Por Maria Teresa Piacentini

Aprendi com meu professor de português, na época de preparação para o vestibular, que nunca deveríamos usar as palavras "saudade" e "ciúme" no plural. Como é bastante comum o uso do plural e não encontro bibliografia que possa me esclarecer esta dúvida, gostaria que me ajudassem. Suely D’Alessandro, Florianópolis/SC

Há plural para sentimento? Ester Venturin, São Paulo/SP
 
Sentimentos e disposições de espírito têm plural, sim: saudades, ciúmes, alegrias, felicidades, desgostos. Palavras como pêsames, parabéns e felicitações, por exemplo, eram originalmente usadas no singular (Meu pêsame. Parabém! Receba nossa felicitação.) mas foram sendo substituídas pela forma plural.
 
Isso não quer dizer que o singular não exista e não seja usado. Com efeito, os substantivos que exprimem noções abstratas, vícios e virtudes em geral têm seu emprego no singular: Quanta bondade! Queremos paz e harmonia. Tenho-lhe afeição. Sinto muita saudade. A felicidade é tudo na vida. Sua alegria é contagiante.
 
Contudo, é usual dizermos “Desejo-lhe felicidades” ou “Que as alegrias da juventude continuem por toda a vida”, assim com a flexão numérica, exatamente pela ideia de plural, de “momentos de alegria” e de “felicidade em muitas dimensões”.
 
Plural do substantivo diminutivo
 
A formação do diminutivo se faz por meio de sufixos, entre os quais (z)inho  é o que tem mais vitalidade: pão – pãozinho; pá – pazinha; mãe – mãezinha; coração – coraçãozinho; pastel – pastelzinho; colher – colherinha ou colherzinha; devagar – devagarzinho ou devagarinho ; igual – igualzinho e assim por diante.
 
O plural dos diminutivos em zinho é formado acrescentando-se zinhos ao plural do substantivo primitivo menos o S:
 
 
– pá                 – pás                  – pa(s)zinhas                 -  pazinhas  
– igual             – iguais               – iguai(s)zinhos             -  iguaizinhos
– caracol         – caracóis            – caracoi(s)zinhos        - caracoizinhos 
– carretel        – carretéis            – carretei(s)zinhos        - carreteizinhos
– pão              – pães                  – pãe(s)zinhos              - pãezinhos
– mãe             – mães                 – mãe(s)zinhas             - mãezinhas
– coração       – corações           – coraçõe(s)zinhos        -  coraçõezinhos
– colher          – colheres            – colhere(s)zinhas         -  colherezinhas
 
 
Contudo, com os substantivos terminados em R ou Z pode-se fugir à regra, eliminando-se o e intermediário. É mais comum falar e escrever assim:
 
As colherzinhas são de plástico.

O buquê foi feito com botões de rosa e outras florzinhas brancas. 

Instalaram uma porção de barzinhos à beira da praia.

Que rapazinhos educados!
 
Essas palavras também podem ter a formação usual, naturalmente: dorzinhas ou dorezinhas; amorzinhos ou amorezinhos; mulherzinhas ou mulherezinhas.
 
 
Quando de = Durante, na ocasião de 
 
Sandra R. Martins, de Florianópolis/SC, quer saber se é lícito usar “O chefe pediu que todos os funcionários estivessem presentes quando da apresentação do relatório final”.
 
É válida a locução, embora se considere um galicismo. Os estudiosos acreditam que seja uma má adaptação do francês “lors de”, que quer dizer “no tempo de, quando”, e sua origem remonta ao século XVIII. Então, em vez de “quando foi a invasão francesa” começou-se a dizer “quando foi da invasão francesa” e depois, abreviadamente, “quando da invasão francesa”.
 
 
Mesmo que os puristas possam considerá-la “construção incorreta”, ela tem tradição na língua. O uso da preposição (junto com "foi") encontra-se nos clássicos: “Aristóteles mal teria a barba russa quando foi daquele seu último namoro” (A. Garret); “[...] quando foi do terremoto” (Camilo).