de Cúpulas sobre  meio-ambiente de que se tem notícia. Fiscalizar  o que se prometeu  nessas reuniões  é um dever  moral   e um compromisso  de alta envergadura   político-social em âmbito  global.  

       Me recordo m agora, daquela mocinha   defensora  do meio-ambiente que,  na última    reunião de Cúpula  sobre  o clima, realizada em Glasgow, no ano passado,  afirmou , com a costumeira  veemência, que o resultado  dessa  mais recente  reunião,  a COP 26, não passara de mais um blablablá dos países   ricos  ou em  desenvolvimento. Oxalá,  ela  tenha   errado  nas suas suas afirmações, porque é notório que  os países  poluidores se utilizam de discursos meramente  diplomáticos  e retóricos  que não são  obrigados a aceitar  na prática. Seria, antes, uma questão   de bom senso, de  peculiaridades e de ações  decididas   e resolvidas  em cada país e de acordo com as suas necessidades   específicas  nos esferas  da indústria,   do comércio  e de  políticas  públicas.  Acima de tudo, seria  uma  questão  de cunho   humano e de ordem  ética, onde valem  mais as necessidades  econômico-fianaceiras  de cada  nação  envolvida. 

          Os países altamente  poluidores,  China, Estados Unidos,   Índia.  inclusive  o  Brasil,  não podem  brincar  com fogo  i.e., a questão  do efeito-estufa  associado  a  outros  males  praticados contra a Mãe-Natureza, como o desmatamento  da Amazônia e de outras   regiões brasileiras é uma   questão  análoga  àquela  a que se referiu – vou citar mais uma vez -  o filósofo e matemático   inglês,o  pacifista  Bertrand  Russell (1872-1970) : "Só há dos caminhos  para a humanidade: a paz  ou a destruição."

        As queimadas   crescentes, o descaso   do atual  governo  federal  no trato  desses desastres ambientais, as flexibilidades  nas fiscalizações (diminuindo até  o contingente de fiscais  para essas finalidades)  e a  ausência firme  do  governo Bolsonaro  no combate a invasões de terras e  de espaços pertencentes aos  indígenas, permitindo  que grileiros e invasores de terras    ajam  às escâncaras   no caso  das queimadas e  derrubadas   de árvores  para  fins  comerciais  ilícitos, clandestinos  (práticas de crimes ambientais gravíssimas), envolvendo     venda   de  madeira em  negociata  em que se aponta, pelo  noticiário da imprensa,   um  conhecido   ex-ministro  do Meio-Ambiente, figura  antipática, arrogante   e autoritária.