Roubalheiras tremendas no estado do AM, Brasil
Por Flávio Bittencourt Em: 20/03/2014, às 15H37
[Flávio Bittencourt]
Roubalheiras tremendas no estado do AM, Brasil
Há mais de cem anos houve essa prática, infelizmente; já hoje - e isso é ótimo - não mais há!
ESCUDO DO IGHA -
EMBLEMA DE INSTITUTO CIENTÍFICO QUE
FOI, EM MANAUS, POR VÁRIOS ANOS,
PRESIDIDO POR UMA DAS FIGURAS
DA HISTÓRIA DO AMAZONAS (Brasil),
CITADAS POR M. Y. MONTEIRO:
AGNELLO BITTENCOURT, O
VERDADEIRO AUTOR DO LIVRO
PANFLETÁRIO ENFOCADO
PELO SÁBIO YPIRANGA MONTEIRO,
NO ARTIGO ADIANTE TRANSCRITO:
UMA FAMOSA OLIGARQUIA BARÉ: OS NERY, na foto
com "desinteressados" amigos:
"MARACUTAIAS SEMPRE HOUVE,
A QUESTÃO É ACHAR A PESSOA HONESTA, SEMPRE!"
(COLUNA Recontando...)
"HOJE, HÁ HONESTIDADE NO AMAZONAS, NA PREFEITURA E NO GABINETE DO GOVERNADOR;
aqui a referência é a algo acontecido há 110 anos e 'adjacências temporais'; aliás, quando o Dr. Paulo Nery, da A. A. L. e infelizmente já falecido, foi chefe de Poder Executivo no Amazonas (Brasil), não houve um centavo roubado, naquela pujante capital nortista, a da Zona Franca e do Teatro Amazonas: Manaus!"
(COLUNA Recontando...)
A Crítica, Manaus/AM -
Domingo, 3/3/2002, Caderno "Bem Viver", pág. B-3
O VERDADEIRO AUTOR DO PANFLETO
(*) Mário Ypiranga Monteiro
Quando o coronel Antônio Clemente Ribeiro Bittencourt foi eleito governador do Amazonas, encontrou no Tesouro Público apenas a importância de 17 mil réis - mais ou menos, hoje, a mesma quantia em Real. Foi, portanto, com essa magra importância, deixada pelo coronel Constantino Nery, que o mago das finanças conseguiu estabilizar o crédito público entregue aos cambalachos de uma política de exclusão, fechando as mãos aos gastos supérfulos, negando-se a ajudar companhias dramáticas, com o que arranjou inimigos em todas as camadas sociais. Naturalmente, inimigos que constituíam a corriola dos descontentes, no caso representados pela oligarquia Nery.
Existe um certo mistério no aparecimento do livro anônimo "São eles os ladrões", atribuido ao jornalista da oposição Victor Hugo Aranha, livro que ataca vigorosomente a dinastia dos Nery, exibindo documentos das grossas bandalheiras daquelas administrações, fatos que chegaram a preocupar o Governo Federal.
Conciliando a verdade com o interesse histórico-político o livro (artigos publicados no jornal "Diário do Amazonas") não poderia ser, em hipótese alguma, da lavra do jornalista marginado. Isto porque ele foi escorraçado de Manaus (levou uma reboldosa) pela policia do governador Bittencourt. Na luta política de entre-século (1892-1910) o Nery Constantino salientou-se como fautor de mazorcas. Primeiro, contra o governador Dr. Eduardo Ribeiro, comprometendo a pessoa do general Geógrafo de Castro Silva, comandante militar no Amazonas e pessoa de ânimo inconstante e fácil de [faltou o vocábulo 'SER', aqui; FALHA DE REVISÃO DO CONCEITUADO JORNAL BARÉ: O AUTOR JÁ TINHA 93 ANOS OU QUASE ISSO, mas não houve outras lacunas, como essa; o texto é cerradamente erudito...] dirigido. E, em 1910 contra o governador Bittencourt, arrastando na sua aleivosa pertinácia o capitão dos portos de Manaus, Costa Mendes, que usou de sua influência para bombardear a cidade, causando numerosas vítimas. Em todas essas e outras convulsões políticas saiu ele perdendo e desmoralizado porque em ambos movimentos o Governo Federal (primeiro com Floriano Peixoto depois com o Dr. Afonso Pena) confirmaria o mandato constitucional dos combatidos, empossando-os.
O ódio da família Nery pela família Bittencourt não arrefeceu, mas o professor Agnello Bittencourt, no julgamento que faz das administrações dos Nery não alude aos desmandos da "porta" por onde escoavam para os bolsos dos apaniguados verdadeiras fortunas. Isto na biografia publicada no livro recente "Dicionário amazonense de biografias - Vultos do passado", páginas 170-172, 458-462.
O professor Agnello Bittencourt era um cidadão austero, respeitado, educador da velha guarda, deixou de estender-se sobre as psicologias dos adversários, talvez por escrúpulo, pois ainda viviam descendentes na pessoa do Dr. Júlio Nery, marido da professora Magnólia Ramalho, ambos falecidos. Se ele teve realmente condições de fazê-lo no livro de referência, "São eles os ladrões", é porque se tratavam de situações imediatas. Dizem que a idade traz a complacência e, ao publicar o livro de biografias, estava ele já muito distante da era dos oligarcas. Isto é sensatez. Mas sempre ouvi dizer ao filho Dr. Ulysses que havia um memorial que só poderia ser publicado após trinta anos de sua morte, ocorrida em 1975.
Eu fui aluno do professor Agnello Bittencourt durante os seis anos que cursei o Ginásio Amazonense e nunca jamais o vi chamando a atenção de algum aluno por qualquer falta que fosse. Ele não ria nem profligava defeitos de ninguém. Fazia-se respeitar pela austeridade, pelo exemplo doméstico, pelos conceitos emitidos na cátedra e fora dela. Por isso mesmo fiquei admirado, e reconhecido, quando seu neto, Dr. Flávio Bittencourt, fez-me a revelação que é tema deste artigo oportuno. E adiantou mais, que antecipara de três anos a revelação desse "segredo de estado" familiar, como homenagem à passagem dos meus 93 anos de idade, a fim de, sob o beneplácito da família Bittencourt, conciliar a verdade com a história. A revelação fora colhida da boca do Dr. Ulysses Bittencourt, filho do professor Agnello e pai do Dr. Flávio e de seus tios.
O panfleto marginado [LIVRO DE AUTOR ANTES DESCONHECIDO, MARGINADO, OBRA CITADA NO TÍTULO DESTE ARTIGO - F. B.] foi escrito e publicado em 1912, contendo 31 artigos de ataque às administrações Nery (Silvério e Constantino), num estilo equilibrado, sem objurgatórias, mas com documentação cerrada, em algarismos arábicos incontestáveis, pois foram colhidos no próprio erário público. Uma vergonheira de ratazanas famelgas. Esse livro põe a nu toda a realidade administrativa dos Silvérios e dos Constantinos, ao ponto de deixar embasbacado ao próprio presidente da República, Dr. Afonso Pena.
Para ter-se uma idéia do que foram, por exemplo, os gastos com as "homenagens ao visitante", ele estarreceu-se quando viu o exorbitante numerário de 285:500$000 réis, quando o visitante, ao chegar a Manaus, declarou prescindir de homenagens porque estava de luto e portanto não se verificou o banquete.
O palacete Silvério Nery, à avenida de Joaquim Nabuco esquina com Andradas, custou lágrimas de uma viúva, como custaria lágrimas de desespero a um miserável agricultor a fazenda de gado em Amatari. O Constantino não chegou a gozar as delícias do seu monumental palacete da Vila Municipal, que acabou somente com as quatro paredes nuas. Em todo o caso, este ainda deixou obras de vulto em Manaus, enquanto o mano [Silvério Nery] só fez destruir a fazenda alheia a fim de locupletar-se com os frutos.
(*) O autor é historiador e escritor de inúmeras obras de relevância histórica para o Estado do Amazonas.
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CONSTA, NO SITE DA SECRETARIA DE CULTURA DO AM:
Silvério José Nery [O PAI DE 2 GOVERNADORES,
SILVÉRIO E CONSTANTINO, QUE "FORAM", DE ACORDO
COM O LIVRO PANFLETÁRIO SOB EXAME,
"OS LADRÕES"] –
O Patriarca ( Roberto Mendonça )
Não deve ser confundido com seu filho homônimo. Para distingui-los, optei por designar de major Nery o homenageado nesta Memória. Quanto ao descendente, pelo nome completo, lembrando que o mesmo se demitiu do Exército, sendo oficial, para ingressar na política amazonense, tendo exercido, entre outros cargos, a chefia do Poder Executivo (19000-04). O major Nery nasceu na Província do Para, no ano de 1818, filho do capitão Marcelino José Nery (combatente contra a República paraguaia, segundo anotações provinciais, sobre as quais refiro-me adiante) e de Maria Madalena dos Prazeres.Assenta praça no Exército na cidade de Belém, no dia 20 de junho de 1836, quando possuía dezoito anos de idade e media sessenta e meia polegadas de altura (c.1m 67). Dedica-se com afinco à atividade militar, em razão do qual alcança o oficialato, com a promoção a alferes, em 20 de agosto de 1853. Em virtude dessa ascensão hierárquica, o comando o transfere para a recém-instalada Guarnição da Província do Amazonas.
Na capital amazonense constitui família, ao matrimoniar-se, em 22 de julho de 1857, com Maria Antony (cujos irmãos Luiz e Henrique – falecidos na Guerra do Paraguai, têm seus nomes memorizados em ruas do Centro Histórico de Manaus). Deste casamento, nasce uma dezena de filhos (unicamente uma mulher – Rosa Benedita), dos quais, dois – Silvério (1900-04) e Constantino (1904-07) – governam o Estado.Todavia, nascidos ainda em Belém, convém registrar dois outros filhos de Nery: Ângela Nery e Frederico de Sant’Anna Nery, o barão do mesmo sobrenome. Ainda discorrendo sobre sua descendência, e somente observando-se o local de nascimento dos filhos, pode-se inferir que sua família esteve onde o major Nery serviu por obrigação profissional. Assim, nascem, em Coari, Silvério, e, no Forte de Tabatinga, Rosa e Henrique. Nunca é demais assinalar que os outros descendentes exerceram o Poder Executivo, seus netos Júlio José Nery (1946) e Paulo Pinto Nery (1982-83). O patriarca legou à sociedade amazonense uma numerosa e memorável linhagem, cuja atividade político-social ao longo de um sesquicentenário ainda é capaz de excitar entre, os admiradores e os desafetos, uma permanente e estimulante contenda.
Em 2 de dezembro de 1860 é promovido ao posto de tenente. Com a eclosão da Guerra do Paraguai (1865) alista-se voluntariamente e participa daquele conflito armado. Ainda no campo de batalha, em 1º de junho de 1867, alcança o posto de capitão. Mas ferido por tiro de arma de fogo, adquiriu uma “anquilose no joelho direito”, o que lhe impedia a “locomoção ativa” (termos de sua inspeção de saúde).
Ambos, Marcelino e Silvério, estiveram engajados a combater contra o Paraguai? Anotam em favor do genitor o professor Arthur Reis, em História do Amazonas (1932), e Bento Aranha, no Archivo do Amazonas. Estimando que Marcelino tenha nascido em 1798, julgo que a idade o impediu de combater aos paraguaios, pois deveria ter, quando do início da campanha cerca de 67 anos. Quanto a Silvério,nenhuma incerteza prospera. Sua Fé de Ofício, expedida pela guarnição local, é bastante explícita. Tanto que submetido a Inspeção de saúde, em 21 de janeiro de 1869, pelo Dr. Antônio David de Vasconcelos Canavarro, assim o médico da Guarnição expressa seu diagnóstico: paralisação parcial na extremidade superior da perna direita, junto a articulação da coxa, proveniente de ferimento que sofreu no Paraguai. Hepatite crônica. – Acha-se em tratamento em casa, nesta capital (Manaus). Dessa maneira, gravado com as seqüelas de ferimentos recebidos em combate, foi reformado no posto de major, por decreto de 30 de novembro de 1871.
O major Nery sempre buscou para seus descendentes, notadamente para Silvério e Constantino, os benefícios da legislação militar vigente. Em Manaus, os jovens concluíram o ensino básico, estudando no Seminário de São José, a primeira escola secundária da cidade. Em 1873, aos quinze anos, o filho Silvério ingressa no Exército. No ano seguinte, embarca para a capital da Corte, onde foi matriculado na Escola Militar. Constantino, também seminarista, deve ter seguido os mesmos passos do irmão na caserna. Concluído o curso militar, em 17/09/1879, Silvério foi “promovido ao posto de segundo tenente para a Arma de Artilharia” e designado para servir no 3º Batalhão de Artilharia. Desembarca na Capital da Província em meados de 1880, quando assume, em 25/5, o comando da sexta Bateria. Seu irmão Constantino, ao concluir o curso de engenheiro militar, passa a servir na guarnição de Belém. Fácil notar, mas o tenente Silvério retorna a Manaus, depois que o patriarca havia falecido. Certamente coube a este a iniciativa de viabilizar o progresso dos irmãos, afinal alcançado. Também se sabe que o mesmo se demitiu do Exército para ingressar na Política amazonense,onde conquistou a chefia do Poder Estadual, em todos os sentidos. Autêntico cacique baré, exerceu este caciquismo político por longo tempo, até 23 de junho de 1934, data de sua , morte.
A despeito de reformado, o major Nery ainda assim foi aproveitado pelo Exército no comando do 3º Batalhão de Artilharia a pé, sediado em Manaus, no ano de 1875. Tal era a dificuldade do governo provincial em dispor de oficiais na Guarnição. Já no ano anterior, exercera a função de Delegado de Polícia da Capital, conforme nos cientifica o presidente da Província, Domingos Monteiro Peixoto, na Fala dirigida à Assembléia Provincial, em 25 de março de 1874.
Enuncio ainda a colaboração do major Nery na instalação da primeira loja maçônica da Cidade “Esperança e Povir”, em 6 de outubro de 1872. A iniciativa coube a Leopoldo Francisco da Silva, tenente honorário, contando com a colaboração do mencionado, entre outros. Desta parceria assinalo dois aspectos singulares:ambos pertenciam ao Exército, e hoje posam na galeria dos ex- comandantes da força militar estadual. As atividades bem sucedidas do major Nery estão a reclamar mais que esta acanhada resenha. Melhor seria uma biografia, que enfeixasse os trabalhos deste e especialmente os de seus descendentes.
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Fontes:
1. BITTENCOURT, Agnello (1973). Dicionário Amazonense de Biografias – Vultos do Passado. Rio de Janeiro: Conquista.
2. BRAGA, Robério dos Santos Pereira (1999). Senadores do Amazonas: 1890-1930. Manaus: Fundação Lourenço Braga.
3. REIS, Arthur Cezar Ferreira Reis (1931). História do Amazonas. Manaus: Imprensa Oficial.
4. VALLE, Rodolpho Guimarães. Sobre a Maçonaria... Manaus: Imprensa Oficial.
5. Archivos do Amazonas – Bento Aranha."
(http://www.bv.am.gov.br/portal/conteudo/serie_memoria/00101_silverio.php)