Revista Redempção,
novembro 1932
A história faceta sobre Th. Vaz pertence ao saudoso mestre Mário Ypiranga, e foi copiada de seu livro Histórias facetas de Manaus, editado em 2012.
 
FONTE:
RECADO PARA O GERENTE DO B. N. U.
  
Muita gente ainda se recorda da figura citadina que ilustrou a sociedade e a cultura amazonense até meados do 20º século: Taumaturgo Sotero Vaz, o Th: Vaz dos poemas disseminados pelas folhas, vulgo "Patureba". Era um piauiense de talento polimorfo, tanto capaz de aventuras facetas como de páginas brilhantes, membro titular da Academia Amazonense de Letras.
Feio como a Megera, casou-se dentro de uma família de respeito, os Belmont, e (a esposa) era bonita e prendada. A quem lhe perguntava o motivo de haver escolhido um sujeito nada simpático de cara, ela respondia: -- Porque assim ninguém me toma...
 
Taumaturgo Vaz, formado em Direito (pela Faculdade de Direito do Recife), era um boêmio do tipo que se comporta sempre com a polidez de quem teve educação esmerada. Fazia suas farras na "Cervejaria Boêmia', no "Itatiaia", mas com dignidade. Andava sempre de bolsos vazios, porque o dinheiro do emprego era sagrado, ia direto para as mãos da esposa, que então lhe dava aquela parca quantia para a cerveja. O poeta ganhava os extras escrevendo por encomenda de terceiros, como era de vezo antigamente.
 
Diz-se mesmo que muito poeta daquela época áurea publicou livro escrito pelo Th: Vaz. Além disso, ele colaborava na imprensa, diariamente, com pulhices rimadas, que ajudavam a desopilar o fígado mal alimentado do povo.
 
Uma tarde, Th: Vaz recebeu um cheque graúdo de um dos seus "fregueses", a descontar no Banco Nacional Ultramarino (BNU).
Para seu azar estava findando o dia e o caixa do banco negou-se a descontar o cheque, sob a alegação de que às dezesseis horas
ficavam encerradas as operações de pagamento, mas que ele, interessado, fosse ao gerente, pela ordem de desconto. Taumaturgo Vaz, sempre precisado, não teve dúvida em abordar a pessoa mal encarada do portuga e solicitar o favor. O homem, que não conhecia com quem tratava, negou-se a ordenar o desconto e fechou a portinha do guichê na cara do poeta.
 
Taumaturgo saiu ruminando um desforço (sic) à altura e foi à "Livraria Velho Lino" pedindo papel e envelope. Ali mesmo escreveu o seguinte:
O nome do banco é BU,
o do gerente é Lacerda.
O banco rima com cu
e o gerente com merda.
Fechou, pôs o endereço e deu um níquel ao italiano carregador. Ali mesmo na livraria descontou o cheque, mas invés de escafeder, ficou mancuricando a zona. Com pouco viu o corre-corre, gente da polícia (ali perto) a dirigir-se ao banco e só então foi embora...