[M. T. Piacentini]

--- Gostaria que comentasse o emprego da palavra Sequer em casos onde deveria ser Nem sequer. Muito obrigado. Leopoldo Roza

O advérbio de intensidade sequer, nos termos rígidos da gramática, deve entrar apenas em orações negativas. Entretanto, é comum encontrá-lo em frases sem uma negação (nem, não, nenhum etc.), especialmente na linguagem descontraída, como se exprime um leitor de jornal na seção Cartas desta semana: “Há um ministro que enriqueceu de repente, e sequer existem manifestações”. Não fez falta para o entendimento da mensagem a partícula nem [e nem sequer existem manifestações], mas ela deve ser usada em textos elaborados, que exijam a norma-padrão da língua.


Vejamos então como se dá o emprego gramatical de sequer, que significa “ao menos, pelo menos; nem mesmo”. É importante observar a presença da oração negativa junto com o advérbio. Exemplos corretos:


Entrou no cinema, mas nem sequer sabia o nome do filme.

Não sabia sequer o nome do filme.

O rapaz nem sequer demonstrou sua coragem.

Nenhum homem educado sequer pensa em fumar em lugares fechados.

Ele não foi sequer corajoso diante do obstáculo.

A mãe chorava e dizia que nem sequer pôde se despedir do filho.

Ficou patente que nenhuma das candidatas sequer sabia a função que iria desempenhar.


--- Gostaria que me ajudasse na seguinte questão: o correto é “porque É ou SÃO nessas ocasiões que o trabalho do colégio se socializa”? Adriana, São Paulo 


Nessa frase você deve usar o verbo no singular porque ele faz parte da expressão de reforço É QUE. Podemos constatar que se trata de uma expressão que tem somente a finalidade de dar ênfase à mensagem quando a retiramos da construção frasal e percebemos que a oração mantém seu sentido cabal, como nos exemplos abaixo:


Porque [é] nessas ocasiões [que] o trabalho do colégio se socializa.
Os critérios [é que] mudaram.
Nós [é que] deveríamos nos insurgir contra a bagunça generalizada.
[É] com esse trabalho [que] se busca entender os usos sociais da cultura escolar.


Convém notar que o verbo ser fará a concordância de tempo e pessoa quando colocado no início da oração junto ao sujeito, separado do “que”. Tomemos como exemplo estas frases no pretérito: O critério mudou/ Os critérios mudaram e Com esse trabalho se buscou entender... Juntando a expressão de reforço, teremos o verbo ser no tempo passado e concordando com o sujeito plural:


Foi o critério que mudou.

Foram os critérios que mudaram.

Foi com esse trabalho que se buscou entender os usos sociais da cultura escolar.


Ver também Não Tropece na Língua nº 117 – (O) QUE FAREI? O CLIENTE SOMOS NÓS.