Toni Rodrigues fala sobre Cinturão de Fogo

Pablo Cavalcante - especial para Entretextos

O jornalista Toni Rodrigues lançou, no último dia 21 de julho, o livro Cinturão de Fogo. O livro-reportagem trata dos incêndios criminosos ocorridos em Teresina na década de 1940, fatos  até hoje cercados de incertezas.
Em entrevista ao portal Entretrextos, o autor fala sobre esses episódios, o processo de produção do livro e personagens pouco conhecidos pelos piauienses.

Em Cinturão de Fogo o senhor aborda os incêndios ocorridos em Teresina na década de 40. Por que escolheu se aprofundar nesse tema?

O que eu vejo sempre é a dificuldade ao acesso à história de Teresina. As abordagens que nós temos sobre assunto são ou acadêmicas, ou versões romanceadas. Eu decidi contar a história de maneira mais objetiva, através de um livro-reportagem, sem a linguagem academicista, para que as pessoas tenham acesso a esse importante episódio da história de Teresina e do Piauí.

É um fato que se confunde com a história de todo o estado, uma vez que as pessoas vitimizadas vinham do interior em busca de um pouso em Teresina, um pouso que fosse melhor para suas vidas.  Essas pessoas, aqui chegando, não encontravam guarida, então passavam a ocupar espaços no derredor da área urbana de Teresina e foram dando origem a comunidades inteiras, que não tinham a menor infraestrutura. Quando o Estado Novo surgiu, ele tinha essa proposta de urbanizar, em um primeiro momento, as capitais brasileiras.

O livro tem o objetivo primordial de traduzir para a linguagem do cotidiano essa parte importante da história de Teresina.

Como foi o processo de captação das informações para a feitura do livro? No que ele difere dos outros livros que abordam essa temática?

Os livros técnicos tem o objetivo de reunir informações e fundamentar outras obras, então o nosso livro traz um apanhado de tudo que já foi publicado sobre o assunto, tanto na imprensa, quanto em livros, como o do professor Francisco Alcides, que trata especificamente sobre a higienização e urbanização da cidade e, lógico, aborda a questão dos incêndios em um de seus capítulos.  O material do arquivo público e as publicações do governo Leônidas Melo também serviram de base.

O Diário Oficial traz relatórios do governo; fantasiosos, em alguns aspectos e realista, em outros, porque quando cita a instrumentalização da força pública da polícia militar se percebe um aspecto de realidade muito forte. Porém, quando diz que ouve avanços sociais inegáveis, você tem que estar atento às questões políticas, uma vez que não havia nenhum tipo de democracia naquele tempo.

Sobre o processo de prospecção de informações propriamente dito, muita gente da época ainda vive, como o professor Manoel Paulo Nunes, o professor Joaquim Ribeiro Magalhães e o professor Agenor Barbosa de Almeida, que foi oficial médico da polícia, secretário de saúde do estado, primeiro diretor do Hospital Getúlio Vargas e personagem central dessa história, uma vez que ele assinou os primeiros e únicos documentos contra o estado novo, dentro do estado novo.

Ele fora chamado pelo interventor Leônidas, que tinha recebido muitas denúncias vindas de populares sobre a tortura. Aqui eu me permito me expressar sobre o papel de Leônidas, uma vez que ele era interventor, governante, com poderes absolutos, não fez nada ao longo de três anos ou mais de denuncias reinteradas de torturas e mortes, nos porões da ditadura do estado novo. Então não ter feito nada, pra mim, denota uma fragilidade muito grande na sua condição como governante.

Nosso livro traz documentos inéditos sobre os inquéritos e a defesa dos acusados de tortura naquela época.

Circulo de Fogo também traz um personagem pouco conhecido da sociedade piauiense, o cabo amador Vieira de Carvalho. Fale-nos um pouco sobre esse personagem até certo ponto esquecido da nossa história.

O cabo Amador Vieira de Carvalho foi um cabo da Polícia Militar que deu um golpe de estado e foi governador por um dia, em 1930. Se você procurar nos compêndios da história do Piauí, você encontra referências de cinco linhas  sobre esse personagem, nada de muito profundo. Então nós fizemos um estudo aprofundado sobre o cabo Amador Vieira de Carvalho, baseado em uma entrevista que ele cedeu ao jornal Folha da Manhã, em 1963, na época, ele exercia a função de ourives na rua David Caldas. Nós resgatamos essa entrevista e fizemos um capítulo especial. O capítulo é intitulado de “O estado que precede a devastação”. Ali nós damos um painel sobre como era o estado do Piauí na época dos incêndios e o que foi que levou pessoas como o comandante Evilásio Vila Nova a ficarem tão fortes.Nessa retrospectiva, eu também falo do governador Landri Sales, que tentou a pacificação das famílias e falo da sociedade da época, que era uma sociedade composta na sua grande maioria por pessoas que vieram de outras cidades.

Embora seja um livro-reportagem, ele tem toda a estrutura de romance. Tem suspense, enfrentamento, tensão, confronto físico, tortura, morte, tem todos os ingredientes de romance. O jornalismo literário nos permite trazer uma linguagem mais romanceada dos fatos, porém buscando sempre a questão da história como pauta principal.

 

Onde comprar:

Av. Dom Severino, 1045 - Fátima  Teresina - PI, 64049-375 - (86) 3234-1471

ou

www.portalentretextos.com.br/livraria-online.html