CUNHA E SILVA FILHO
 
         Se me posicionar  de forma não  acadêmica,   não  distanciada  e até apolítica, ou seja,  descambando para a subjetividade,  talvez me seja por enquanto mais  cômodo, mas nunca menos   próximo do que pretendo  neste artigo. Às vezes,  um desabafo  vale  por  cem páginas de um ensaio, assim como se diz que, na ficção,  existam mais  verdades  sobre  um pais do que  as notícias  frias de um jornal.
             Se, por exemplo,  em diálogos  abertos  entre duas pessoas que se estimam, ainda  que com  ideias  bem divergentes,  pode-se  encontrar  a expressão  de hipóteses  muito   boas e caminhos  para soluções de agudíssimos problemas nacionais, é bem provável  que   pudéssemos  viver  melhor  aqui no país.
           Um governo  novo pressupõe trazer  novas e melhores  soluções desde que essas  não se afastem  um palmo  da dignidade  pública  e  do enfrentamento  dos  problemas   espinhosos. E o Brasil  figura nesta situação em que um Presidente já tomou  posse, e situações  reprováveis  já se mostrem   contrárias  aos pressupostos   de mudanças para   melhor e num sentido de resgate de valores  autênticos  nos setores  mais  vitais para que um país seja sério  nas suas propostas  de campanha eleitoral.
    No entanto,  medidas  de mudanças  substanciais que implicam profundamente  na sorte  de gerações mais próximas já se estão desenhando, ou melhor, já estão  desenhadas para o bem ou para  o mal, visto que  nenhum  economista  tem a bola de cristal  para  vaticinar  como poderiam  fazer alguns  profetas  do Antigo  Testamento ou  certos  poetas, inclusive nacionais,  o que  objetivamente  vai    ocorrer daqui a uma década ou mais tendo em vista que  a conjuntura mundial, no campo  da paz,   não é das melhores e  problemas vários   podem ser  vislumbrados. A Economia não é uma ciência exata, semelha muitas vezes,  a um   previsão meteorológica  que nos pode   surpreender  em seus resultados.
           Ao  elaborar-se um  plano, diga-se,  da Previdência  Social,   a equipe de técnicos  e especialistas  na área encarregada  dessa tarefa  árdua  e complexa,  me parece  que está  corretíssima  e  laborando  em terreno  por demais  afeto  aos seus conhecimentos  e epistemologias, entretanto, carece  assinalar  como   fundamental  nessa tarefa  não somente permanecer  no seu território de ação mas  não esquecer   as razões  profundas que atrás  das precárias e alegadas insuficiências crescentes de recursos  pecuniários  desencadearam  a “tragédia”  da Previdência brasileira.
         Os brasileiros somos   um povo  com memória  curta  e  mais chegado a  pândegas. Esquecem,  complacentes,  que,  nos últimos governos federais,    tem havido um dado inquestionável que mexe com as finanças gerais da República:  os faraônicos e sucessivos  gastos  públicos   com mordomais, regabofes, viagens presidenciais suntuosas  ao exterior, acompanhadas de  régias  comitivas  presidenciais, congressistas,     ao exterior,  em que os   famigerados  cartões  corporativos   corriam soltos  e ledos nas mãos dos altos escalões palacianos.
      E, last but not least,  há um dado adicional   - um grande vilão – acoplado  àquela gastança pantagruélica   sem medidas  nem freios – que é a ruptura da maior  barragem  nacional: os  pustulentos  e criminosos rejetos tsunâmicos da corrupção tanto aberta quanto  sub-reptícia,  cancro nacional   surrupiador contumaz    dos cofres públicos   de braços dados com  a  geral e irrestrita  avidez    de capitalistas  de macroempresas  a serviço  do  governo federal e até, todos sabemos, com escritórios mantidos  a fim de  alimentarem a  politicalha   com  a prática  insidiosa  da propina  para dentro do Planalto e para as matrizes das macropempresas tão conhecidas após as exitosas  investigações  da Polícia Federal.
    Ora, senhores, com esse desperdício vultoso e recorrente de dilapidadores dos Erário Público  não existe país que aguente e resista como se fora um  navio  posto a pique   em decorrência de um comandante    inescrupuloso e falaz. O desperdício de verbas governamentais em   setores  vitais ao  bom funcionamento da máquina administrativa  dos governos federal,  estaduais e municipais, quer por peculatos, quer  por  má gerência, é outro  fator  poderoso  da sangria financeira que tomou conta  da   res publica.
     Governadores  inescrupulosos,  como o Sérgio  Cabral e ou outros destruíram a estrutura  de seus governos, mormente o  primeiro,   com consequências perversas aos seus habitantes e aos servidores   estaduais e até municipais.  É como se, de repente,  o país acordasse  com  a falência geral  dos seus governos    apontando para o suposto  mastodonte,  que é a Previdência  Social – o maior  bode expiatório  -   já   escolhido  pelo governo federal  para  redimir  todas as gastanças faraônicas, os “malfeitos”  dos  políticos e governantes   dessas plagas brasílicas.
 Para concluir, não é a Previdência Social o maior  problema  enfrentado pelo país. Os maiores  são a desastrada   política de segurança  pública e seus efeitos   no incremento da   violência  sem  limites,  a educação pública  em decadência, os transporte  de massa que maltratam diariamente milhões de usuários pelo  país,  sobretudo no eixo Rio–São Paulo,  e a saúde desbaratada    pela incompetência  e  desídia  das autoridades   nos três setores  públicos.
     É nessas  razões abissais que vejo    que os responsáveis pelas  mudanças na Previdência  primeiro  deviam cuidadosamente  meditar e  levar em conta, não o caminho  inverso  da frieza  e objetividade  dos técnicos e economistas  de plantão, mas  a frágil realidade   de um sociedade  em agonia.