SOBRE MENTIRA, VIOLÊNCIA E TERRORISMO

                 Contamos e ouvimos mentiras o ano todo, não somente na época das grandes festas ou em períodos eleitorais. Também a violência, que não deveria acontecer em tempo algum, tem se tornado uma companheira sempre presente. Amiúde e de tristes registros são os atos de terrorismo que se materializam numa escalada infrene. Matam-se os homens num grau de covardia, de desnecessidade e, por vezes, de prazer capaz de fazer inveja aos mais criativos cineastas, teatrólogos, escritores e artistas que fazem da violência fictícia a matéria-prima de sua arte.

                A respeito da mentira, certas controvérsias suscitam discussão. Que grande virtude há num pai que, para não ser considerado mentiroso, prefere ensinar, ou melhor, dizer a seus filhos inocentes que papai Noel não existe, que é um embuste comercial, uma lorota capitalista? Que o bom e verdadeiro velhinho, na verdade, é ele, o cidadão – por vezes, ranzinza e hipócrita - que se esforça ou se sacrifica para dar a eles presentes, em especial, na época natalina?

                Parece-nos uma preocupação exacerbada, descabida e, por conseguinte, injustificável, admitir, por exemplo, que toda criança que convive com essa “mentira” chamada papai Noel tenderá a se tornar um inveterado mentiroso. Que é isso? Não há prova estatística de que outras mentiras, muito mais verdadeiras, sérias e incríveis que pais e mães contam, obrigados, às vezes, pelas circunstâncias, os tenham transformado ou aos que as escutam e absorvem em indivíduos pouco confiáveis, falaciosos. Quem poderia garantir que um sujeito que desde a infância foi orientado a jamais mentir, cumpra, irrepreensivelmente, esse seu desígnio? Existe, de fato, homem que nunca haja mentido?

                O conceito de mentira não é unívoco, possui gradações e variantes semânticas; logo, não tem um único e incontestável significado; ou seja, sem trocadilho, a mentira não é uma verdade absoluta, pétrea, mesmo para o mais convicto dos mentirosos. Alguém pode ser tomado por um deles apenas porque diz algo que seu interlocutor desconhece, porque provém de uma realidade estranha ou deriva de um fato que o mesmo não vivenciou. Há mentiras – que alguns chamam meias verdades - que surgem em virtude de não se dispor, temporariamente, “na ponta da língua”, da precisa verdade; outras vêm a público para evitar uma situação constrangedora ou que poderia ensejar conseqüência desastrosa. Em todos os casos, há sempre a possibilidade de serem consertadas a posteriori, sem que esse reparo venha causar traumas ou ressentimentos, seja em quem as externou, seja ao que as ouviu ou assimilou: basta que as respostas, os esclarecimentos, as justificativas, enfim, a verdade assome e possa ser confirmada.

                A respeito da violência, nem se precisa ir muito longe para chegar-se a algumas de suas causas: descaso, desrespeito, desatenção, notadamente, para com os indivíduos que, existencialmente, melhor se ajustam à função de estopim. Esses, tanto podem ser aqueles que não receberam educação adequada nem absorveram a cultura ideal, quanto os que, por questão cultural, preparo moral, vêem os atos de violência como mensagens que gostariam de mandar à sociedade da qual discordam.

                A propósito do terrorismo, não temos dúvida de que ele somente se exaurirá quando o homem deixar de agir como bárbaro; quando compreender que sua vida e a de seu semelhante não são objeto de troca, mas sim, algo que precisa ser preservado, que deve transcender às questões religiosas, culturais, econômicas ou sociais. Todo terrorista é egoísta e covarde porque não dá valor à vida e, invariavelmente, faz do próprio umbigo a razão de sua luta.

                                                                                                                                                            ([email protected])