TAMBÉM SOU UM RESMUNGÃO

        

                                                        CUNHA E SILVA FILHO

                                           Da Academia Brasileira de Filologia (ABRAfil)

 

     Estou pensando em como estou me transformando em um "resmungão," assim me estou definindo a me lembrar de um colega do tempo do Mestrado na UFRJ, que, por sinal, era um poeta e professor de uma universidade privada bastante. conhecida. O próprio colega,  ele mesmo, era, a meu ver, meio chato e - pasmem - igualmente "resmungão."

      Esse poeta, diante das crônicas de Drummond, não sei por que razões, declarou à professora de literatura brasileira, que nos dava um curso sobre a prosa drummondiana, que Drummond era um "resmungão."

     Ora, eu me pergunto: por que "resmungão"? Será que apontar as mazelas de um país, os defeitos de nossos políticos e as perversidades que os governos por vezes fazem contra a sociedade seriam motivos de se apelidar assim alguém tão lúcido quanto Carlos Drummond de Andrade?

     Eu me lembro muito bem de um tempo (era nos anos 1980) em que lecionava num conhecido Instituto de Educação de Caxias, Rio de Janeiro.    

     Os professores, de vez em quando, entravam em greve por melhores salários, efetivos planos de carreira  e melhores condições de trabalho.

    Na sala dos professores, em frequentes conversas com colegas e em voz alta, exaltado e indignado, desancava os políticos, a bem dizer, os governadores de plantão (inclusive o ex-governador Brizola).

     Havia uma professora, ainda nova, que, nunca concordando comigo, sempre me aparteava e me dizia: "Cunha. V. só fala em aumento salarial, em greve de professores?"

      Ora bolas, essa intrometida merecia bem que lhe dissesse o seguinte: então, está satisfeita com os salários miseráveis que o estado do Rio de Janeiro nos dá há anos? V. me diz isso porque tem casa própria, complemento gordo do marido comerciante, ou outros benefícios que desconheço de sua vida privada.

      Creio não estar laborando em erro se eu arriscar aqui uma hipótese de trabalh:  os governantes, em se tratando de salários de professores do ensino fundamental ou médio, bem sabem que as professoras,    são a maioria do quadro do magistério no país, pois tratam professores e professoras pelo gênero feminino. "Ah, malandros!" O último deles, num pronunciamento,  foi o neoliberalíssimo João Dória.

    As professoras, na verdade, na maior parte dos casos, são casadas (e às vezes, bem casadas e têm maridos para bancar-lhes o sustento do lar, do carro, das viagens etc. etc. etc.

    Sabendo disso, esses governantes espertalhões, seguramente juntos com os seus assessores capachos e capadócios áulicos, dirão -  vale reiterar a questão: "Para que pagar bem professorAs se os maridos bancam o sustento da casa? " Me enganem que eu gosto!

    Eis por que, amigos e leitores, eu me encontro, tal como Drummond, Ferreira Gullar e certamente tantas outras pessoas, me tornando ou me definindo como mais um "resmungão." Boa  noite!