Faz hoje 36 anos que ingressei no serviço público, quando fui admitido na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, lotado na Diretoria Regional do Piauí, no cargo de monitor postal, após ter feito curso de três meses, em Recife. Amanhã, por coincidência, meu filho João Miguel de Sousa Carvalho segue para Manaus, onde será aluno do curso para oficial da Polícia Militar do Amazonas, depois de ser aprovado em difícil e concorrido concurso público. Após as provas, foram exigidos rigorosos exames e laudos referentes à saúde, além de um extenuante e reprovativo exame de resistência física, em que muitos não lograram êxito. Por último, ainda houve teste psicotécnico. Após deixar a ECT, ingressei na SUNAB, no cargo de fiscal, através de aprovação em concurso público, no dia 10 de agosto de 1982. Se não tivesse seguido outro rumo, hoje seria auditor-fiscal da Receita Federal. Em 19 de dezembro de 1997, tomei posse junto ao egrégio Tribunal de Justiça do Piauí, no cargo de Juiz de Direito. Hoje, sou o titular da Comarca de Regeneração, desde 3 de abril de 2007.
Na minha vida, desde muito cedo, senti atração pelo serviço público, pois nunca tive vocação nem para empregado e nem para patrão. Também nunca tive desejo de ser rico. Confesso que sempre desejei ter um bom emprego público, em que pudesse me sustentar e sustentar minha família com dignidade, sem maiores sobressaltos financeiros. Deus me concedeu isso, não, talvez, exatamente no modo e na velocidade em que o almejei, mas me atendeu esse desejo de forma gradativa e ascendente, como a me moldar, a me aperfeiçoar na experiência e nas lições de vida. Não vou aqui ser um cabotino, e dizer que tenho sido um bom servidor; afinal, parafraseando Cristo, quem quiser ser o maior, deverá ser aquele que melhor serve. Portanto, deve ser o melhor servo, aquele que serve, e não o que é servido. Direi apenas que tenho me esforçado para ser um bom servidor, para cumprir da melhor forma possível o meu dever, dentro de minhas limitações físicas e intelectuais, e de acordo com as condições que me são oferecidas, que certamente não são as ideais.
Considerando meu tempo ficto na magistratura e no serviço público, tenho mais de quarenta anos de serviço, e, portanto, já posso requerer minha aposentadoria. Como gosto do que faço, e continuo estimulado a bem desempenhar o meu ofício, ainda pretendo seguir na ativa por mais alguns anos. Desde que assumi minhas funções judicantes, compreendi que a Justiça tardia é muitas vezes injustiça; que minha maior preocupação não deveria ser o formalismo dos ritos e das decisões, mas a essência, e a essência é exatamente fazer justiça, agir com justiça, e com a possível celeridade. Nem sempre isso é possível, pois a parte, embora possa ter razão, nem sempre consegue provar as suas alegações. Mas, digo sem empáfia, tenho buscado alcançar esse desiderato, analisando as provas carreadas para os autos e procurando bem instruir o feito. Em meu mister de julgador, com modéstia o digo, não tenho remorso, pois nunca violentei a minha consciência e jamais cometi injustiça deliberadamente. Os erros que devo ter cometido foram involuntários, e se devem à minha condição humana, pois todos os seres humanos somos pulvis e somos falíveis.
Neste momento em que o João Miguel se prepara para ingressar no serviço público, peço a Deus que ele seja um bom servo, seja um bom servidor público, quando estiver no seu cargo de oficial da Polícia Militar do Amazonas; que tenha prazer em servir, pois para isso será um servo/servidor público; que cumpra as suas funções com correção, justiça e bondade. Já tive oportunidade de dizer que quem é justo é bom, e quem é bom é justo, embora tendo a humildade de reconhecer que verdadeiramente bom é o Senhor que está nos céus. Mas nos esforcemos para sermos um pálido reflexo de sua bondade e justiça. Exorto meu filho a seguir os princípios estampados no caput do artigo 37 da Constituição Federal (legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência), procurando sempre ser justo e bom, para ter a proteção do Onipotente, que não vela pelos iníquos e perversos.