Situações pitorescas
Por Antônio Francisco Sousa Em: 09/11/2007, às 10H50
Segundo dicionários Houaiss e Michaelis, pitoresco é tudo aquilo que é digno de ser pintado; que diverte, é recreativo, picante, imaginoso; que é original de modo fascinante, envolvente.
Poder-se-ia, ou não, tomar como pitoresca, na acepção conceitual de criativa, talvez mesmo, original, essa sugestão de inquirir e sujigar a Justiça Estadual, na pessoa de um de seus magistrados, proposta por dirigentes partidários, ante entendimento de que ele teria agido com exação ou excesso de poder ao mandar prender autoridade executiva, daqueles correligionária, por descumprimento de decisão judicial?
Disseram, publicamente, alguns presidentes generais, durante a ditadura e também o último mandatário da nação, predecessor do que aí está e havido como homem de boa cultura, um intelectual, que decisão judicial não se discute: ou se cumpre ou dela se recorre na mesma ou em outra esfera judiciária. Poucos governantes ou dirigentes públicos, no entanto, cumprem à risca todas as sentenças proferidas pela Justiça que lhe chegam às mãos ou em seus gabinetes. A maioria age de forma falaciosa, falastrona e demagógica, pois, embora de manifeste submissa aos ditames legais e processuais, raramente garante os direitos ou cassa as obrigações determinadas nas incontáveis sentenças das quais é cientificada.
Igualmente pitoresca tem sido a discussão, devidamente noticiada pela imprensa, envolvendo a autoridade contra quem foi decretada a precitada ordem de prisão e o parlamentar – seu correligionário – ao qual se atribuiu toda a engenharia pertinente ao caso que culminou com a lavratura da sentença judicial contestada. Um verdadeiro jogo de acusações, réplicas e tréplicas – ou seria de cena? – desenrolou-se entre eles, para alegria dos que vêem as instituições públicas e os homens que as administram como os grandes responsáveis pela mixórdia social.
Ainda no campo do pitoresco, em sua acepção de divertido. Há mais de um ano iniciou-se um trabalho de recuperação do telhado e calhas de escoamento das águas pluviais da igreja de Nossa Senhora do Amparo. Os dutos de escoadura estão lá, plantados nos beirais; entretanto, até ontem, sequer as aberturas feitas para receberem tais artefatos haviam sido todas fechadas. Quando chegarem as chuvas vai vazar muito mais água pelos buracos abertos do que pelas bocas das canaletas. O engraçado da situação é que, no mesmo interregno, o templo evangélico situado nas imediações da matriz católica passou por várias reformas muito mais abrangentes, majestosas e, desnecessárias; a diferença é que todas elas foram, integralmente, concluídas.
Pitorescas, ou melhor, interessantes, parecem certas estatísticas publicadas pela mídia. Outro dia anunciaram esta: pesquisadores chegaram à conclusão de que um número de veículos pretos e pratas, muito maior que o das demais cores, se envolve em acidentes quando diminui a luminosidade natural e surge a artificial. Não tenho dúvida de que em todos os horários a situação é idêntica. E por um motivo muito simples: são as cores mais comercializadas, as que mais se expõem ao tráfego; logo e, obviamente, as mais propensas a sofrerem e a causarem acidentes.
Por fim: é, ou não, pitoresco um indivíduo surdo-mudo com um telefone celular ao ouvido? Entre os mais de cento e dez milhões desses aparelhos, que circulam no Brasil, alguns pertencem a esses cidadãos. Viva a mídia!
Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal
([email protected])
Poder-se-ia, ou não, tomar como pitoresca, na acepção conceitual de criativa, talvez mesmo, original, essa sugestão de inquirir e sujigar a Justiça Estadual, na pessoa de um de seus magistrados, proposta por dirigentes partidários, ante entendimento de que ele teria agido com exação ou excesso de poder ao mandar prender autoridade executiva, daqueles correligionária, por descumprimento de decisão judicial?
Disseram, publicamente, alguns presidentes generais, durante a ditadura e também o último mandatário da nação, predecessor do que aí está e havido como homem de boa cultura, um intelectual, que decisão judicial não se discute: ou se cumpre ou dela se recorre na mesma ou em outra esfera judiciária. Poucos governantes ou dirigentes públicos, no entanto, cumprem à risca todas as sentenças proferidas pela Justiça que lhe chegam às mãos ou em seus gabinetes. A maioria age de forma falaciosa, falastrona e demagógica, pois, embora de manifeste submissa aos ditames legais e processuais, raramente garante os direitos ou cassa as obrigações determinadas nas incontáveis sentenças das quais é cientificada.
Igualmente pitoresca tem sido a discussão, devidamente noticiada pela imprensa, envolvendo a autoridade contra quem foi decretada a precitada ordem de prisão e o parlamentar – seu correligionário – ao qual se atribuiu toda a engenharia pertinente ao caso que culminou com a lavratura da sentença judicial contestada. Um verdadeiro jogo de acusações, réplicas e tréplicas – ou seria de cena? – desenrolou-se entre eles, para alegria dos que vêem as instituições públicas e os homens que as administram como os grandes responsáveis pela mixórdia social.
Ainda no campo do pitoresco, em sua acepção de divertido. Há mais de um ano iniciou-se um trabalho de recuperação do telhado e calhas de escoamento das águas pluviais da igreja de Nossa Senhora do Amparo. Os dutos de escoadura estão lá, plantados nos beirais; entretanto, até ontem, sequer as aberturas feitas para receberem tais artefatos haviam sido todas fechadas. Quando chegarem as chuvas vai vazar muito mais água pelos buracos abertos do que pelas bocas das canaletas. O engraçado da situação é que, no mesmo interregno, o templo evangélico situado nas imediações da matriz católica passou por várias reformas muito mais abrangentes, majestosas e, desnecessárias; a diferença é que todas elas foram, integralmente, concluídas.
Pitorescas, ou melhor, interessantes, parecem certas estatísticas publicadas pela mídia. Outro dia anunciaram esta: pesquisadores chegaram à conclusão de que um número de veículos pretos e pratas, muito maior que o das demais cores, se envolve em acidentes quando diminui a luminosidade natural e surge a artificial. Não tenho dúvida de que em todos os horários a situação é idêntica. E por um motivo muito simples: são as cores mais comercializadas, as que mais se expõem ao tráfego; logo e, obviamente, as mais propensas a sofrerem e a causarem acidentes.
Por fim: é, ou não, pitoresco um indivíduo surdo-mudo com um telefone celular ao ouvido? Entre os mais de cento e dez milhões desses aparelhos, que circulam no Brasil, alguns pertencem a esses cidadãos. Viva a mídia!
Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal
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