Senado Federal: homenagem à memória de Gilberto Mestrinho
Por Flávio Bittencourt Em: 27/10/2009, às 19H42
27/10/2009 - 11h18
(http://www.senado.gov.br/Agencia/verNoticia.aspx?codNoticia=96756&codAplicativo=2&codEditoria=2)
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Muito abalado com a morte do grande amigo, quando soube, em 19 de julho de 2009, do infausto acontecimento, produzi a seguinte colagem de citações de outros autores [adiante inseri, também, artigo que escrevi em julho/2009] e imagens (fotografias e desenhos), que remeti via e-mail aos meus parentes a amigos mais próximos. Flávio Bittencourt, em 27.10.2009
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"A MESTRINHO
Flávio A. L. Bittencourt, 19 e 20.7.2009
"Devo, não nego
Candidato ao Senado em 1998, depois de governar o Amazonas três vezes, Gilberto Mestrinho foi procurado por uma professora:
- Entrei para o Estado por suas mãos, depois o senhor pagou a passagem para meu marido se operar em São Paulo, deu uma bolsa ao meu filho...
Mestrinho começou a desconfiar da rebordosa. A mulher continuou:
- ...agora estou precisando de mais um favor: estou sem dinheiro.
- Não tenho - cortou o candidato.
- Dê um jeito, governador. Eu sei que lhe devo muito...
- Eu ajudo sempre que posso. Você mesma me disse que me deve muito...
- É verdade - arrematou a mulher - e quero lhe dever muito mais!".
"Jacaré
Jacaré em discussão. Um encontro de especialistas em crocodilos acontecerá em Manaus em setembro do próximo ano [2010]. A informação é da gerente de apoio à utilização de animais silvestres, Sônia Canto, da Secretaria de Produção Rural. Em 40 anos, essa é a primeira vez que o Brasil vai sediar o encontro – o XX Working Meeting of the Crocodile Specialist Group IUCN/SSC. Graças a uma decisão tomada no último encontro do grupo, realizado na Colômbia, de iniciativa da União Internacional da Conservação da Natureza (IUNC). De dois em dois anos,os maiores especialistas em crocodilos do mundo se reúnem nos países onde há jacarés, 'para discutir aspectos relacionados à conservação dos crocodilos e à apresentação de projetos'. No último encontro de especialistas, o Brasil não apresentou estudos nem dados sobre os animais existentes no seu território. Houve uma época em que Gilberto Mestrinho, três vezes governador do Estado, enfurecia os ecologistas ao defender a captura de jacarés, pela enorme quantidade e pelos ataques aos ribeirinhos. Ultimamente o governo do Estado propõe o manejo do jacaré. Será que Mestrinho não podia ser convidado?".
Raimundo Holanda, 7 de junho de 2009.
Alexis de Tocqueville, Da Democracia na América
"Na Amazônia, o rio comanda a vida".
Titulo jornalístico a partir do nome do livro O rio comanda a vida, de Leandro Tocantins. Agência Amazônia de Notícias, sob responsabilidade dos jornalistas Chico Araújo, Montezuma Cruz e Ana Maria Mejia, 7 de junho de 2009
AO PROFESSOR GILBERTO MESTRINHO (1928 - 2009),
ESTADISTA DO AMAZONAS
Trechos:
1)
http://www.claudiohumberto.com.br/colunas_anteriores/index.php?dia=19&mes=4&ano=2009.
2)
http://www.blogdoholanda.com/Articles/detail.asp?iData=692&iCat=658&iChannel=2&nChannel=Articles.
3)
http://cafeodisseia.blogspot.com/2009_01_01_archive.html,
não mencionado o nome do tradutor.
4)
Imagens:
1)
http://www.claudiohumberto.com.br/colunas_anteriores/index.php?dia=19&mes=4&ano=2009
(Charge de Enio).
2)
http://graomogol.zip.net/arch2009-03-15_2009-03-21.html
(Marca de camisas pólo Lacoste, antigamente La Chemise Lacoste, da empresa fundada em 1933 pelo célebre tenista francês René "Le Crocodile" Lacoste e o fabricante de gorros André Gillier).
3)
http://www.midiaindependente.org/eo/red/newswire/archive794.shtml
(Foto: Tenente Ribeiro Júnior discursando ao povo de Manaus durante a revolta de 1924).
4)
http://www.internext.com.br/valois/clic/clic11.htm
(Foto: Pescaria de currico no Lago do Salsa, região do Lago do Ayapuá, Baixo Purus, Município de Beruri, Estado do Amazonas).
5)
http://rogeliocasado.blogspot.com/2008_12_01_archive.html
(Foto: Gilberto Mestrinho, ao centro, cumprimenta Nivaldo de Lima, militante da luta antimanicomial no Amazonas. Foto extraída do Blog de Rogelio Casado)".
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ARTIGO
Um Crocodilo tenista na nova arca dos animais - Tributo ao amigo Gilberto Mestrinho
por Flávio Araujo Lima Bittencourt
Especial para o Entre-textos
Sob o forte impacto da infausta notícia da morte de Gilberto Mestrinho, editei, na noite de 19 para 20 de julho de 2009, mensagem com sequência de cinco ilustrações, para ser comunicada via e-mail, homenageando a memória do Boto Navegador ["A Mestrinho", e-mail acima transcrito]. Na “mensagem eletrônica” por mim elaborada e transmitida a amigos e parentes, foi inserida uma legenda sob cada imagem reproduzida: charge (uma), logo ou desenho de marca de fabricante de camisas de tênis (um) e fotografias localizadas em pesquisa feita na Internet (três fotos), uma delas, em branco e preto, de julho de 1924, na qual aparece Ribeiro Júnior discursando ao povo de Manaus.
Legenda "turbinada"
O presente artigo é a ampliação da segunda legenda, a respeito da marca registrada francesa, daquela comovida homenagem. A legenda original, sem os acréscimos informativos a seguir transmitidos, era a seguinte: “Marca de camisas pólo Lacoste, antigamente La Chemise Lacoste, da empresa fundada em 1933 pelo célebre tenista francês René ‘Le Crocodile’ Lacoste e o fabricante de gorros André Gillier”.
Passo à ampliação da legenda "Marca (...) Lacoste (...)", esclarecendo que ela está comprimida em apenas um parágrafo, uma vez que, como espécie de vitaminada – como se dizia antigamente – “nota de rodapé” ou, como agora se diz, turbinada, compreende-se assim a razão do diferente formato.
Jacaré francês que joga tênis
O logo das camisas pólo Lacoste, antigamente La Chemise Lacoste, é a marca da empresa fundada em 1933 pelo célebre tenista francês René "Le Crocodile" Lacoste e o fabricante de gorros André Gillier, proprietário da não menos famosa marca francesa Jil; desenho da marca: Robert George; fontes: http://www.fashionbubbles.com/2008/curiosidades-da-marca-lacoste; sobre René Lacoste: http://www.fondationrenelacoste.org/renelacoste_fr.html; sobre A. Gillier http://www.jil.fr/depuis-1929/notre-histoire/naissance-d_une-marque!!21; de acordo com o eminente historiador amazonense Mário Ypiranga Monteiro (1909 - 2004), em depoimento a Flávio Araujo Lima Bittencourt (fev./2002, na residência do pesquisador Ypiranga Monteiro, em Manaus), os muiraquitãs (pingentes de pedra verde: jadeíta, amazonita, quartzo, nefrita etc.), geralmente batraquiformes, que possuem, em média, de 2 a 4 cm de altura, miniesculturas da arqueologia monumental brasileira que eram usados atravessados por corda fina para que pendessem adornando o pescoço "muitas vezes tiveram a forma do sapo aru [sapo pipa] como modelo, sendo uma espécie de totem que se tornou amuleto (M. YPIRANGA MONTEIRO, 2002)". Os quitãs podiam representar, também, as formas de pássaros, peixes, lagartixas e assim por diante. No romance Macunaíma, de Mário de Andrade, publicado em 1928, a sua forma é, como se sabe, a de um jacaré. Em razão disso, F. A. L. Bittencourt, autor da dissertação de mestrado em Comunicação e Semiótica intitulada Marcas registradas (PUC-SP, 1991), considera que a configuração visual (desenho) da marca francesa Lacoste faz dela um "muiraquitã" marcário, ou seja, um quitã publicitário, e, a partir da referida conceituação de Ypiranga Monteiro ("O muiraquitã é um totem que se tornou amuleto"), não foi difícil chegar à conclusão de que, sob o viés semiótico/antropológico, a marca da camisa de tênis Lacoste é um totem que se tornou marca de fábrica (YPIRANGA MONTEIRO/BITTENCOURT); a idéia de um totem como marca (publicitária) de fantasia, na terminologia do Direito da Propriedade Industrial e da esfera administrativa federal do registro de marcas (INPI - Instituto Nacional da Propriedade Industrial, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, no caso brasileiro), remete às origens pré-históricas, vale dizer, do homem "primitivo e selvagem" (selvagem, mas nem tão primitivo...), tanto da propaganda contemporânea, quanto - processo cultural esse bastante anterior, aliás - do próprio fabular da cultura ocidental (criação de pequenas narrativas com animais e a "moral da estória"), por exemplo do grego Esopo, um escravo contador de estórias que compilou suas fábulas junto ao povo e reinventou o gênero, contribuindo para o estabelecimento de um dos mais significativos componentes do imaginário do Ocidente, fator que não foi estranho a grandes nomes como La Fontaine, Jacob & Wilhelm Grimm, Perrault, Andersen, Swift, Carroll, Joel Chandler Harris (Histórias do Tio Remo [Uncle Remus, His songs and His Sayings: The folk-Lore of the Old Plantation]), Francis Barraud (pintura, usada como marca registrada de RCA Victor, por Emile Berliner, inventor do gramofone), Lyman Frank Baum (O mágico de Oz), Kipling, Benjamin Rabier ("A vaca que ri": trademark design), Winsor McCay (Gertie, o dinossauro), Otto Messmer & Pat Sullivan (O gato Félix), Orwell, Monteiro Lobato, Walt Disney & Ub Iwerks (Ubbe Ert Iwwerks), Hergé (Popol e Virgínia), Walter Lantz (O Pica-Pau), Tex Avery & Ben Hardaway (Pernalonga), Anélio Lattini Filho (Sinfonia Amazônica), William Hanna & Joseph Barbera, Maria Clara Machado (O Boi e o Burro No Caminho de Belém, O cavalinho azul e outras peças teatrais que a imortalizaram), Charles Schulz (Snoopy), Millôr Fernandes, Ziraldo, Mauricio de Sousa (Horácio, o dinossauro), Robert Crumb (O gato Fritz), Adrino Aragão (A verdadeira festa no céu), Chico Buarque (Fazenda Modelo; adaptação de “Os músicos de Bremen” – ou “Os quatro heróis” –, dos Irmãos Grimm, a partir de versão de Luís Enriquez e Sergio Bardotti, intitulada Os saltimbancos) e muitos outros criadores. Há, também, os animais dos contos populares cujas origens estão em mitos indígenas, alguns, e africanos, outros. A clássica estória “A onça e o bode”, por exemplo, não foi criada, nem compilada, por Esopo, nem por La Fontaine. O continuado sucesso, no Brasil, por várias gerações, da peça infantil de teatro constituída pela adaptação de “A onça e o bode” (http://www.cabecadecuia.com/noticias/22032/espetaculo-infantil-a-onca-e-o-bode-encanta-escola-municipal-.html), não deixa de ser eloquente comprovação das potencialidades midiático-universais do ancestral totemismo (potencialidades, já se vê, até mesmo “pop/disnéicas” [“disnéico”: conceito atribuído ao pensador francês J. Baudrillard (1929 – 2007), cujo significado, teoricamente expandido, aproxima-se de “disneylândico”, ou seja, próprio da estética e dos valores do “mundo criado pelos Estúdios Disney”: versões atualizadas, em animação cinematográfica, de contos infantis, documentários sobre a vida animal, parques temáticos, estórias em quadrinhos, programas de televisão, espetáculos megacircenses (Disney on Parade Show), produção multimidiática voltada ao público infantil e infanto-juvenil etc.], ou seja, do show business propriamente dito, que abrangem a indústria cultural (artes e ofícios culturais do sistema capitalista de produção em fase avançada de desenvolvimento técnico e artístico). Tais transformações e adaptações de “antigos conteúdos temáticos” remetem às proezas comerciais e artísticas – artísticas “menores”, segundo o pensamento aristocrático e elitista que não admite as postulações sobre a cultura de massa emanadas de um Walter Benjamin, por exemplo – de um consumo vertiginoso (índices de audiência muito elevados) conseguidas, no Brasil, por uma espécie de “pop/folclorismo”, por exemplo, de Monteiro Lobato e seu personagem Jeca Tatu, pelas comédias musicais carnavalescas dirigidas por Watson Macedo e outros cineastas, pelos filmes de Amâncio Mazzaropi, pelas performances televisivas de Abelardo Chacrinha Barbosa, pelos resultados cênicos de extraordinários personagens oriundos da radiodramaturgia cômica do Brasil – “O primo rico e o primo pobre”, interpretados por Paulo Gracindo e Brandão Filho (Moacyr Augusto S. Brandão), respectivamente –, certos personagens imortais de Chico Anysio (o “coronel” Limoeiro e mais de duzentos personagens) e, bem antes, personagens do desenhista ítalo-brasileiro Angelo Agostini, como Nhô-Quim e Zé Caipora; no México, Cantinflas (Mario Moreno), Chaves (Roberto Bolaños) e assim por diante). Relevantes trabalhos de Frederico José de Santana-Nery (Barão de Santana-Nery), Sílvio Romero, Raimundo Morais (Raymundo Moraes), Osvaldo Orico, Gustavo Barroso, Câmara Cascudo, Nunes Pereira, Mário Ypiranga Monteiro e vários outros pesquisadores – não se mencionando outros etnólogos que se dedicaram aos mitos indígenas – ajudaram a que se consolidasse, no Brasil, a consciência da importância do estudo em profundidade estórias populares e suas origens. Como se fala aqui de caboclos do Amazonas (Mário Ypiranga Monteiro, Gilberto Mestrinho e também - como a região de uma das fotos acima reproduzidas, a do Lago do Salsa, pertenceu a Lourenço Mello (1854-1905) e sua senhora, Dª. Felicidade Mello - o citado, pelo escritor amazonense Rogel Samuel (nasc. em Manaus, em 1943), no Capítulo 13 de seu romance Teatro Amazonas (2008), "pequeno caboclo genial do Ayapuá [L. Mello]"), não é ocioso lembrar que a fabulação amazonense hoje percorre alguns livros do - também não menos genial – caboclo, também de Manaus, Adrino Aragão (nasc. em 1936), escritor que cultua no Brasil o gênero miniconto (e o microconto), que, segundo ele próprio, é "fábula, excluída a moral" (Cf. artigo de A. Aragão intitulado "Amazônia em Brasília", in Revista O Pioneiro - Século 21, nº 10, Brasília, 21 de abril de 2009, pp. 40-41, http://www.clubedospioneiros.org.br/revistas/revista_10.pdf; http://pt.wikipedia.org/wiki/Adrino_Arag%C3%A3o). A obra adriniana, a propósito, vem sendo investigada em profundidade pelo teórico da literatura Joaquim Branco, que, além de dissecar a obra de Adrino em tese de pós-doutoramento na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), tem publicado artigos concernentes na imprensa, por exemplo, no Jornal do Brasil, http://jbonline.terra.com.br/jb/papel/cadernob/2006/01/15/jorcab20060115006.html. Cabe acrescentar que, na história mundial do trademark design, a fama da marca Lacoste só encontra paralelo, em termos de "marcas totêmicas", no famoso desenho do acima citado desenhista francês Benjamin Rabier (1864 - 1939) da marca dos queijos La vache qui rit, http://www.allposters.com/-sp/Gruyeres-de-la-Vache-Qui-Rit-Posters_i1939368_.htm).
Referências bibliográficas
Para a elaboração deste pequeno artigo em homenagem à memória de Gilberto Mestrinho, a respeito do muiraquitãs foram consultados os seguintes trabalhos: o livro O muiraquitã e os ídolos simbólicos (1889), de João Barbosa Rodrigues; o livro As amazonas amerígenas, de Pablo Cid [Moacyr Rosas] (Rio de Janeiro: Bruno Buccini Editor, 1971), http://historiadosamantes.blogspot.com/2009/01/pablo-cid-as-amazonas-amergenas.html; o verbete 'Icamiabas' do portal enciclopédico Wikia, http://pt.fantasia.wikia.com/wiki/Icamiabas; o livro Arqueologia Brasileira, de André Prous (Brasília, Editora da UnB, 1990); e, por fim, o artigo científico de COSTA, M. L., MEIRELLES, A.C.R, ANGÉLICA, R.S e PÖLLMANN,H., "Muyrakytã ou Muiraquitã: um talismã arqueológico em jade procedente da Amazônia: aspectos físicos, mineralogia, composição química e sua importância etnogeológica" (Acta Amazonica, v. 32, p. 431-448, 2002), http://acta.inpa.gov.br/fasciculos/32-3/PDF/v32n3a08.pdf).
Brasília, 25 a 29 de julho de 2009.