Imagem: Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

[Chagas Botelho] 

Vi hoje o cantor Lô Borges na tevê. Então, me lembrei do Simples Bar. Um ponto etílico que funcionou na década de 1990, na zona leste de Teresina. O local trazia à capital do Piauí grandes nomes da MPB.

Em 1995 trouxe o consagrado cantor mineiro Lô Borges, o cara do Clube da Esquina. Eu tinha duas cortesias. Não queria ir sozinho ao show. Na época, a namorada, hoje esposa, estava estudando para um acirrado vestibular.

Convidei um amigo querido. Fomos lá ver Lô Borges e banda. Detalhe: o amigo era e continua sendo muito roqueiro. Apreciador de rock pesado. Desconhecia por completo MPB. Ou não se ligava no ritmo.

Porém, como diz a letra da canção, “amigo é coisa para se guardar debaixo de sete chaves”. Meu amigo foi comigo para me dar um apoio moral. Do meio para o fim do show, veja o poder da MPB, meu amigo já soltava a voz e cantava alucinado o refrão de Paisagem da Janela.

Após o show, ficamos por ali bebericando. Lô Borges desceu do palco e conversou com os fãs. Ao ver dois sujeitos inebriados ainda pela sua apresentação e pela bebida gelada, resolveu se juntar a nós. Os três começaram a papear.

Imaginem aí a cena: eu, meu amigo e Lô Borges na mesma mesa. Algo surreal. Puxei o assunto de futebol. Sabia que o cantor era cruzeirense doente. Mas resolvi lhe provocar: “Lô Borges, soube que você é torcedor fanático do Atlético Mineiro, procede?”.

O homem ficou uma arara. Muito bravo com a minha provocação. Logo vociferou: “meu amigo aqui é Cruzeiro até morrer”. Em seguida, escalou o time da época de ponta a ponta. Não esqueceu um jogador sequer.

Ao final da escalação, aplaudimos o cantor de Ventos de Maio. Em poucos instantes nos tornamos íntimos do dono de O Trem Azul. Aquela noite foi mágica no Simples Bar. Meu amigo até hoje se lembra do episódio.

Não se tornou fã de MPB, nem dos grandes sucessos de Lô Borges, mas me acompanhou para ver e ouvir uma das maiores cabeças pensantes da música brasileira. E dividi com ele uma das maiores emoções e experiências musicais que já tive nesta vida passageira.