Muita gente, quisera nem fossem tantos assim, conhece a bizarra cantora americana Lady Gaga que, dia desses, apresentou-se em alguns eventos midiáticos usando vestimenta feita de carne fresca.
     Pois bem, essa tosca figura está vindo ao Brasil para, em novembro próximo, no Rio de Janeiro e em São Paulo, fazer shows. Fala-se que sua lista de exigências perfaz trinta folhas de papel e que uma das solicitações é que lhe sejam disponibilizados vários lhamas não mancos.
     Na verdade, dizem que a história dos lhamas seria só para testar os contratantes, obrigá-los a ler o rol de pedidos da cidadã até o fim. Isso apenas enfatiza o conceito que a dita cuja tem a nosso respeito.
     Bem que poderia ser um pedido verdadeiro, o desses ruminantes, a fim de que pudéssemos saber a reação das associações defensoras dos animais e, quem sabe, do instituto brasileiro do meio ambiente e recursos naturais renováveis, o IBAMA, que, certamente, iria questionar essa idiotice, não somente porque lhamas são mamíferos muito irritáveis, mas porque, em sendo atípicos ao território brasileiro, talvez tivessem que ser importados. Temos ovelhas que, quando zangadas, não cospem em quem não gostam, como fazem os lhamas, no máximo, dão-lhe boas chifradas; todavia, o ideal para a artista, seria um lanoso poodle, se é que a danada não exigiu uma coleção deles para acompanhá-la enquanto estiver por aqui.
     Deve ser por conta de nossa inata docilidade, quase beirando a subserviência, que nos damos bem até com os irascíveis árabes, iranianos e outros muçulmanos orientais. Será que aquela cantora teria coragem de fazer as mesmas exigências a alguém que, diante de um filme idiota, tolo, bobo, que mostra fictícias facetas morais e sexuais de Maomé, vai às vias de fato a ponto de matar diplomatas do país dela, supridor de muitas das mais básicas necessidades daquela turma?
     A propósito, ainda, desses irritadiços orientais islâmicos, será que não brincam, não gozam nem tripudiam de ideias, costumes, ações ou tradições ocidentais? Como não respeitam nem aceitam que o restante do mundo faça uso dele, será que também não costumam praticar o universal direito de liberdade de opinião e de expressão?
     Fica muito difícil o convívio salutar e pacifico entre povos, moral e existencialmente, tão diferentes. Enquanto nós, ocidentais, fazemos de nossas religiões válvulas de escape contra as agruras do dia a dia, formas de buscar paz interior e de nos aproximar do deus em que cada um crer; certos povos orientais, muçulmanos, fazem de sua religião uma espécie de manual de sobrevivência que tentam seguir e defender com unhas e dentes, contra tudo e contra todos.
     Em um mundo globalizado, interligado e interdependente, como este em que vivemos, é impossível para quem quer que seja, manter-se impenetrável, hermeticamente fechado, intocável; há que se aceitar, notadamente quando isso, incontestavelmente, derivar ou advier da livre manifestação individual ou coletiva do direito de expressão, que ideias contrárias as suas possam ser proferidas ou expostas, sem que, necessariamente, sejam consideradas desrespeitosas ou provocativas. Mais urgente se faz essa providência, quando alguns desses países - que questionam violentamente atitudes egressas de povos que, por não comungarem dos ideais deles, não veem motivo para, em relação a eles, agirem diferentemente de como fazem diuturnamente - dependem, em muitos casos, do apoio, da ajuda, das benesses; enfim, dos suprimentos econômicos e financeiros desses que, de repente, tomam por críticos inconsequentes.
     Ou esses recalcitrantes povos se tornam independentes do resto do mundo, o que é impraticável, e passam a viver em uma redoma indevassável, ou tentam considerar críticas, sabidamente idiotas, como algo a ser relevado, ou terão que arcar com as responsabilidades consequentes da violência com que ousarem repelir tais críticas.
Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal ([email protected])