Tradução do poema  "La fuite du temps", de Pierre Ronsard (1524-1585)

La Fuite du Temps

                                  

Quand je suis vingt ou trente moois

Sans retourner en  Vendomois,

Plein de pensées vagabondes,

Plein d’um remords et d’um souci,

Aus rochers je me plains ainsi,

Aux bois, aux antres et aux ondes.

Rochers, bien  que soyez âgés

De trois mille ans, vous ne changez

Jamais ni d’état ni de forme;

Mais toujours ma jeunesse fuit,

Et la vieillesse que me suit

De jeune en  veillard me transforme.

Bois, bien   que perdiez les ans

En hiver vos cheveux mouvants

L’an d’aprês que se renouvelle

Renouvelle aussi votre chef

Mais le mien ne peut derechef

Ravoir sa perruque nouvelle.

Antres, je me suis vu chez vous

Avoir jadis verts les genoux,

Le corps plus dur,

Et les genoux, qui n’est le mur

Qui froidement vous environne.

Ondes, sans fin vous promenez,

Et vous mener e ramenez

Vos flots d’un cours que ne séjourne;

Et moi, san  faire long séjour,

Je m’en vais de nuit et de jour,

Au lieu d’où plus on ne retourne.

INEXORÁVEL TEMPO

                                                          Pierre Ronsard

Quando distante fico de Vendomois,

Durante  vinte ou trinta meses,

Cheio de pensamentos errantes,

Pleno de remorsos e de inquietações,

Aos rochedos, aos bosques, às cavernas

E às ondas meus queixumes apelo.

Ò rochedos,  posto que tenhais  uma vida

De três mil anos, nunca vos  modificastes

Nem a forma nem o lugar que ocupais.

Quanto mais me fogem  os verdes anos

Tanto mais me perseguem os anos

Transformando-me de jovem em velho.

Ò bosques, conquanto todos os anos

 Percebais,  a cada inverno,

Da tua esvoaçante  folhagem  a queda

No ano    seguinte tudo se renova,

Inclusive também vossa folhagem.

Dos  meus cabelos o antigo viço não recobre

Ò cavernas, convosco  outrora já estive.

Juvenis  meus joelhos  então eram.

Ágil o  corpo, a mão possante,

Agora,  porém,  ainda mais  duro meu corpo  está.

 Igualmente, os meus joelhos não são iguais

À parede  que friamente vos envolve.

Ò ondas,  infinitamente  conduzi e reconduzi

Vossas águas a um  destino 

Que alcançar não  posso,

E eu, sem que um lugar  seguro  consiga ter,

Um dia, ou noite,  partirei  sem mais voltar.

                                    (Trad. de Cunha e Silva Filho