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 THE GENTLEMEN’S ALLIANCE 7: HAINE CERCADA POR TORTUOSIDADES

Miguel Carqueija

 

 

Resenha do volume 7 do mangá “The gentlemen’s alliance: Cross” (Aliança dos cavalheiros: Cruz”) de Arina Tanemura. Editora Sueisha, Tóquio, Japão, 2004. Editora Panini, Barueri (SP), 2011. Tradução: Karen Kazumi Hayashida. Capítulos 28 a 32.

 

 

No grande romance gráfico de Arina Tanemura, um anti-clímax precede o grandioso drama final, onde Haine Otomiya terá de enfrentar a poderosa família Touguu.

 

 

            O sétimo volume do denso mangá “The Gentlemen’s Alliance” ainda traz distrações em relação ao drama principal, ou seja o encontro de Haine Otomiya com o mistério de família que envolve os gêmeos Shizumasa e Takanari Touguu.  Haine sente-se em dúvida no seu coração, pois não sabe ao certo a qual amar. Ela já sabe que o rapaz que na maior parte das vezes se apresenta como o Presidente do Conselho Estudantil não é Shizumasa como ela pensava mas o seu duplo, Takanari; isso por causa da débil saúde do primeiro. Mas há um ponto que Haine em sua inocência não parece ter percebido: o gêmeo tinha o direito à própria vida e à própria escolaridade. No fim, só o outro irá se diplomar. Entretanto, coisas mais tenebrosas envolvem a tirania familiar sobre Takanari. Haine ainda não descobriu, mas trata-se de um paralelo com a história do “Máscara de ferro” de Alexandre Dumas.

 

            Porém, parece que Arina Tanemura buscou por em relevo as qualidades altruístas de Haine, e seu espírito de sacrifício pelos outros. O sétimo volume trata de uma situação embaraçosa para a menina, relacionada com sua amiga Ushio Amamiya , que aparece desdo o primeiro volume. Haine tem por Ushio uma amizade muito carinhosa e até exagerada, mas sexualmente a protagonista é obviamente hetero. Mas não é esse o pensamento de Ushio, e de repente Haine fica preocupada, pois sua melhor amiga resolveu andar de amassos com diversos garotos. As duas têm uma conversa pessoal e isolada bastante tensa, quando Ushio, com o coração repleto de rancor e frustração, desabafa tudo o que lhe vai na mente. Declara simplesmente “odiar” todos os homens, e também não gosta das outras mulheres (assim seu comportamento com os rapazes seria puro desespero). Só se interessa por Haine. Uma tal declaração raivosa desconcerta a menina inocente. E Ushio radicaliza tudo de maneira insana: “Se você não pensa da mesma forma, se eu não sou a pessoa de quem você mais gosta, não quero vê-la nunca mais.” A pureza dos sentimentos de Haine, sem uma sombra de desejo sexual, esbarra com tal dureza. Antes, ao saber que Ushio estava com problemas, a menina lembrou-se dos seus tempos de delinquente juvenil, quando, afora a gang feminina, só tinha a amizade de Ushio: “Você me conheceu quando eu estava mergulhada em um mundo sombrio. E olhava por mim enquanto eu buscava a luz. Se há alguma sombra em seu coração eu gostaria de saber, Ushio.”

            Para uma pessoa tão grata como Haine, a situação é dolorosa.

            Depois de descobrir o diário de Ushio, onde é metaforicamente chamada de “canário” Haine toma uma decisão que parece abrigar algum truque psicológico. Primeiro, entrega a Takanari o seu cargo de “Platina do Imperador”, em seguida procura Ushio e a abraça, como aceitando o seu amor. A cena é desconcertante, pois de antemão se adivinha que não é essa a intenção de Haine, já que a mesma é hetero e já apaixonada confusamente por dois rapazes (ou indecisa entre os dois). O que pretende Haine em sua generosidade? Tirar Ushio da depressão, mas e depois? Ela vê Ushio somente como uma grande amiga, qualquer outra coisa vai contra a sua natureza. Mas o sétimo volume se encerra (não contando os quadros extras e recadinhos que a autora tem mania de espalhar do princípio ao fim) deixando esta situação em suspenso.

 

 

Rio de Janeiro, 2 de outubro de 2015.

 

(imagem da mangaká Arina Tanemura, criadora do mangá The Gentlemen's Alliance e vários outros como Full Moon)