Temer não é golpista
Por Miguel Carqueija Em: 10/05/2017, às 18H23
Miguel Carqueija
Em primeiro lugar, para evitar mal-entendidos, devo esclarecer (lembrar, pois isso está claro nos meus últimos escritos) que não sou partidário de Michel Temer, mesmo sendo ele meu xará, e que considero a reforma da Previdência, do jeito que ele quer fazer, uma iniquidade pois contraria este princípio que eu elaborei e que sempre procuro respeitar:
“O país é o seu povo; logo, pretender melhorar a situação do país piorando a situação do povo é uma contradição e uma injustiça, e uma equação que não fecha.”
Estando porém na oposição ao governo Temer nem por isso concordo com a propaganda petista que fala em “golpe” (golpe pra cá, golpe pra lá) e acusa Temer de ser golpista e de ter assumido sem votos e de ser um presidente ilegítimo. Por trás de tudo isso está o inconformismo petista diante do desmascaramento de seus líderes e a perda do poder. O que o PT e seus aliados querem é o poder, para um dia consolidarem a ditadura comunista como essa que hoje está esfomeando o povo da Venezuela.
Vejamos então o que realmente aconteceu. Primeiro foi o povo brasileiro que saiu às ruas em multidões imensas, em passeatas e manifestações VERDE-AMARELAS que os petistas tentaram responder com bem menores manifestações VERMELHAS. Nessas ocasiões bastava uma visão aérea mostrada na tv para saber PELA COR se os manifestantes eram a favor ou contra Dilma. Sim, o povo brasileiro saiu às ruas contra Dilma, pedindo a saída da irascível, intratável e incompetente “presidenta” conforme o modo de falar pernóstico da nossa esquerda petista.
“A voz do povo é a voz de Deus”, diz um ditado. E foi em seguida que um grupo de juristas deu entrada no Congresso com o pedido de impedimento da presidente (não usemos aqui aquele estrangeirismo sem cabimento). Foram Ive Gandra, Hélio Bicudo e Miguel Reale Júnior, eminentes e dignos juristas. Ive Gandra, aliás, mantém um programa de altíssimo nível na Rede Vida.
Isto foi o que noticiaram na época. Não sei por que o nome de Gandra foi substituído pelo de Janaína Paschoal. Mas o fato é que, no programa de Jô Soares, ele confirmou ser a favor do impedimento. Marina Silva, que estava presente, foi mais além e declarou que a chapa devia ser afastada, portanto também o Temer. Hoje eu acho que ela tinha razão.
Esse pedido foi aceito pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, hoje cassado e preso. Isto é claro não significa que o processo seja inválido: Cunha inclusive a meu ver pisou na bola, pois os juristas apresentaram três razões, e ele só aceitou duas: as tais “pedaladas fiscais” (expressão ridícula) e certos decretos. Ficou de fora a terceira e mais forte denúncia, o Petrolão. Por que será que Cunha não levou em conta essa acusação que, se fosse discutida no Congresso, criaria mais embaraços à Dilma?
Para resumir, Dilma perdeu na Câmara e o processo seguiu para o Senado, e sob a supervisão do STF. Foi tudo tão legal que, ao se defender no Senado, Dilma admitiu que o “rito” (constitucional) estava sendo seguido; mas haveria golpe se a decisão fosse contra ela, pois como ela e seus adeptos alegaram é que “impedimento sem crime de responsabilidade é golpe”. Assim ela absolveu a si mesma e condenou seus juízes. Se a moda pega...
Dilma perdeu no Senado e foi afinal afastada.
O que é que o Temer tem, diretamente, a ver com isso? Ele não participou da tramitação do processo e nem poderia, pois não era sua alçada. E, a não ser que por alguma razão misteriosa isso só não valha para o Brasil em 2016, se o titular por alguma razão não pode continuar quem assume é o vice. É assim em todo lugar, por que seria diferente dessa vez? Quando Itamar Franco assumiu no lugar de Collor, mesmo mque os dois já não se dessem, até onde me lembro ninguém acusou o mineiro de ser golpista. Gente, foi a própria Dilma que escolheu – ou a cúpula do PT por ela, ou o Lula, sei lá – o Temer para vice! E ele atravessou como vice todo o primeiro mandato da Dilma e entrou no segundo mandato! Se afinal ele é tão ruim assim por que o escolheram? Além disso em todas as diatribes que os petistas e seus aliados vomitam diariamente contra Temer, noto que evitam ao máximo admitir que ele era o vice da Dilma e que é normal vice assumir na ausência de titular! Será que eles pensam que nós outros esquecemos que Temer era vice-presidente, e iremos nos convencer de que ele caiu de para-quedas na presidência?
Não houve golpe nenhum, pois foi seguido o rito constitucional e Dilma mereceu sair. Gente, o PT esculhambou com o nosso país e os escândalos continuam a vir à tona diariamente! Inclusive envolvendo Lula!
E essa história de que Temer assumiu sem votos? Como assim? Ele não era da chapa da Dilma, não foi eleito com ela? Os mesmos petistas que hoje em dia fazem campanha cerrada contra Temer, votaram nele! Com certeza, num duplipensar à George Orwell, esperam que nós olvidemos isso!
Portanto, nós outros, os conservadores, nos reservamos o direito de nos opor ao governo Temer, ao PSDB e ao PMDB, sem nos misturar com o PT e o PC do B! Curiosamente existem partidos de esquerda socialista, como o PSTU e o PSOL, que também se opõem ao PT e por razões bem contundentes. Lembro de um texto que li do José Maria quando ele se candidatou à presidência pelo PSTU. Lula, ao que parece, tinha emitido uma declaração para tranquilizar os banqueiros em relação à sua eleição. E o JM comentou mais ou menso isso: se os banqueiros não precisavam se preocupar, então quem tinha de se preocupar era o povo...
O tempo mostrou que, ao menos nesse ponto, o José Maria estava certo...
Rio de Janeiro, 10 de maio de 2017.