Robin Williams provou ser um ator eficiente. Quando lê o que está no script ou diz o que lhe coube decorar, é impecável. Por outro lado, é um escroque, um poço de preconceito, um canastrão quando se mete a falar de improviso ou baseado em conhecimento, cultura, intelectualidade. Portou-se assim ao expelir idiotices, asnices, excrescências, baboseiras, leviandades, num programa televisivo de entrevista nos Estados Unidos, naquela conclusão chula a respeito da escolha do Rio de Janeiro para sede e palco das olimpíadas de dois mil e dezesseis, em que, entre risos forçados e muxoxos histriônicos, afirmou que vencemos a disputa com Chicago graças ao envio de cinquenta strippers e meio quilo de cocaína para engabelar os juízes, enquanto os ianques mandaram apenas a primeira-dama do governo (Michelle Obama) e a da televisão (Oprah Winfrey). Além de idiota, desinformado: a cidade americana não foi páreo para nós, ó bobalhão, pois deixou de concorrer logo após a primeira rodada. Na verdade, nossa grande adversária foi Madri.

                Não concordo que devamos valorizar como figura humana ou formador de opinião indivíduo tão asquerosamente baixo como Robin Williams, processando-o pelas falácias proferidas. Cada um dá o que tem. Às vezes, valendo-se de sofismas ou de subterfúgios, como chiste, piadas ou drogas, diz-se o que não se teria coragem de dizer e assumir de cara limpa. Quem sabe não estivesse sob efeito de algum alucinógeno no momento da malsinada entrevista? Talvez cocaína, que trata com tanto apego e carinho que chama, simplesmente, de pó? A droga não faz somente a pessoa fugir da realidade, dá-lhe a impressão de ter adquirido inusitadas habilidades, capazes, tanto de transformá-la em grande oradora, como de lhe permitir criar cenários maravilhosos, psicodélicos, surreais, que lhe servem de refúgio. Dopados, alguns se munem de uma audácia que, lúcidos, jamais teriam; daí porque, possivelmente, despejando o que seu subconsciente alucinado lhe autorizou fazer, tenha imaginado strippers brasileiras e, nelas, visto beleza que nem a cocaína o fez encontrar nas belas, competentes e respeitáveis senhoras citadas - Michelle Obama e Oprah Winfrey.

                Por um outro motivo não processaria o destemperado ator ianque. Ele, ao tentar menosprezar o povo brasileiro com aquelas acusações, na verdade, agrediu, não somente os homens que votaram e escolheram o Rio de Janeiro, em detrimento de Madri, com quem, de fato, disputamos a vaga e o privilégio de sediar tão grandioso evento desportivo, mas também as mencionadas senhoras americanas. Na visão vesga do torpe agressor, das duas, uma aconteceu: ou aqueles cidadãos não foram capazes de resistir à beleza das tais brasileiras porque lhes faltou base real de comparação, ou porque meio quilo de “pó” não foi suficiente para deixá-los loucos, drogados a ponto de fugirem da realidade ou não enxergarem o óbvio.

                Prezado senhor Robin Williams, infelizmente, a Chicago que vossa senhoria gostaria de ver, graciosamente, sediando as olimpíadas de dois mil e dezesseis - sem a necessidade de qualquer esforço midiático ou de marketing de sua parte visando auxiliá-la nessa duríssima empreitada - vai ter que esperar um pouco mais. É que, mantida a lógica que norteou a eleição do Rio de janeiro, Madri seria a próxima parada. Mas isto são outros quinhentos ou, quem sabe mesmo, um quilo.

Fica em paz, Patch Adams, afinal, o amor é contagioso e amor é algo que brasileiro tem que sobra. Sem revanchismo: deixe de lado os discursos verborrágicos e continue fazendo bons filmes que, certamente, iremos prestigiá-lo.

                                                                              Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal

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