Tradução de um poema de Charles-Pierre Baudelaire (1821-1867):
Por Cunha e Silva Filho Em: 27/05/2013, às 10H17
L’Ennemi
Ma jeunesse ne fut qu’un ténebreux orage,
Traversé çà e là par de brillants soleils;
Le tonnerre et la pluie ont fait um tel ravage
Qu’il reste en mon jardin bien peu de fruits vermeils.
Voilà que j’ai touché l’automne des idées,
Et qu’il faut employer la pelle et les râteaux
Pour rassembler à neuf les terres inondées,
Où l’eau creuse des trous grands comme des tombeaux.
Et qui sait si les fleurs nouvelles que je rêve
Trouveront dans ce sol, lave come une grève
Le mystique aliment qui ferait leur vigueur?
-- Ô douleur! ô douleur! Le Tempos manga ela vie,
Et l’obscur Ennemi que nous ronge le coeur
Du sang que nous perdons croît e se fortifie!
O Inimigo
Não mais do que uma borrasca foi minha juventude,
Cruzada aqui e ali por sóis brilhantes
Um tal estrago fizeram o trovão e a chuva
Que, no meu jardim, quase nada há de vermelhos frutos.
E veja que das ideias o outono atingi,
Sendo mister usar da pá e dos ancinhos
Pra recolher e renovar as terras inundadas,
Onde buracos tumulares a água escava.
Quem sabe as novas flores do meu sonho
Neste solo lavado qual cascalho hão de encontrar
O místico alimento vivificador?
-- Ó dolorida dor! O Tempo a vida tragando,
O Inimigo oculto nosso coração corroendo
Com o sangue derramado, cresce e revigora!
(Trad. de Cunha e Silva Filho)