SALIPI Revive a Grécia Antiga

José Maria Vasconcelos

Contemplando multidão de crianças, jovens e adultos, entretidos com livros, dvds, pinturas e espetáculos artísticos, palestras e debates, em plena e romântica Praça Pedro II, deportei-me no tempo. Fui esbarrar na Grécia, onde me perdi, encantado, observando, de perto, longe da minha Teresina, a grandiosidade da cultura helênica de quase três milênios atrás. Sobraram restos de templos, anfiteatros, esculturas de perfeição fotográfica e sensual. Visitei a Grécia, berço da democracia, pedagogia (paideia), ciências, filosofia, esportes, disciplina, cidadania, matemática, artes em geral, arquitetura, categorias gramaticais, gêneros literários, enfim, a formação do espírito sadio em corpo sadio, ateniense ou espartano. Senti Aristóteles agrupando estudantes em praça pública, ensinando-lhes a filosofar. Por isso, nasceram as palavras Liceu e Ginásio, cujos radicais gregos lembram conhecimentos em logradouros. Lembrei-me de um pintor grego que costumava expor seus quadros em praça e se escondia entre as plantas, a fim de escutar as críticas dos curiosos. O sapateiro criticou-lhe o feitio das sandálias; à noite, o pintor corrigiu a falha. Dia seguinte, o sapateiro ousou censurar as roupas da tela. O pintor danou-se, saiu do esconderijo e gritou: " Sapateiro, não vás além das sandálias!" Aí nasceu famoso provérbio aos que críticam sem conhecimento do assunto.


O Salão do Livro do Piauí revive esse momento de ginásio ou liceu grego, até mais aprimorado, com recursos tecnológicos, anos luz à frente dos gregos ancestrais. Na Antiguidade, o ato de ler cabia a privilegiados da nobreza. Quem sabia escrever - eram poucos os escribas - ingressava na elite e palácios, eram festejados. O pergaminho custava o preço de uma fazenda ou casa, pois exigia muito couro e talento. Hoje, por merrecas, estudantes navegam na internet do infinito, aprendem até o que não presta. Encontram-se livros a preços convidativos ou distribuídos pelo governo. Cultura é alimento de todos.


Depois da descoberta da imprensa, socializou-se a cultura, abriram-se academias e universidades, eclodiram novas ideias, detonoram regimes, a Igreja se dividiu, avançaram as ciências, curaram-se doenças, inclusive da burrice e submissão ideológica.


Um evento da especialidade do Salipi sacode os sentimentos de quem almeja sair da mesmice, e se propõe a pensar alto, botar para funcionar as mais nobres faculdades do espírito humano: inteligência e razão. A galera, mais do que os adultos, precisa beber de fontes mais saudáveis, diante de tanta mediocridade que lhe rouba preciosas horas de estudo.


Lamento a apagada presença das academias de letras, no Salipi, mais precupadas com o chazinho das vaidades e elogios mútuos do com que exibição de talento. Merece aplausos o apoio dos meios de comunicação, dos órgãos públicos e empresas. Sugiro ao prefeito Elmano, que demonstra interesse de dignificar o mandato com obras, criar um planetário, no próximo Salipi, para que a estudantada mergulhe no universo sideral, através das imagens virtuais. Visitei o planetário de Fortaleza, morri de inveja da falta em Teresina. Quem sabe, nos próximos Salipis, eu não mais retorne a Atenas, para ver o que se repete em minha terra.

(*) José Maria Vasconcelos - cronista - [email protected]