Sentimento de posse
Por Maria do Rosário Pedreira Em: 04/02/2011, às 09H00
[Maria do Rosário Pedreira]
Ser possessivo não é, necessariamente, uma coisa boa, mas a verdade é que há muitos livros que queremos ter na estante e não nos basta ler emprestados ou descarregados num aparelho qualquer. Mesmo sem grande afecto pelos e-readers, tenho de confessar que ultimamente tenho achado graça ao iPad e à sua excelente visibilidade e até já «folheei» livros e artigos no do Manel, que – ele, sim – é doido por gadgets electrónicos e está sempre ansioso pelas versões mais modernas. E, mesmo assim, a circunstância de, pela primeira vez, considerar possível e agradável ler um livro num dispositivo deste tipo não me retira a vontade de o ter em papel; porque, mesmo que o saiba ali ao alcance de uns cliques, a verdade é que esse livro não é meu, é de uma empresa qualquer que mo disponibiliza mas mo pode tirar quando lhe der na gana (já aconteceu com a Amazon quando se puseram problemas de copyright); e, além disso, basta que a bateria se esgote para ele me desaparecer da frente sem dó nem piedade. Enfim, é um serviço, e não um bem. Possuir um bem é coisa humana e todos gostamos de ter coisas, nem que seja para saber que as temos ou olhar para elas de vez em quando. No artigo de Beigbeder de que falei há dias, publicado na revista Lire, o escritor diz que, no dia em que desaparecer este mediador que é o editor e os livros estiverem apenas disponíveis na Internet, as pessoas deixarão de ler. Vivam então os possessivos.