[Maria do Rosário Pedreira]

Dizem-me muitas vezes que o factor gosto influencia necessariamente os livros que selecciono para publicação. Acho que sei distinguir entre o que é publicável e o que não o é, independentemente do prazer que retiro da leitura, mas é verdade que só posso levar à estampa obras que consiga minimamente defender – e, se não gostar mesmo nada de um romance, será provavelmente difícil defendê-lo. Em todo o caso, talvez as pessoas tenham razão e exista sempre uma certa subjectividade quando damos o nosso parecer sobre um texto e, a este respeito, conheço uma história muito divertida. Numa sessão pública, para corroborar a sua opinião sobre um assunto polémico, um dos intervenientes trouxe à baila um livro pouco ou nada conhecido de um autor estrangeiro; ao seu lado na mesa, Frei Bento Domingues foi, porém, categórico, dizendo simplesmente que o livro em causa não prestava para nada. O companheiro de debate ficou zangado e, claro, atirou-lhe com esta: “Desculpe, mas isso não passa de um juízo de valor.” E, contra todas as expectativas dos presentes na sala, Frei Bento não se deixou abater e retorquiu apenas: “Engana-se, quanto a esse livro em particular, é mas é um juízo sem valor!”