Segurança e saúde: os vilões nacionais
Por Cunha e Silva Filho Em: 02/05/2012, às 07H52
“A Arte fala a verdade”
Lima Barreto, “Prefácio” a Os Bruzundangas
Cunha e Silva Filho
A grã-finagem brasileira, como os reis nus, não querem ver cenas horripilantes, noticiários de matanças, estupros, esfacelamento familiar, pobreza, os vícios os mais diversos, reportagens sobre sequestros, tráficos de droga, prostituição de menores, maus tratos de policiais ou notícias sobre policiais que sabem cumprir o dever e têm consciência do que fazem para o bem da população. O caldeirão de notícias é prato variado e nele cabe tudo: o bom e o lado mau da vida brasileira contemporânea. Esse tipo de jornalismo é injustamente tachado de imprensa marrom, sensacionalista.
Não sabem, no entanto, os que o criticam que esse é o termômetro, quer queira , quer não, que define com precisão cirúrgica o cotidiano de nosso país. Sociólogos, antropólogos, políticos em geral que não se dão ao trabalho de assistir a tais notícias e, ao contrário ,só importância dão às estatísticas oficiais e a resumos de auxiliares que filtram apenas o que interessa às autoridades públicas, não conseguirão radiograr o Brasil social, o pais e suas mazelas, suas injustiças, suas impunidades. Inclusive aqui vai uma sugestão também dirigida aos nossos governantes, i.e., a prefeitos, governadores e presidentes da República: vejam esses programas que, em alguns canais não-burgueses, diariamente se especializaram nesse tipo de jornalismo marginal (atente-se: não marginalizado). Seria aí que encontrariam ideias fecundas para que alterássemos esse estado constante de um país paralelo, não divulgado no exterior e que mostra dois grandes problemas gravíssimos : a violência e a saúde pública.
A imprensa televisiva, mesmo a injustamente chamada sensacionalista para os olhos da burguesia, a meu ver, serve de valiosa amostra dos magnos problemas nacionais e, no caso particular, nos setores públicos da segurança e da saúde.. Não adiantam as propagandas pagas pelos governos municipal, estadual e federal a fim de elducorarem uma realidade que não desejam seja vista por todos os segmentos sociais. Agindo assim, só estarão contribuindo para a degenerescência dos aflitivos males sociais que campeiam pela país afora e são mais agudos nas metrópoles brasileiras.
A população brasileira está gritando por uma polícia que esteja ao lado dela e não como inimiga. A seleção de novos policiais civis, militares está inadequada e longe de escolher jovens com bons princípios e comportamento louvável.
Os hospitais, da mesma forma, estão ausentes no atendimento de contingentes menos favorecidos da nossa sociedade. Instituições recém-criadas no Rio de Janeiro com as chamadas UPAs não estão dando bons exemplos ao povo carioca quando se constata que em muitas unidades delas não existem médicos para os principais setores da medicina. Os salários de policiais, bombeiros, polícias civis, de delegados, de médicos e de todos os quadros auxiliares e administrativos desses setores são vergonhosamente baixos a tal ponto que os profissionias abandonam o emprego e vão procurar outras atividades que lhes deem maior conforto familiar e uma vida digna. Na realidade, o quadro nos dois setores é tão aflitivo que a escalada da violência ganha terreno e já está incomodando a alta burguesia, só faltando a escala mais alta da pirâmide social, os milionários ou multimilionários. São Paulo e os seus bairros mais elegantes que o digam, assim como o Rio de Janeiro e seus bairros mais requintados.
O país não precisa só de sociólogos de gabinetes e a serviço da burguesia e da cooptação ao status quo. Da mesma forma, os economistas e outras categorias de profissionais. Todos parecem estar distantes da realidade chã e simples da vida brasileira. Acorde, gente. Deixemos de ser macunaímicos e afastemos de nós a situação de bruzundangas.
Não só de erudição, de curso de pós-doutorado na Europa e nos EUA, países tão distantes das condições de nossos contextos tupiniquins, se fazem as avaliações, as análises vivas e profundas fincadas no matéria bruta que a dinâmica da vida social e cultural no país exige com urgência e firmeza. Deixem o ilusionismo realista de lado. Fiquemos com o distanciamento necessário à desalienação de nosso povo, afundado que está na escuridão da ignorância, no desconhecimento dos seus direitos e obrigações e na extrema penúria de reflexão crítica.