[Flávio Bittencourt]

Tomás de Aquino e experiências radicais vividas pelos primeiros monges

De acordo com o sábio (pseudo-) Dionísio, "malum autem contingit ex singularibus defectis". 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  

 

 

O PRIMO RICO E O PRIMO POBRE,

personagens geniais do imaginário brasileiro,

que nasceram na ERA DO RÁDIO e migraram,

felizmente, para a TELEVISÃO

(SÓ A FOTO MAGNÍFICA, SEM A EMOCIONADA

LEGENDA ACIMA CRIADA:

http://almamarcada.blogspot.com/)

 

 

 

 

 "

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O SETE

Temos de admitir que existe um número que assume declaradamente as suas funções cabalísticas, no exercício que suplanta as suas capacidades aritméticas. É o sete.
É evidente que o número sete nos empolga. Mas também é evidente que nos assusta e nos retrai. E que tudo isto se consuma no silêncio do número atravessado a meio da perna por um hífen e se desenvolve, simultaneamente, num círculo vicioso e numa série de ambiguidades
. (...)".
 

(http://bandarra-bandurra.blogspot.com/2010/04/o-sete-temos-de-admitir-que-existe-um.html)

 

 

 

 

OITAVO PECADO CAPITAL:

O DESPERDÍCIO, que parece ter

algo a ver com a SOBERBA e com

(um pecado capital  "novo")

a DESIGUALDADE SOCIAL...

 

 (http://www.motorpasion.com.br/geral-carros/curiosidades/frase-da-semana-carro-velho-gnv-sociedade-com-mecanico-e-banco/)

 

 

 

 

OS SETE PECADOS CAPITAIS:

inveja, preguiça, ira, soberba, avareza, luxúria e gula

 

img-7-pecados-capitais-adsense

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

(http://www.nuvemseo.net/os-7-pecados-capitais-do-google-adsense

 

 

 

 

"(...) A manipulação genética, o uso de drogas, a desigualdade social e a poluição ambiental estão entre os novos pecados capitais pelos quais os cristãos devem pedir perdão, segundo a nova lista apresentada pela Santa Sé. (...)".

(http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL344282-5602,00-VATICANO+DIVULGA+LISTA+DE+NOVOS+PECADOS+CAPITAIS.html)

 

 

 

 

 

(http://tvfproducoes.blogspot.com/2010/11/o-clone.html)

 

 

 

 

(http://clickindiscreto.blogspot.com/2010/11/onde-e-proibido-puxar-fumo-digo-fumar.html)

 

 

 

 

 

(http://reflexionis.wordpress.com/tag/desigualdade-social/)

 

 

 

 

NA IMPRESSIONANTE CHARGE

com finalidade exemplificativo-educacional

a seguir reproduzida, 

NO TUBO DO MERGULHADOR HÁ ar (OXIGÊNIO),

ENQUANTO NO

TUBO DO PEIXE EXISTE ÁGUA (ÁGUA PURA, NÃO-POLUÍDA

PORTANTO): 

 

poluicao.jpg

(http://www.pesca.tur.br/artigos/poluicao-e-morte-dos-peixes/)
 

 

 

MAIS DOIS pecados capitais, PARA QUE SE CHEGUE AO CABALÍSTICO

NÚMERO 7 (SETE):

 

 

"[PRÁTICA DO] Bullying [A SEGUIR, DEPOIMENTO DE VÍTIMA - DO GÊNERO FEMININO, POSSIVELMENTE MUITO JOVEM - DE PERSEGUIÇÃO INCLEMENTE EM VÁRIOS LOCAIS POR ELA FREQUENTADOS COMO ESCOLA, CURSOS DE MENOR DURAÇÃO E AMBIENTES DE ESTAR (eventualmente, de praticar esportes, organizar reuniões de moradores e participar de festas) COMUNS AOS CONDÔMINOS DE UM EDIFÍCIO DE APARTAMENTOS]

 

 
Oi, pessoal, vim fazer esse post super sério, sem graça nenhuma.
(Na) promoção dos 16 desejos eu recebi uns desejos pedindo que pare de sofrer bullying na escola, prédio, curso, enfim.
Eu sofro bullying na escola e bullying é uma coisa muito ruim de se passar, ser humilhada, ser deixada de lado realmente é muito triste e não é brincadeira que se faça porque é CRIME (O GRIFO É DO TEXTO ORIGINAL) e se você achar que estiver muito sério [SE VOCÊ ACHAR QUE A PERSEGUIÇÃO CONSTATADA CHEGOU A UM PONTO INTOLERÁVEL], você pode ir na delegacia. Os pais dessa pessoa [OS PAIS OU OS RESPONSÁVEIS PELA POSSE E GUARDA DO AGRESSOR] (podem) ficar (presos) ou pagar 10 mil reais para a pessoa que sofre esse tipo de humilhação. Uma criança [VÁRIAS CRIANÇAS] ja se MATOU [JÁ SE MATARAM] por estar sofrendo bullying. Pode até parecer nada demais, mas é serio isso, pessoal, mexe com a pessoa [ABALA PROFUNDAMENTE OS ALICERCES PSICOLÓGICOS DA VÍTIMA]. (...)".
 

 

 

 

 

E O "ÚLTIMO" (QUE OCORREU, APRESSADAMENTE, NO âmbito desta Coluna):

 

 

 

                              

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

(http://blogideiacerta.blogspot.com/2008/11/em-defesa-dos-animais.html)

 

 

 

 

 

[POR FIM, UM PECADO CAPITAL menos grave:

PASSAR COM ALTO-FALANTE A AZUCRINAR TODA A RUA:

"- PAMONHA! QUEM QUER PAMONHA?" (*risos*)]

 

 

 

 

 

 

                               HOMENAGEANDO O PROF. DR. JEAN LAUAND,

                               DA FACULDADE DE EDUCAÇÃO

                               DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, BRASIL, E

                               DO INSTITUTO JURÍDICO INTERDISCIPLINAR

                               DA UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL

 

  

 

11.1.2011 - Para conhecer o mal é necessário voltar-se para os modos concretos em que ele ocorre - (Pseudo-) Dionísio o disse e isso tem algo (ou, mesmo, muito) a ver com OS SETE PECADOS CAPITAIS.  F. A. L. Bittencourt ([email protected])

 

 

 

 

"S. Tomás de Aquino e os
Pecados Capitais
[1]

Jean Lauand
Prof. Titular FEUSP
IJI – Univ. do Porto
[email protected]

 

Pecados capitais: uma elaboração teológica da experiência antropológica

Em sua doutrina sobre os pecados capitais - ou vícios capitais -, Tomás repensa a experiência acumulada sobre o homem ao longo de séculos. Se o filosofar do Aquinate é sempre voltado para a experiência e para o fenômeno, mais do que em qualquer outro campo é quando trata dos vícios que seu pensamento mergulha no concreto, pois, citando o sábio (pseudo-) Dionísio, "malum autem contingit ex singularibus defectis" - para conhecer o mal é necessário voltar-se para os modos concretos em que ele ocorre. Assim, é freqüente encontrarmos nas discussões de Tomás sobre os vícios - para além da aparente estruturação escolástica - expressões de um forte empirismo como: "Contingit autem ut in pluribus..." (o que realmente acontece na maioria dos casos...).

A doutrina dos vícios capitais é fruto de um empenho de organizar a experiência antropológica cujas origens remontam a João Cassiano e Gregório Magno, que têm em comum precisamente esse voltar-se para a realidade concreta.

Cassiano - bem poderia ser escolhido o padroeiro dos jornalistas - é o homem que, em torno do ano 400, percorreu os desertos do Oriente para recolher - em "reportagens" e entrevistas - as experiências radicais vividas pelos primeiros monges; já o papa Gregório (não por acaso cognominado Magno), cuja morte em 604 marca o fim do período patrístico, é um dos maiores gênios da pastoral de todos os tempos.

Ambos tratam de fazer uma tomografia da alma humana e, no que diz respeito aos vícios, surge a doutrina dos pecados capitais, que encontra sua máxima profundidade e sua forma acabada no tratamento que lhe dá Tomás. Essa doutrina - que, como tantas outras descobertas antropológicas dos antigos, está hoje esquecida - bem poderia ajudar ao homem contemporâneo em sua desorientação moral e antropológica. Seja como for, a Igreja ainda fala em seu novo Catecismo da doutrina dos sete pecados capitais, fruto da "experiência cristã" (ponto 1866).

Os vícios capitais na enumeração de Tomás [2] são: vaidade, avareza, inveja, ira, luxúria, gula e acídia. Hoje, em lugar da vaidade, a Igreja coloca a soberba e em lugar da acídia é mais freqüente encontrarmos a preguiça na lista dos vícios capitais. Isto se deve a que a soberba é considerada por Tomás como um pecado, por assim dizer, "mega-capital", fora da série e, portanto, prefere falar em vaidade (inanis gloria, vanglória). Já a substituição da acídia pela preguiça parece realmente um empobrecimento, uma vez que, como veremos, a acídia medieval - e os pecados dela derivados - propiciam uma clave extraordinária precisamente para a compreensão do desespero do homem contemporâneo.

Assim, toda uma milenar experiência sobre o homem traduz-se em Tomás em sete vícios capitais, que arrastam atrás de si "filhas", "exércitos", em total cerca de cinqüenta outros vícios, cujos nomes podem soar a nossos ouvidos hoje como algo estranho, como é o caso da já citada "acídia". E precisamente aí encontra-se nossa dificuldade contemporânea: é-nos difícil acessar as realidades ético-antropológicas por falta de linguagem: como se tivéssemos que transmitir um jogo de futebol, mas sem poder contar com palavras como: pênalti, carrinho, grande área, cartão, impedimento etc.

Não se pense que com isto estamos afirmando que Tomás empregue uma terminologia reservada a especialistas (as dificuldades decorrem da distância cultural-lingüística e não de tecnicismos). Não! Ele se vale da linguagem comum de sua época, tão espontânea como, afinal, é para nós o léxico do futebol. Assim, quando lermos os textos de Tomás sobre os vícios capitais, o leitor não estaria longe da realidade se os retraduzisse em nossa linguagem popular [3] . Por exemplo, a filha da inveja chamada sussurratio (e que traduzimos academicamente por murmuração) é, pura e simplesmente, a fofoca de inveja.

Comecemos por indicar o que significa vício capital. S. Tomás ensina que recebem este nome por derivar-se de caput: cabeça, líder, chefe (em italiano ainda hoje há a derivação: capo, capo-Máfia); sete poderosos chefões que comandam outros vícios subordinados.

Nesse sentido, os vícios capitais são sete vícios especiais, que gozam de uma especial "liderança" [4] . O vício (e o vício capital compromete muitos aspectos da conduta) é uma restrição à autêntica liberdade e um condicionamento para agir mal.

Tomás, após analisar cada vício capital, trata das "filhas" desse vício, os maus hábitos que dele decorrem.

A soberba, um pecado supra-capital

Como dizíamos, Tomás situa a soberba fora e acima da lista dos vícios capitais.

Após afirmar o princípio básico - "todo pecado se fundamenta em algum desejo natural e o homem, ao seguir qualquer desejo natural, tende à semelhança divina, pois todo bem naturalmente desejado é uma certa semelhança com a bondade divina" -, e que o pecado é desviar-se da reta apropriação de um bem, Tomás lembra que, se a busca da própria excelência é um bem, a desordem, a distorção dessa busca é a soberba que, assim, se encontra em qualquer outro pecado: seja por recusar a superioridade de Deus que dá uma norma, norma esta recusada pelo pecado, seja pela projeção da soberba que se dá em qualquer outro pecado.

Ao acumular indevidamente riquezas, por exemplo, é a afirmação da excelência do eu - pela posse - o que se busca. Assim, a soberba, mais do que um pecado capital, é rainha e raiz de todos os pecados. "A soberba geralmente é considerada como mãe de todos os vícios e, em dependência dela, se situam os sete vícios capitais, dentre os quais a vaidade é o que lhe é mais próximo: pois esta visa manifestar a excelência pretendida pela soberba e, portanto, todas as filhas da vaidade têm afinidade com a soberba" (De Malo 9, 3, ad 1).

Uma  explicação especial para a ira e a acídia

Dois dos pecados capitais requerem uma cuidadosa explicação para a boa compreensão do leitor contemporâneo são a acídia, algo mais do que a preguiça, e a ira, que nem sempre é pecado, uma vez que pode também atuar a favor da virtude.

Valemo-nos aqui do clássico de Josef Pieper Virtudes Fundamentais (Lisboa, Aster, 1960). Comecemos pela acídia - realidade mais atual do que nunca e incrivelmente esquecida! - analisada no capítulo "Concupiscência dos olhos":

ACÍDIA E CURIOSITAS (pp. 280-2):

"Há um desejo de ver que perverte o sentido original da visão e leva o próprio homem à desordem. O fim do sentido da vista é a percepção da realidade. A 'concupiscência dos olhos', porém, não quer perceber a realidade, mas ver. Agostinho diz que a avidez dos gulosos não é de saciar-se, mas de comer e saborear; e o mesmo se pode aplicar à curiositas e à 'concupiscência dos olhos'. A preocupação deste ver não é a de apreender e, fazendo-o, penetrar na verdade, mas a de se abandonar ao mundo, como diz Heidegger em seu Ser e Tempo. Tomás liga a curiositas à evagatio mentis, 'dissipação do espírito', que considera filha primogênita da acídia. E a acídia é aquela tristeza modorrenta do coração que não se julga capaz de realizar aquilo para que Deus criou o homem. Essa modorra mostra sempre sua face fúnebre, onde quer que o homem tente sacudir a ontológica e essencial nobreza de seu ser como pessoa e suas obrigações e sobretudo a nobreza de sua filiação divina: isto é, quando repudia seu verdadeiro ser! A acídia manifesta-se assim, diz Tomás, primeiramente na 'dissipação do espírito' (a sua segunda filha é o desespero e isto é muito elucidativo). A 'dissipação do espírito' manifesta-se, por sua vez, na tagarelice, na apetência indomável 'de sair da torre do espírito e derramar-se no variado', numa irrequietação interior, na inconstância da decisão e na volubilidade do caráter e, portanto, na insatisfação insaciável da curiositas.

"A perversão da inclinação natural de conhecer em curiositas pode, conseqüentemente, ser algo mais do que uma confusão inofensiva à flor do ser humano. Pode ser o sinal de sua total esterilidade e desenraizamento. Pode significar que o homem perdeu a capacidade de habitar em si próprio; que ele, na fuga de si, avesso e entediado com a aridez de um interior queimado pelo desespero, procura, com angustioso egoísmo, em mil caminhos baldados, aquele bem que só a magnânima serenidade de um coração preparado para o sacrifício, portanto senhor de si, pode alcançar: a plenitude da existência, uma vida inteiramente vivida. E porque não há realmente vida na fonte profunda de sua essência, vai mendigando, como outra vez diz Heidegger, na 'curiosidade que nada deixa inexplorado', a garantia de uma fictícia 'vida intensamente vivida'."

A AMBIVALÊNCIA DA IRA (pp. 272-3):

"É absolutamente sem razão que na linguagem corrente os conceitos de 'sentidos', 'paixão', 'concupiscência' sejam compreendidos como 'sensualidade', 'paixão má' e 'concupiscência desordenada'. Limitações como estas, de um significado originalmente muito mais amplo, esquecem o mais importante, isto é, que todos estes conceitos não possuem apenas um sentido negativo, mas que, muito pelo contrário, estão neles representadas forças das quais a natureza humana essencialmente se estrutura e vive.

A consciência comum cristã costuma, sempre que se fala de ira, ter em mente apenas o aspecto da intemperança, o elemento desordenador e negativo. Mas tanto como 'os sentidos', e a 'concupiscência', a ira pertence às máximas potencialidades da natureza humana. Essa força, isto é, irar-se, é a expressão mais clara da energia da natureza humana. Conseguir uma coisa difícil de alcançar, superar uma contrariedade: eis a função desse apetite sempre pronto a entrar em campo quando um bonum arduum, 'um bem difícil' deva ser conquistado. Daí que Tomás afirme: 'A ira foi dada aos seres dotados de vida animal para que removam os obstáculos que inibem o apetite concupiscível de tender aos seus objetivos, seja por causa da dificuldade de alcançar um bem, seja pela dificuldade de superar um mal' (I-II, 23, 1 ad 1). A ira é a força que permite atacar um mal adverso (I-II, 23, 3); a força da ira é a autêntica força de defesa e de resistência da alma (I, 81, 2).

"Portanto, condenar o apetite irascível, como se fosse intrinsecamente mau, e devesse ser 'reprimido', equivale a condenar os 'sentidos', a 'paixão' e a 'concupiscência'; nos dois casos se ultrajam as maiores energias da nossa natureza, ofende-se o Criador que, como diz a liturgia da Igreja: 'estruturou maravilhosamente a dignidade da natureza humana'."

Os pecados capitais, um por um

O De Malo - do qual apresentamos uma seleção de artigos dedicados aos vícios capitais da Inveja e da Avareza - parecem ser questões disputadas em Roma durante o ano letivo 1266-67 ou, segundo outros críticos contemporâneos, em Paris, no ano letivo 1269-70. Boa parte desse tratado é dedicada aos pecados capitais e se articula com a discussão dos mesmos na secunda parte da Summa Theologica (escrito não antes do De Malo) [5] . A quaestio disputata, como bem salienta Weisheipl, integra a própria essência da educação escolástica: "Não era suficiente escutar a exposição dos grandes livros do pensamento ocidental por um mestre; era essencial que as grandes idéias se examinassem criticamente na disputa" [6] . Uma quaestio disputata está dedicada a um tema - como por exemplo tal vício capital - e divide-se em artigos, que correspondem a capítulos ou aspectos desse tema, que é discutido pelo confronto de objeções e contra-objeções, permeado de um corpus, no qual o mestre - no caso Tomás - dá a sua solução ao problema. São precisamente alguns destes corpus que oferecemos ao leitor.

S. Tomás começa - De Malo, 8, 1 - por discutir as razões pelas quais se define o conceito de vício capital e conclui que isto se dá pela articulação objetiva de finalidades: o pecado capital, pecado "capitão", impõe uma cadeia de motivações. Assim por exemplo, à avareza estão subordinadas a fraude e o engano. A análise dessa ordo de fins estabelece sete linhas fundamentais de causalidade: os sete vícios capitais.

A seguir - De Malo, 8, 2 -, discute o caso da soberba, se se trata de um pecado específico ou, pelo contrário, um pecado geral sem objeto próprio, a forma de qualquer pecado. Um pecado se especifica por seu objeto próprio: um bem definido que o pecado perverte. Assim, Tomás começa por enunciar este seu princípio ético fundamental: "todo pecado se fundamenta em algum desejo natural e o homem, ao seguir qualquer desejo natural, tende à semelhança divina, pois todo bem naturalmente desejado é uma certa semelhança com a bondade divina".

Ora, há um bem específico, "a própria excelência", distorcidamente buscado pela soberba que, assim, se constitui em pecado específico. Mas esse bem é tão amplo que, de certo modo, a soberba continua presente nos outros pecados e Tomás prefere não incluir a soberba na lista dos pecados capitais, mas, como dizíamos, considerá-la um pecado, por assim dizer, supra-capital, fora da série.

E assim - De Malo, 9, 1 -, Tomás, em lugar da soberba, prefere falar da vanglória (vã-glória) ou vaidade como pecado capital. Ao discutir os conceitos de e de glória, fala desta como esplendor (daí nossos adjetivos: brilhante, ilustre, esplêndido etc.). A perversão do bem da glória é precisamente a glória vã da vaidade.

Em outro artigo da questão da vaidade - De Malo, 9, 3 -, Tomás - como fará também com todos os outros vícios capitais - analisa as filhas, os sete vícios derivados da vaidade: "Sendo o fim próprio da vaidade a manifestação da própria excelência, chamam-se filhas da vaidade aqueles vícios pelos quais - direta ou indiretamente - o homem tende a manifestar a própria excelência."

O vício capital que Tomás analisa a seguir - De Malo, questão 10 - é a inveja. E começamos pelo artigo 2, em que Tomás discute - tal como o faz com os outros vícios capitais - se se trata de um pecado mortal. No artigo seguinte da questão sobre a inveja - art. 3 - apresentam-se as cinco filhas da inveja.

À acídia é dedicada a questão 11 do De Malo e começamos pelo artigo 1, que mostra que a acídia é pecado, e, em seguida, apresentamos o tratamento dado pela Summa Theologica II-II q. 35, a.4. à acídia como pecado capital e suas filhas: desespero, pusilanimidade, torpor, rancor, malícia, divagação da mente.

A questão 12 do De Malo é destinada à ira e às suas "filhas". É extremamente valiosa a reflexão do Aquinate sobre o valor positivo da ira enquanto impulso vital na busca de um bem. E há aqui uma pista para um possível antídoto aos males da acídia.

A questão 13 do De Malo discute a avareza. Uma de suas "filhas" é a traição, o que faz Tomás atentar para o fato de que Judas, que trazia as contas do grupo dos apóstolos de Cristo, traiu o Mestre porque, como diz o Evangelho, roubava da bolsa comum.

A questão 14 do De Malo contempla a gula, vício que, como os demais, é a desordem de um desejo natural, no caso, o de comer e beber.

Por fim, a luxúria. Selecionamos, além de uma passagem correspondente à questão 15 do De Malo, trechos de Summa Theologica II-II q. 153. É um sinal preocupante já ter ouvido jovens de hoje dizerem que luxúria é um apego ao luxo. A perda do conceito e da palavra denunciam, de modo patético, a perda mesma da consciência do problema.



[1] Trechos de estudo introdutório a traduções de Tomás, originalmente publicado em: Tomás de Aquino – Sobre o Ensino (De Magistro) & Os Sete Pecados Capitais, São Paulo, Martins Fontes, 2001.

[2] . A classificação de Tomás difere ligeiramente das de Cassiano e Gregório.

[3] . Jocosamente, propomos um exemplo caricaturesco dessa leitura. Tomemos o seguinte trecho de Tomás: "(Como já dissemos, vício capital é aquele do qual procedem - a título de finalidade - outros vícios). Ora, acontece freqüentemente que, pelo fim da ira, isto é, por tomar vingança, se cometam muitas ações fora da ordem moral e, assim, a ira é vício capital". E agora façamos dele uma versão "popular": "Pô, vira e mexe o cara fica fulo da vida porque aprontaram feio com ele, e como ele não tá a fim de deixar barato pode acabar forçando e pisar na bola da moral. Portanto, a ira é pecado cabeça de chave".

[4] . Nos dois sentidos da palavra: líder - o primeiro lugar; e líder - aquele que dirige, leader.

[5] . Para a datação das obras de Tomás, veja-se Weisheipl, James E. Tomás de Aquino, vida, obras y doctrina, Pamplona, Eunsa, 1994.