Por Luiz Filho de Oliveira

 

Uma caboca macha, minha mãe! A Rosa dos Sena Rosa. Seu nome de batismo: Francisca das Chagas Rosa. Depois, de Oliveira, sem Rosa. Um tipo bem apessoado: pele avermelhada (depois um tanto morena de tanto sol trabalhar!), olhos da cor de mel, cabelos negros. Hoje dançam cancan sua cãs, pela alegria de tantos anos vividos. Seu pai era um homem de olhos azuis; ancestrais dalém mar, mais que portugueses. Sua mãe, como meu pai. Do casamento, oito filhos. Um já falecido, o terceiro; não conheci esse mano meu. Pequenino, três aninhos, falecido. Vingaram sete. Destes sou o caçula. O ultimogênito. O passa-a-régua de seu casamento com um caboco de traços meio cafuzos, meio mamelucos, outras partes com tons orientárabes. Deles, eu. Euzinho, que escrevo texto o que celebra todas as bênçãos e benças pra ela. Minha mãe nasceu. Vivo 77 vezes 45 vezes sua alegria de viver.


E o presente, para uma pessoa desse naipe? Dificuldade fácil. Apois, neste parágrafo não dá pra fugir do lugar-comum, e o jeito é cair nele: não tem dinheiro que pague! Graças a Jah, pois até estou um tanto desprevenido. Mas tou pensando, mãe. Mas, antes, quero le-dar algo por demais valioso e que guardo comigo para estas horas solenes: o meu respeito pela senhora. Sim, mãe, o meu respeito. Claro, eu, que, criança e adolescente, beliscando a fase adulta, le-faltei, nalgum momento, com este que deve ser o primeiro artigo da lei de todo ser humano – principalmente, com sua progenitora (e não se-trata, aqui, de questionar a participação dos pais, não!) –, esse eu desse tipo não pode ser considerado querido, respeitado. Mas cresci, mãe. Sim, tou crescido a força e coragem minhas. Cresci junto com esta hipérbole: le-tenho o maior respeito do mundo! E carinho, sobretudo; sobretudo, que a senhora e papai, como dois sertanejos rudos, nos-privaram de certos afagos e beijinhos, sobretudo, de abraços. Hem-hém, nós, irmãos, somos pouco de abraços e beijos. Porisso, o respeito exigido.

Agora, dar na mãe?! Arriégua, desconjuro! Jamais atentaria contra esse segundo artigo da Lei dos Doidos, aquela que, quando eu menino, no Primavera, o Bolola sempre colocava como absurda, aquela que condena à pena de ser considerado louco todos os que obedecerem a estes três artigos: correr nu; dar na mãe; rasgar dinheiro. Não. Não violo nenhum deles e canto isso sem viola: minha capela é outra; meu santo é barroco e maldizentemente baiano! Não canto sozinho, há tantos, como eu, o coro come cantando: respeitoso às mães; aos canalhas, nunca! É, conheço um canalha que batia na mãe dele e dizia que aprendeu isso comigo. No meu bairro, meu vizinho. Traiçoeiro, esse que se-disse, por longos anos, ser amigo. Venenoso, esse sujeito sem escrúpulo. Ele batia na própria mãe. E acreditem, se-achava – e ainda se-acha! – melhor que muita gente boa por aí. Tá bom, bonito! Pensa que é a bala (e nem chega aos pés do Bala dos Capitães da Areia, que era mala!). E é que, se eu fosse homofóbico, como pensam, às vezes, alguns apressadinhos desta rede e de outras camas, eu meteria o irmão dele, ou melhor (pra ele!), o irmã dele, que, além de me-caluniar do mesmo jeito, ainda dizia qu’eu era viado, como ele (pelo amor de Jah, sem trocadilhos; senão, ela goza!). Comigo não, violão! Desarreda! Não admito essas canalhices! Comigo, mãe, meus respeitos sempre à senhora, que pagou muito caro para criar a mim e meus irmãos. Muito trabalho. E hoje, mãe, tenho certeza de que meu presente é valioso: meus respeitos, minha mãe. Poissim, mãe, sei que não le-dou motivos algum para ter vergonha de mim. Me-orgulho da senhora. Aprendi: eu sempre respeito a todos e ensinei isso aos meus filhos até onde eu pude. Hoje eu me-orgulho do caráter deles e do meu, então, nem se-fala ou se-escreve!. Essa é a única herança sua que me-interessa. E ela não é somente um quarto, nem um terço (não tem choro nem vela), ela é INTEIRA!

 


Sou o que sou, mãe, porque, criação ruda de afagos, mas plena de exemplos, tenho bastante caráter. Ótimos, a senhora e, também papai. Agradeço-os. Agradeço-a principalmente: rainha. Da minha vida o DNA do respeito, do caráter honrado, do trabalho. Se pudesse, faria mais. Mas a vida intensa de trabalhos, de responsabilidades, me-fazem omisso, muita vez, com a senhora. Aquele egoísmo de querer evitar o mundo pra ganhar algum dinheiro – nunca os trinta! Sempre fiel à senhora. Jamais trair a família, que isso é uma armadilha pros irmãos. Jamais ser canalha com irmãos e com vocês principalmente, meus pais, minhas mães. Minha mãe, pra fugir dos erros, 77 vezes celebro teus anos: 45 vezes vivo sua vida fora do teu útero. Íntegro. Amanhã é seu dia; o dia é todo seu, mamãe. E vai ganhar estes meus presentes.

Seu filho, Filho. Neste ano de 2013. Neste agosto, este meu gesto, meu texto. Parabéns.