Tio Genaro e Antônio são importantes e ativos, pois possuem a “chave” da interação entre a Dimensão Mítica e a Dimensão Social (juízos negativos e juízos positivos). Os juízos de descoberta virão por acréscimo, amparados pelo dilatado imaginário-em-aberto do criador ficcional. Eles não falam porque, temporariamente, estão vigorando na dimensão sobrenatural da obra de Rogel Samuel. Eles não falam porque representam a superfície insólita do imaginário dilatado e silencioso do escritor pós-modernista de Segunda Geração. Não falam porque, nessa dimensão incomum da obra rogeliana, as palavras serão formalizadas gradativamente. Não falam, mas serão os indutores de incríveis acontecimentos, necessários guardiões do limite entre a realidade conceitual e a supra-realidade, também conceitual. Eles deixam o narrador “sentado no escuro, chorando no abandono e solidão, porque ele terá de encontrar, sozinho, por conta própria, singularmente, o rumo do que deseja escrever, mesmo que infrinja as Leis do “Bem Narrar” à moda tradicional. Para “Bem Ver e Escrever” a realidade do século XX, o narrador pós-modernista de Segunda Geração terá de passar pela iniciação do quarto escuro, o que Bachelard nomeia como “repouso ativado” (Dialética da Duração). O narrador, alter ego do escritor, ao se defrontar com os “parentes”, intui a grandeza da empreitada na qual se lançara. Ali, diante do tio Genaro e do irmão Antônio, se percebe “chorando no abandono e solidão”. Ali, “sentado no escuro”, ele sente a água da chuva (forças imaginantes da água, pelo ponto de vista bachelardiano) a escorrer na “mala de amarrado”. E ele “não quis ter vindo, mas não tinha o caminho de volta”. E nunca mais voltou.
NEUZA MACHADO
http://esplendoredecadencia.blogspot.com/