Tradução de um poema de Théophile Gautier (1811-1872)
Por Cunha e Silva Filho Em: 01/04/2013, às 14H19
L’aveugle
Un aveugle au coin d’une borne,
Hagard comme um jour un hibou,
Sur son flageolet, d’un air morne,
Tâtonne en se trompant de trou,
Et joue un ancien vaudevillle
Qu’il fausse impertubablment;
Son chien le conduit par la ville,
Spectre diurne à l’oeil dormant.
Les jours sur lui passent sans luire;
Sombre, il entend le monde obscure
Et la vie invisible bruire
Comme un torrent derrière un mur.
Dieu sait quelles chimères noires
Hantent cet opaque cerveau!
Et quels illisibles grimoires
L’idée écrit en ce caveau”
Ainsi dans les puits de Venise,
Un prisioner à demi fou,
Pendant as nuit que s’éternise,
Grave des mots avec un clou.
Mais peut-être aux heures fúnebres,
Quand la mort, souffle le flambeau,
L’âme habituée aux ténèbres
Y verra clair dans le tombeau!
O cego
Um cego, num canto determinado,
Desvairado como um mocho de dia,
Com seu flajolé, de ar batido,
Um buraco encontrado tateia.
Toca ele um velho vaudeville
Completamente desafinado.
Seu cão pela cidade o guia
Fantasma diurno de imobilizado olhar.
Na escuridão transcorrem seus dias
Sombrio, o negrume do mundo percebe
E o tumulto invisível da vida
Qual uma torrente atrás de uma parede.
Sabe Deus que lúgubres quimeras
Este opaco cérebro assombram
E que ilegíveis garranchos
A ideia nesta sepultura escreve.
Assim, nas prisões de Veneza,
Um sentenciado meio louco
Durante a noite sem fim,
Com um prego grava palavras.
Quem sabe, porém, nas horas fúnebres,
Quando a morte a luz apaga
A alma, afeita às trevas,
Lá no túmulo a luz verá!
(Trad. de Cunha e Silva Filho)