Nas comemorações de 35 anos da concepção do miniconto, o escritor amazonense Adrino Aragão, 74 anos, ganha de presente um estudo científico sobre sua obra literária, transformado no livro “O conto à meia-luz”, do poeta e pesquisador mineiro Joaquim Branco (foto-detalhe), que destrincha o discurso mimético e minimalista adriniano.
Em “O conto à meia-luz”, resultado da tese de pós-doutorado do professor-doutor em Literatura Comparada, Joaquim Branco Ribeiro Filho – apresentada à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em 2010 – o autor faz uma abordagem da narrativa do escritor Adrino Aragão em três estágios de sua produção, identificados nos livros “Inquietações de um feto” (1976), “Tigre no Espelho” (1993) e “conto, não conto e outras inquietações” (2006).
Esses livros retratam a linha de trabalho do contista amazonense e de sua formatação dentro da chamada narrativa breve e os estágios do conto, miniconto e microconto.
Para desvendar esse novelo narrativo do amigo e admirador, Branco vai beber nas fontes universais a partir de Homero e Esopo; Cervantes e Boccaccio e nas sofisticadas penas de Edgar Alan Poe, Kipling, Mark Twain, Machado de Assis, Dickens, Tchecov até chegar ao século 20 de Joyce, Kafka, Hemingway, Borges, Cortazar, Guimarães Rosa e Virgínia Woolf.
Haikai japonês
Por se tratar de um remanescente do experimentalismo dos anos 1960, ainda pouco conhecido nos grandes centros culturais como Rio de Janeiro e São Paulo e também no meio acadêmico, o professor Joaquim Branco diz que a obra do amazonense Adrino Aragão se insere nas categorias das narrativas curtas, concisas e objetivas, a exemplo do haikai clássico do poeta japonês Matsuo Bashô, o que é admitido pelo próprio microntista.
Quando cuida da fragmentação, tempo e montagem, características da estrutura contística, do minimalismo e do discurso mimético, Branco cita Bashô e o compara a Aragão na sequência do conto-poema “Sonhos” (conto, não-conto e outras inquietações): “a lâmina da faca, como um chicote de fogo, decepou-lhe a cabeça, banhada de sonhos”. Ao analisar esse microconto, o professor de literatura comparada chega à conclusão de que o sintagma final “banhada de sonhos” reaproveita e substitui o lugar-comum esperado pelo leitor, que seria “banhada de sangue”.
Segundo ele, a substituição do termo “sangue” por “sonhos” alcança o significado expressivo e amplificado sugerido pelo contista, pois aí está elíptico todo um sentimento de heroicidade, revolução, martírio, santidade, etc. “A consequência se abre para o leitor no verso final para que ele faça a sua leitura-interpretação”, conclui.
Para o autor de “O conto à meia-luz”, Adrino Aragão, embora seja originário de uma região típica – a amazônica – não se enquadra entre os chamados regionalistas, nem na temática nem no aspecto caudaloso que poderia caracterizar um autor originário dessa imensa bacia fluvial. No entanto, deixa entrever em sua ficção algo de ambivalência, dos personagens e da trama de seu texto, como em “Encantamento”, “O pescador”, “O raio”, “Os habitantes da chuva”, “Último barco”, “Visitante ilustre” e “A baleia branca”, em que o amazonense mergulha na história e na vida amazônica, proporcionando-nos momentos mágicos pelas belas descrições da região."
(http://acritica.uol.com.br/vida/Estudo-cientifico-amazonense-Adrino-Aragao_0_526747495.html)