TRAGÉDIAS RECORRENTES NO BRASIL
Por Cunha e Silva Filho Em: 21/01/2022, às 14H57
TRAGÉDIAS RECORRENTES NO BRASIL
Cunha e Silva Filho
Faz bastante tempo que venho escrevendo artigos acerca de, pelo menos, três assuntos vitais que dizem respeito às condições sociais, política nacional, política internacional, a par de temas relacionados à crescente violência no país.
No entanto, neste artigo, volto à baila ao debate concernente às enchentes fluviais no país que, de ano para ano, têm se tornado, a meu ver, mais trágicas e em proporções assombrosas se vistas pelos danos materiais, econômicos e humanos. As cidades por elas atingidas estão situadas em alguns estados brasileiros como Bahia, Maranhão, Minas Gerais, entre outras. Costuma-se dizer que o Brasil não tem terremotos nem vulcões, nem tornados à moda americana. Entretanto, tem dessas calamidades naturais: grandes inundações secas cíclicas, e last but not least, maus políticos, corrupção deslavada e impunidade crônica.
Nossos rios, só neste início do ano de 2022, têm sido assolados por chuvas torrenciais, verdadeiros pequenos dilúvios que deixam afundadas nas águas casas, praças, igrejas, monumentos históricos, no caso de Outro Preto, em Minas Gerais, lavouras e outros lugares afetados inclementemente pelo ferocidade das águas. Cidades, assim, alagadas, viram rios com correntezas furiosas.
A impiedade dos acts of God derrubam pontes e destroem as rodovias entre cidades, atrapalhando a vida normal das populações, a atividade econômica. Seus habitantes perdem seus bens imóveis, móveis, e tudo o mais que as pessoas, com anos de sacrifícios, conseguiram adquirir para usufruírem uma vida mais tranquila.
Terão, assim que lhes for possível que readquirir tudo o que perderam com esses desastres sem freios. Desta maneira, o ruim, o péssimo, em alguns aspectos cruciais da vida social nacional , é durável como ouro e prata. Tínhamos (ainda temos ou sempre teremos ?!) no país, o calamitoso “flagelo das secas” (com a antiga prática nefasta da “indústria da seca” para regozijo de políticos oportunistas e venais ) aliados ao flagelo das chuvas diluvianas.
Entretanto, as inundações, violentas e destruidoras, não são apenas , segundo já mencionei linhas atrás, acts of God. Qualquer leigo, em questões climáticas, tem a noção mínima de que, se os rios transbordam e adentram cidades ribeirinhas em alguns estados mais castigados, é porque esses fenômenos de chuvas diluvianas têm a ver com os complexos problemas do meio-ambiente, da poluição de CO2 e sobretudo da depredação incontrolável gerada pela ganância dos homens maus – tipificada no exagero do capitalismo e consequente hiperconsumismo. quer nos países chamados da direita, quer nos da esquerda, duas oposições ideológicas que são, muitas vezes, vasos comunicantes quando estão em jogo os profits and losses, quer dizer, os verdadeiros responsáveis pelos estragos irreversíveis de que têm sido vítimas as sociedades em escala mundial.
E não falei ainda das vítimas fatais de todas as idades. O fato mais grave socialmente e, por sinal, o mais dramático, é que são os mais humildes, ou os que vivem em extrema miséria, aqueles que mais são afetados pelas grandes inundações, visto que, em geral, vivem em moradias frágeis, mal construídas e à beira de rios. Por outro lado, os afortunados financeiramente residem em construções bem localizadas e em terrenos seguros, onde mansões ou prédios luxuosos exibem a sua solidez como os castelos medievais europeus ainda em pé pela Europa afora.
Graças à imprensa e à sua rapidez de divulgação de informações nas tevês, nos celulares, nos computadores, vemos, pesarosos, as imagens terríveis dessas tragédias ocorridas anualmente. Ficamos indignados com a força descomunal da Mãe-Natureza, e ao mesmo tempo ficamos indignados também com crônicas omissões de nosso governantes por medidas mais firmes a fim de diminuírem os prejuízos provocados pelas enchentes. Ao nosso país sempre faltou gerenciamento adequado de prevenção contra as forças da Mãe-Natureza.
A tecnologia modera, máxime, na área do planejamento urbano-habitacional, pode, sim, minimizar essas tragédias oriundas de cheias gigantescas nas cidades brasileiras. Não vê, leitor, que, nos Países Baixos ( The Netherlands) na Holanda, por exemplo, a engenharia de altíssimo porte, não logrou o milagre de conter a gigantesca força do mares?
Somos, todavia, um país que sempre se pautou por pseudoprovidências, colcha de retalhos, remendos com data de validade, intervenções governamentais que não passam de paliativos, especialmente no campo da fiscalização do meio-ambiente, de um escassez absoluta no que tange a permissões de edificações em espaços perigosos, tanto nas favelas quanto no asfalto ou em ruas sem asfalto, nas periferias da pobreza e da miséria absoluta. As vítimas, impotentes, desesperadas, chorando, relatam, cada qual, os estragos avassaladores de grandes prejuízos materiais e sobretudo humanos.
De nada quase adiantam as reuniões de cúpulas de elitistas chefes das maiores potências com a finalidade de minimizar as consequências funestas do efeito estufa. do aquecimento global do clima da Terra. Não faltam as vozes prudentes de cientistas em todo o mundo que vêm avisando anos a fio para os perigos do derretimento das calotas polares e para assustadora possiblidades do aumento do nível dos oceanos e mares. Quem avisa amigo é.
Um outro gravíssimo entrave à solução da delicada questão do meio-ambiente é o descompromisso de alguns países ricos de efetivamente diminuirem a poluição planetária no sentido de se empenharem na batalha ingente contra o efeito-estufa, fazendo valer o que foi acordado pelas nações nas inúmeras reuniões de Cúpulas sobre meio-ambiente de que se tem notícia. Fiscalizar o que se prometeu nessas reuniões é um dever moral e um compromisso de alta envergadura político-social em âmbito global.
Me recordo m agora, daquela mocinha defensora do meio-ambiente que, na última reunião de Cúpula sobre o clima, realizada em Glasgow, no ano passado, afirmou , com a costumeira veemência, que o resultado dessa mais recente reunião, a COP 26, não passara de mais um blablablá dos países ricos ou em desenvolvimento. Oxalá, ela tenha errado nas suas suas afirmações, porque é notório que os países poluidores se utilizam de discursos meramente diplomáticos e retóricos que não são obrigados a aceitar na prática. Seria, antes, uma questão de bom senso, de peculiaridades e de ações decididas e resolvidas em cada país e de acordo com as suas necessidades específicas nos esferas da indústria, do comércio e de políticas públicas. Acima de tudo, seria uma questão de cunho humano e de ordem ética, onde valem mais as necessidades econômico-fianaceiras de cada nação envolvida.
Os países altamente poluidores, China, Estados Unidos, Índia. inclusive o Brasil, não podem brincar com fogo i.e., a questão do efeito-estufa associado a outros males praticados contra a Mãe-Natureza, como o desmatamento da Amazônia e de outras regiões brasileiras é uma questão análoga àquela a que se referiu – vou citar mais uma vez - o filósofo e matemático inglês,o pacifista Bertrand Russell (1872-1970) : "Só há dos caminhos para a humanidade: a paz ou a destruição."
As queimadas crescentes, o descaso do atual governo federal no trato desses desastres ambientais, as flexibilidades nas fiscalizações (diminuindo até o contingente de fiscais para essas finalidades) e a ausência firme do governo Bolsonaro no combate a invasões de terras e de espaços pertencentes aos indígenas, permitindo que grileiros e invasores de terras ajam às escâncaras no caso das queimadas e derrubadas de árvores para fins comerciais ilícitos, clandestinos (práticas de crimes ambientais gravíssimas), envolvendo venda de madeira em negociata em que se aponta, pelo noticiário da imprensa, um conhecido ex-ministro do Meio-Ambiente, figura antipática, arrogante e autoritária.