Boa parte das dúvidas profissionais estaria resolvida se os nomes retratassem as profissões e, depois, confirmassem a escolha feita. No passado, a propósito, os profissionais acabavam incorporando o título do ofício praticado, de modo que o filósofo Jean-Paul Sartre teve um antepassado alfaiate (sastre, em espanhol, também significa alfaiate); um Ernest Fischer é pescador, ou alguém da família foi; toda a vez que encontramos um Schmidt encontramos o descendente de um ferreiro; Singer, tem tudo para ser um cantor, ou seu pai era, ou seu avô. E assim por diante.

Conheci um bom fotógrafo chamado Nelson Câmera. Uma enfermeira, cujo nome era Selma Sirene, adorava trabalhar no pronto-atendimento. Um militar aposentado, Almirante Polvo, lembrava suas peripécias no mar. Meras coincidências?

Na medicina, muitas especialidades podem estar inscritas e previstas na certidão de nascimento. O dermatologista Mário Chagas, a obstetra Maria Largura, o pediatra Rubens Leite...

Padre Jesus da Cruz Oliveira não teria se batizado com um nome mais adequado para a glória de Deus.

Hugo Branco Milheiro vende papel em quantidade e de qualidade para gráficas.

Michele Penteado é cabeleireira imbatível no seu bairro.

Antonio Luz é eletricista, e seu pai trabalhou na Light.

Carlos Barata é dono de uma dedetizadora. Seu filho, Augusto Barata, estuda biologia e tem um baratário em casa, para desespero da mãe, que assumiu o sobrenome: Maria da Saudade Barata.

Luiz Pena, desenhista. Mas outros Penas outras profissões abraçam. Dra. Severina Pena é advogada criminalista, por exemplo. Já o Sr. Osvaldo Pena comercializa galináceas. O juiz de futebol Alfredo Pena tem um apelido (apellido é sobrenome em espanhol): Pênalti.

Carlos Pimenta Socorro capricha na cozinha. Celso Lyra é músico. Marina Barro, escultora. Arthur Colares trabalha numa joalheria há 25 anos! E Júlia Rosa Ramos numa floricultura faz duas décadas.

Se, como dizia Goethe, o nome de uma pessoa não é como uma capa sobre seus ombros, que pode ser retirada a qualquer hora, mas, feito pele, ao ser arrancada causa tremenda dor; e se, como escreveu Santo Agostinho, em referência aos anjos, “angelus officii nomen est” — o nome de anjo (mensageiro, em grego) indica justamente o seu ofício — talvez as atividades e ofícios humanos devam estar aí, no sobrenome, mais ou menos visíveis, sem necessidade de fazermos teste vocacional...
 
Gabriel Perissé é coordenador pedagógico do Ipep (Instituto Paulista de Ensino e Pesquisa) e autor do livro recém-lançado A arte de ensinar, pela Editora Montiei.